O C7A continua a sua cobertura da #MONSTRAemCASA. As curtas da segunda sessão da competição de curtas são as seguintes:
Pessoas Sim, de Gísli Darri Halldórsson (9’/Islândia/2019)
“Pessoas Sim” retrata um dia num prédio onde todos os seus habitantes apenas usam a palavra “Sim” para comunicar. Consiste num conjunto de curtas cenas que, ao mesmo tempo, servem para fazer a contextualização das personagens e para criar situações caricatas, sobretudo pelo inadequado uso da palavra “Sim”. Embora usando sempre a mesma palavra, cada vez que esta é dita o significado é claro para o interlocutor. Daí se possa talvez referir que a expressividade com que a animação é feita ajuda a que a falta de novas palavras não seja um prejuízo para a curta-metragem.
Nota: 3/5
Memorável, de Bruno Collet (12’/França/2019)
Uma das curtas-metragens que mais andou nas bocas do mundo no último ano, sobretudo pela sua nomeação para o Óscar de curta-metragem de animação em fevereiro do presente ano. “Memorável” conta a história de Louis, um pintor com uma idade avançada que vai apresentando sinais de demência, começando a esquecer-se de tudo, até do seu rosto quando se olha ao espelho. O uso de stop-motion adiciona textura ao filme, usando formas por vezes abstratas que se alinham com o estado mental do protagonista, que se vai deteriorando aos poucos. É uma curta que beneficia também de possuir uma estrutura narrativa semelhante ao que seria de esperar numa longa-metragem normal, mas condensada em 12 intensos minutos. Pode dizer-se que o título “Memorável” não foi escolhido à toa.
Nota: 5/5
Time O’ the Signs, de Reinhold Bidner) (9’/Áustria/2019)
“Time O’ the Signs” é uma animação que funciona como uma caracterização (exagerada, é certo) dos tempos que vivemos. Mostra o excesso de estímulos, de controlo, de artificialidades em que a personagem principal vive. Mostra o quanto esta necessita de comprar a sua felicidade e de agradar ao sistema, que sabe sempre melhor. O filme toca na ferida e coloca a questão: como é que realmente queremos viver numa sociedade futura? “Time O’ the Signs” é categorizada na sua descrição como uma animação experimental, mas porventura documental é também uma categoria que não é de todo descabida.
Nota: 5/5
Rastos, de Hugo Frassetto e Sophie Tavert Macian (13’/França e Bélgica/2019)
“Rastos” é outra das curtas-metragens cuja técnica de animação se sobrepõe à sua vertente narrativa. Como história, trata de dois membros de uma tribo pré-histórica, pai e filho, na sua aprendizagem relativa às pinturas rupestres. No filme, ambos usam carvão para os seus desenhos, uma técnica que é imitada na animação. A técnica de animação fica de mão dada com a história, parecendo esta quase uma pintura rupestre em movimento.
Nota: 4/5
A Mãe de Sangue, de Vier Nev (6’/Portugal/2019)
Em mais uma presença nacional na Monstra, Vier Nev traz até ao público “A Mãe de Sangue”. O que salta mais à vista ao longo do filme é a capacidade mostrada para dar uma dupla interpretação a praticamente todos os frames (um pouco ao estilo da famosa imagem “coelho ou pato?”). Ao longo dos 6 minutos de duração essa ambiguidade quase que traz ao espectador o dobro da informação e, de certa forma, é um auxílio para a imersividade, ajudada por uma excelente banda sonora, que dispensa qualquer diálogo adicional. É uma curta-metragem para ser vista, escutada e, acima de tudo, sentida.
Nota: 5/5
Sr. Mare, de Luca Tóth (19’/Hungria/2019)
Enquanto muitas das curtas-metragens tentam de certa forma apressar o seu conteúdo e fazer jus ao nome, “Sr. Mare” não se preocupa em demorar o seu tempo a transmitir a mensagem. Presente na competição de curtas-metragens do festival de Berlim, “Sr. Mare” é mais fácil de definir pelas suas características do que pelo seu enredo. Consegue ser ao mesmo tempo cómica, desconfortável, até mesmo surreal. Não apresenta ao espectador muitas explicações sobre o que se está a passar, nem sequer se preocupa em fornecer diálogos ao longo da história. O que é certo é que o filme confia que a atmosfera criada é suficiente para captar o interesse do espectador.
Nota: 4/5
Miúdos, de Michael Frei (9’/China/2019)
A curta “Miúdos”, de Michael Frei, é definida como uma exploração na dinâmica de grupos. O estilo a preto-e-branco ressalva o quão semelhantes são todos os indivíduos presentes no filme, que acabam, na sua maioria, por se deixar levar pelas massas, por vezes até ao abismo (literalmente). A diminuída quantidade de diálogos e de uma banda sonora são compensados pelos efeitos sonoros muito bem conseguidos. Não se pode dizer que “Miúdos” forneça propriamente um argumento acerca da dinâmica de grupo, mas cria uma imagem clara e transmite a sua mensagem, sem a necessidade (por vezes tendenciosa) de ser particularmente moralizante.
Nota: 4/5