Na última terça-feira (22), faleceu aos 101 anos o renomado realizador, argumentista, escritor, tradutor e fotógrafo iraniano, Ebrahim Golestan. A família anunciou a notícia por meio das redes sociais, e posteriormente a informação foi confirmada pelo Iran Wire.
A família informou que os arranjos para o funeral do ícone do cinema iraniano e da literatura persa serão realizados de forma privada.
Golestan deixa um legado notável de versatilidade e contribuições inovadoras que transcendem tanto o cenário cinematográfico quanto literário do Irão. Como um realizador centenário, sua presença perdurará na história iraniana como um dos mais proeminentes expoentes da arte cinematográfica moderna e progressista, enaltecendo a rica herança de uma das civilizações mais antigas do mundo.
Em 1961, o filme “A Fire” realizado por Golestan conquistou o cobiçado prémio no Festival de Curtas-Metragens de Veneza, solidificando a sua posição como uma força criativa de destaque a ser admirada.

A década de 1960 também presenciou a criação dos documentários fundamentais no arsenal artístico de Golestan: “Hills of Marlik”, “The Crown Jewels of Iran”, “Wave, Coral and Rock” e “Khestegarsi”.
Nos anais da sétima arte, Golestan também imortalizou-se por ter produzido o documentário “Black House”, da poetisa, realizadora e escritora iraniana Forough Farrokhzad, cuja vida foi tragicamente interrompida em um acidente de carro aos 32 anos de idade. Em 2022, a Sight and Sound elegeu o filme como um dos melhores de todos os tempos, colocando-o empatado na 101ª posição com “Rio Vermelho”, de Howard Hawks.
Contudo, na sétima arte, sua reforma chegou precocemente nos anos 70, quando Golestan decidiu interromper sua atividade. A profunda dor causada pela perda de sua companheira, Forough Farrokhzad, o levou a vender seus equipamentos e deixar o Irão. O restante de sua carreira foi dedicado ao tranquilo e solene jogo das palavras.

Dentro do mundo fantástico e mítico das letras do Irão, sua obra “Azer, the Last Month of Autumn” destaca-se como uma coletânea de contos que continua a manter seu apreço entre os entusiastas da literatura persa até os dias atuais.
Ainda, Golestan teve destaque ao realizar traduções importantes de renomados autores, como Anton Pavlovitch Tchekhov, Fiódor Dostoiévsk, Mark Twain, além dos laureados com o Prémio Nobel de Literatura, Ernest Hemingway e William Faulkner. Fora isso, suas narrativas “Rooster” e “Secrets of the Genie Valley” também compõem o conjunto de trabalhos que sempre serão referência no Irão.
Conforme ressalta Aaron Cutier e Mariana Shellard no artigo “Tesouros do Irã: Filmes do Estúdio Cinematográfico de Golestan”, publicado na edição de março de 2023 da revista online do Cinema do IMS Paulista:
“Seu trabalho na literatura – seja com tradução, seja com prosa original – se baseou em um princípio de conflito dialético, no qual forças divergentes conversam para comparar visões divergentes do mundo”.
