Para os que já conhecem a realizadora e roteirista francesa Mia Hansen-Løve (38 anos, 6 longas e uma sétima prevista para 2020), será mais fácil de embarcar no universo de “Maya”, que entra em cartaz nesta quinta-feira (10). O filme tem dois fios condutores: a guerra – um jornalista que arrisca sua vida em países em conflito – e o amor – do tipo platónico. Deste último, a cineasta já tem alguma experiência.
“Maya” é uma variação da temática “romance de verão”, aquele que é breve porém marcante, como já retratado em “Um Amor de Juventude”, de 2011. É autobiográfico pois Hansen-Løve já declarou em entrevistas ter sofrido ao se apaixonar por um homem mais velho quando ela era adolescente: “Eu pensei que ele seria o único que eu poderia amar, e quando se foi, deixou um vazio em mim”, disse aqui ao “Guardian”.
Nessa nova longa, o actor Roman Kolinka, na sua 3ª colaboração com Hansen-Løve, interpreta o repórter de guerra Gabriel, de 32 anos, que passou pelo trauma de ter sido feito refém por quatro meses na Síria. Repatriado para uma Paris fria e chuvosa, ele é homenageado pelo governo francês e recebido por família e amigos. “Eu não quero ser a vítima que carrega seu trauma para sempre”, diz ele a um psicanalista, embora os hematomas ainda estejam visíveis. Gabriel decide ir à Índia, onde mais tarde descobrimos que ele viveu até aos sete anos com sua mãe (Johanna ter Steege), que ainda mora lá, tem outra família, e dirige uma ONG em Mumbai.
A ensolarada Goa, famosa por suas praias, é a escolha para a busca pela paz interior de Gabriel. Lá, ele quer encontrar suas raízes, mas acaba por conhecer Maya (a estreante Aarshi Banerjee), a filha de 17 anos de seu padrinho, dono de um hotel de luxo (a trama se concentra em círculos sociais bem privilegiados).
O primeiro equívoco do enredo é a questão da jornada do homem europeu colonizador que cede à “sedução” da jovem indiana, uma visão muito eurocêntrica. Outra decepção é que, apesar de ser um filme sobre múltiplos sentimentos, Gabriel não demonstra muitas emoções em nenhum momento, nem no clímax. O actor transparece ter assumido um personagem complexo demais para ele.Um terceiro problema é que a personagem-título é mal desenvolvida, afinal, a diferença de idade entre eles também é uma controvérsia. O filme não dá a impressão de que Maya e Gabriel estão fazendo bem um ao outro, ou de que eles realmente querem estar juntos.
Assim, “Maya” fica aquém da filmografia da realizadora, que é uma das mais interessantes da actualidade. Se calhar o filme ficaria melhor se visto como um diário de viagem de um francês pela Índia, mas daí se chamaria “Gabriel”.