A 20.ª edição da MONSTRA Festival de Animação de Lisboa está a ser realizada online depois do seu adiamento em março, devido à pandemia da COVID-19. Entre 25 e 31 de maio, a #MONSTRAemCASA, como passou a ser chamada a competição online, permite aceder às curtas-metragens da competição de curtas, competição de estudantes, competição de curtíssimas e a competição portuguesa.
A primeira sessão da competição de curtas (de um total de 5 sessões) inclui as seguintes curtas-metragens:
Seleção Natural, de Aleta Rajič (10’/Bósnia/2019)
Num universo em que os habitantes têm corpo humano, mas cabeças de animais, uma mulher-veado trabalha num museu. Todos os dias, ela e os seus colegas veados ficam pendurados numa parede, apenas com a sua cabeça visível (a sua parte animal), funcionando como peças vivas de uma exposição. A mulher que o filme segue vive num ciclo de monotonia e melancolia, onde age como um ser humano normal: limpa a casa, cozinha, aspira, etc. O mais interessante no filme é como a mulher tenta suprimir os seus ímpetos animalescos, que a sociedade humanizada em que vive reprime.
Nota: 4/5
Mancha, de Donato Sansone (5’/França/2018)
Uma das curtas da primeira sessão que mais salta à vista pelo seu estilo de animação. Misturando elementos live-action e de animação, a história vai sendo contada através de uma sequência de pinturas quase estáticas. Cada pincelada faz avançar a narrativa que, em apenas 5 minutos, não tem muito tempo para ser desenvolvida. Ainda assim, consegue impressionar pelo estilo e criatividade, começando tudo com uma mancha na tela, que dá o título à obra.
Nota: 4/5
Assim Mas Sem Ser Assim, de Pedro Brito (10’/Portugal/2019)
A única presença nacional na primeira sessão da competição de curtas. Baseada na obra homónima do escritor Afonso Cruz, “Assim Mas Sem Ser Assim” retrata uma curta história de um rapaz incentivado pelo pai a sair um pouco de casa e conhecer os vizinhos, para não se tornar “misantropo”. É não só a curta-metragem com maior incidência em diálogos (das poucas que não o usa apenas como narração), mas também aquela que mais poderá ser direcionada para público de qualquer idade.
Nota: 4/5
Lua Azul, de Charlotte Dossogne (4’/Bélgica/2018)
A 13 de maio de 1988, Chet Baker é encontrado morto na estrada, após indícios de ter caído do seu quarto do Hotel Prins Hendrik, em Amesterdão. Em menos de 4 minutos, “Lua Azul” imagina a última noite do lendário músico de jazz, numa curta sem diálogos, apenas com a música de Chet Baker. Contudo, no filme Baker não morre de uma queda, mas sim de uma ascensão. A ascensão para a imortalidade que lhe foi dada pela sua música.
Nota: 3/5
Amor Profundo, de Mykyta Lyskov (14’/Ucrânia/2019)
A curta-metragem “Amor Profundo” joga particularmente bem com a ironia e com a crítica social. Faz um retrato do absurdo da condição humana de uma forma que consegue ser restrita a um local (neste caso, à Ucrânia), mas que não deixa de poder ser apreciada por qualquer um. É uma das curtas sem diálogos (tal como a maioria), mas a sua narrativa faz-se através do simbolismo e da alegoria, ajudada pelo quase bizarro estilo de animação.
Nota: 5/5
Paralelos em Séries, de Max Hattler (9’/Hong Kong/2019)
“Paralelos em Série” pode ser encaixada na categoria experimental, dada a sua falta de narrativa no sentido mais comum do termo. Usando imagens fotográficas de edifícios de Hong Kong e usando técnicas de animação, é aplicado um movimento ótico no sentido vertical ao longo de todo o filme. É uma curta-metragem hipnótica, que não deixa ao espectador muitas opções que não sejam a de se deixar levar pela experiência quase meditativa.
Nota: 4/5
Sonhos Ilustrados, de Koji Yamamura (10’/Japão/2019)
“Sonhos Ilustrados” é uma homenagem ao artista japonês Kuwagata Keisai, que viveu nos séculos 17 e 18. Keisai ficou particularmente conhecido por um conjunto de livros onde desenhava animais, com um estilo muito próprio e expressivo. A curta-metragem é realizada por Koji Yamamura, um dos autores mais premiados da sessão, tendo sido inclusivamente já nomeado para um Óscar de curta-metragem de animação. Em “Sonhos Ilustrados” tenta retratar um pequeno episódio da vida de Keisai, usando como base para a animação o estilo dos seus desenhos. Acaba por ser uma curta que tenta ser um desenho em movimento, uma das principais características das obras de Kuwagata Keisai.
Nota: 3/5
O Malabarista, de Skirmanta Jakaité (11’/Lituânia e França/2019)
“O Malabarista” é mais do que uma obra difícil de se ver, é uma obra difícil de ser avaliada. A forma como é estruturada desafia as convenções mais comuns das práticas narrativas. Ainda assim, constitui-se como uma das experiências mais imersivas, com uma grande expressividade e um estilo de animação mais sombrio que qualquer um dos restantes filmes. Uma curta-metragem para entreter, mas também para refletir.
Nota: 4/5
Lah Gah, de Cécile Brun (7’/China/2019)
“Lah Gah” apresenta-se como uma memória da infância: simples, mas cheia de significado. Uma rapariga e o seu pai partilham momentos de união enquanto cozinham e cantam. Embora seja um momento recordado com ternura, as memórias acabam por ser arrastadas pela realidade, por um sentimento de perda e de luto. “Lah Gah” transparece como um filme muito pessoal, ainda que os sentimentos retratados possam ser sentidos por qualquer um.
Nota: 3/5