Escrito e dirigido pelo estadunidense Lee Isaac Chung, “Minari” estreia nesta quinta-feira (13) nos cinemas portugueses. Este não é o trabalho de estreia do realizador, porém é o primeiro dele que ganha grande destaque, com boa distribuição internacional e reconhecimento em várias premiações. Também é a primeira vez em que ele aborda cinematográficamente um tema tão íntimo dele, inspirando-se na sua infância ao crescer em uma fazenda no interior dos Estados Unidos, na década de 1980.
A maneira como Chung recria essa atmosfera de quase 40 anos atrás é absolutamente incrível, sensível, comovente e muitos outros adjetivos do tipo. Não só pela cinematografia, com cenas oníricas, iluminadas pela luz do sol, que reconstroem memórias de uma criança, nem somente pela banda sonora de Emile Mosseri, mas principalmente pela escalação de seus atores.
O filme inicia com a chegada ao Arkansas de uma família coreana que morava na Califórnia. Eles buscam um segundo novo recomeço durante a era Reagan. O actor Steven Yeun (de “Em Chamas” e “Desculpe te incomodar”) vive Jacob, o pai. Após anos a juntar algum dinheiro numa fábrica, verificando o sexo de milhares de filhotes de frango por dia (as fêmeas são mantidas para ovos e carne; os machos são descartados), ele decide seguir o sonho de ter um negócio próprio. Quantas vezes temos a chance de poder recomeçar? Alguns têm essa chance mais que outros?
Jacob começa a cultivar a terra que comprou com vegetais coreanos para vender aos muitos imigrantes nos EUA que anseiam por um gostinho que lembre o país natal. Mas Monica, sua esposa, interpretada por Han Ye-ri (conhecida pela série de TV “Hello, My Twenties!”) está decepcionada desde o princípio com essa escolha de vida difícil que ele lhe deu – para ela, não foi bem uma escolha.
Seus dois filhos, a mais velha Anne (Noel Cho) e o caçula David (o excelente Alan Kim), passam o tempo todo ali meio perdidos, numa casa apertada com um jardim imenso, entre as brigas dos pais. Até que entra em cena a avó! Monica convence Jacob a deixar sua mãe vir da Coreia do Sul para morar com eles, principalmente para ajudar a cuidar das crianças, mas porque Monica sente a falta de uma companhia adulta que não seja o marido.
Ícone do cinema sul-coreano, a actriz Youn Yuh-jung (“A Empregada”) está maravilhosa no papel da avó que traz em sua mala sementes de minari – uma erva comestível coreana – e que caçoa toda hora do neto. A relação entre os dois é a protagonista deste drama familiar. Essa dinâmica de gerações tão distintas será determinante para o que virá depois na trama. Poucos filmes estadunidenses aprofundam esse tema, sendo “A Despedida” (2019) – uma coprodução chinesa – um dos melhores entre os mais recentes.
Como na vida real, as coisas que estavam indo um pouco bem começam a dar muito errado. Inevitavelmente, Jacob enfrenta dificuldades com a sua plantação e nós, espectadores, o vemos a trabalhar além do normal e a sofrer em relação ao dinheiro. Jacob fez uma promessa a sua família e está a frustrar-se enquanto macho. Ele não quer ser descartado, como os pintinhos machos da fábrica, mas vê isso como uma possibilidade perante a situação de perda de controlo.
A experiência asiática-americana ainda permanece amplamente sub-representada em Hollywood. Youn Yuh-jung, de 73 anos, é apenas a segunda actriz asiática – e a primeira de seu país – a ganhar o Óscar. Antes dela, a única asiática premiada tinha sido a japonesa naturalizada americana Miyoshi Umeki, por “Sayonara”, no ano de 1957.
“Minari” é uma história cheia de metáforas, fé, resistência à assimilação cultural, com alguns toques de comédia e outros tantos de esperança. A família de imigrantes retratada é como as plantas minari do título, capaz de prosperar até mesmo no terreno mais improvável. Que essa metáfora sirva também para a indústria cinematográfica norte-americana.