A atriz britânica Dame Joan Plowright, ícone do teatro, cinema e televisão, faleceu aos 95 anos, informou a sua família na sexta-feira (17) através de um comunicado enviado ao The Guardian, em obituário assinado por Chris Wiegand.
Com uma carreira consagrada, que lhe rendeu dois Globos de Ouro, um Tony Award, uma nomeação ao Óscar e dois Baftas, Plowright é lembrada por muitos, ao lado de Ian McKellen, Maggie Smith e Michael Gambon, como uma das grandes intérpretes do teatro inglês do século XX.
O comunicado diz: “É com grande tristeza que a família de Dame Joan Plowright, Lady Olivier, informa que ela faleceu pacificamente no dia 16 de Janeiro de 2025, rodeada pela sua família no Denville Hall, aos 95 anos. Teve uma longa e ilustre carreira no teatro, cinema e televisão ao longo de sete décadas, até que a cegueira a obrigou a retirar-se. Nos últimos 10 anos, viveu em Sussex, onde foi frequentemente visitada por amigos e familiares, desfrutando de muitas risadas e boas recordações. A família está profundamente grata a Jean Wilson e a todos os que estiveram envolvidos nos seus cuidados pessoais ao longo de tantos anos”.
Após o anúncio do seu falecimento, a Society of London Theatre informou que, em sua memória, os teatros do West End de Londres apagarão as suas luzes durante dois minutos, às 19h, na terça-feira (21).
Nascimento da vocação
Plowright nasceu a 28 de outubro de 1929, em Brigg, Lincolnshire. Com uma bolsa de estudos, frequentou a escola secundária de Scunthorpe, sendo a segunda de três filhos de Daisy Margaret Burton e William Ernest Plowright.
A sua mãe, atriz amadora e cantora de ópera, dava também aulas de dança, enquanto o seu pai, jornalista de profissão, tinha uma grande paixão pelo teatro amador. Desde muito jovem, Plowright alimentou o sonho de se tornar atriz, tendo conquistado um troféu de drama num festival local aos 15 anos.
Após deixar a escola aos 17, trabalhou brevemente como professora substituta antes de seguir para a prestigiada escola de teatro Old Vic, em Londres, onde iniciou a sua formação profissional.
Após aparecer numa revista de fim de noite em Londres, fez a sua estreia no palco em 1948, em Croydon, num espetáculo intitulado “If Four Walls Told”. Seguiu-se a entrada na companhia de teatro Old Vic, onde conheceu o ator Roger Gage, com quem mais tarde se casaria.
Sétima arte
Viúva de Laurence Olivier, lendário ator, realizador, produtor e encenador britânico, Plowright estreou-se no cinema no misto de drama, ação e aventura “Moby Dick” (1956), de John Huston, e alcançou notoriedade ao lado de Olivier no drama “O Comediante” (1960), realizado por Tony Richardson, com argumento de John Osborne e Nigel Kneale, baseado na peça homónima do próprio Osborne, que marcou época. A produção valeu a Olivier uma nomeação ao Óscar de Melhor Ator.
Ainda na década de 1950, participou em “Time Without Pity” (1957), de Joseph Losey, contracenando com Michael Redgrave e Ann Todd. Após “O Comediante” (1960), apareceu em 1963 como Sonya na adaptação cinematográfica da peça russa “Uncle Vanya”, de Anton Tchékhov, realizada por Stuart Burge e estrelada por Michael Redgrave, também com Olivier no papel de Dr. Astrov.
Anos 70
Nessa fase, interpretou Masha na adaptação cinematográfica de “Watch Three Sisters” (1970), realizada por Olivier, e estrelou ao lado dele na adaptação para a televisão de “O Mercador de Veneza” (1973).
Em 1977, interpretou a mãe de um jovem perturbado na adaptação de “Equus”, com Richard Burton, o que lhe valeu a sua primeira nomeação ao prémio BAFTA.
No mesmo ano, participou numa adaptação para a Granada Television da peça “Saturday, Sunday, Monday”, de Eduardo de Filippo, que descreve o quotidiano de uma grande família italiana ao longo de um fim de semana. Olivier assumiu o papel do patriarca, enquanto ela foi a nora, encarregada de preparar o banquete de domingo, o momento chave da narrativa.
Anos 80
No início dos anos 80, interpretou a Sra. Frank ao lado de Maximilian Schell em uma adaptação para a NBC de “O Diário de Anne Frank” (1980). Em 1986, foi Lady Bracknell na adaptação da BBC de “The Importance of Being Earnest”, e em 1992, estrelou ao lado de Robert Guillaume em uma versão para a TV de “Miss Daisy”.
Em 1982, no filme de Richard Loncraine “Loncraine Brimstone and Treacle”, foi uma mãe ingênua, cujo marido, interpretado por Denholm Elliott, é ameaçado por um personagem maligno, vivido por Sting. Ela também se destacou no fracasso que foi “Revolution” (1985), de Hugh Hudson, com Al Pacino, onde interpretou a mãe da personagem de Nastassja Kinski.
Em 1988, participou de “Drowning by Numbers”, de Peter Greenaway, ao lado de Juliet Stevenson, Joely Richardson e Bernard Hill.
No ano seguinte, atuou com Billie Whitelaw em “The Dressmaker”, no papel de Nellie, uma mulher indignada com as mudanças em uma Liverpool tomada pelos americanos durante a Segunda Guerra Mundial.
Últimos papéis
Durante algum tempo, a atriz alternou entre actuações esporádicas e a dedicação à família. Foi apenas aos 60 anos que decidiu retomar a carreira, mas, infelizmente, à medida que entrou na casa dos 60, os papéis na tela diminuíram e tornaram-se menos interessantes.
Como presente para os seus netos, interpretou a Sra. Wilson na adaptação de “Dennis the Menace” (1993), de Nick Castle, ao lado de Walter Matthau.
No mesmo ano, foi nomeada ao Óscar de Melhor Atriz Secundária pela sua interpretação de Sra. Fischer no drama de época “Viagem Sentimental” (1992), de Mike Newell. O papel lhe rendeu o Globo de Ouro de Melhor Atriz Secundária em Cinema.
Em 1996, foi Nanny na versão live-action de “101 Dálmatas” (1996), de Stephen Herek, que se centrava na personagem de Cruella de Vil, interpretada por Glenn Close.
Ainda em 1996, interpretou a Sra. Fairfax na adaptação de “Jane Eyre” realizada por Franco Zeffirelli. No mesmo ano, no drama “Sobreviver a Picasso”, de James Ivory, estrelado por Anthony Hopkins, interpretou a avó da amante do artista.
Trabalhando novamente com Zeffirelli, participou de “Chá com Mussolini” (1999), ao lado de Cher, Maggie Smith, Judi Dench e Lily Tomlin. Em 2002, foi secundária em “Callas – A Diva”, um peculiar tributo de Zeffirelli à sua amiga Maria Callas, estrelado por Fanny Ardant.
Em um dos seus últimos papéis, Plowright interpretou a simpática Tia Lucinda no misto de drama, fantasia e suspense “As Crónicas de Spiderwick” (2008), de Mark Waters, adaptação da série de livros homónima de Holly Black e Tony DiTerlizzi.