No dia 1 de julho, Olivia de Havilland comemorava os seus 104 anos, nela estava depositada o ainda restante legado da Hollywood clássica, a tão afamada idade de ouro. Passados 25 dias do seu aniversário, a última estrela dessa industria inexistente deixa-nos.
De ascendência britânica, mas nascida na capital japonesa (Tóquio), e com sangue de artista nas veias (pela parte da mãe, também atriz Lilian Augusta Ruse) Olivia Mary de Havilland sempre se demonstrou fascinada pela atuação, tendo impressionado o dramaturgo e realizador Max Reinhardt na versão escolar de “O Sonho de uma Noite de Verão”, que a automaticamente levou para adaptação cinematográfica da Warner Bros, realizado pelo próprio (em 1935). Nesse mesmo ano, trabalhou com Errol Flyn, com o qual iria contracenar mais vezes, na aventura de piratas de “O Capitão Blood” (Michael Curtiz, 1935).
Até à sua escalada de popularidade, que se deu com a nomeação ao Óscar no drama de grande escala “E Tudo o Vento Levou” (Gone with the Wind, 1939), Olivia trabalhou sob o contrato da Warner Bros em películas como “O Grande Garrick (1937, comédia de James Whale), “Robin Hood e Dodge City” (1938 e 1939 respetivamente, ambos com Errol Flynn) e “Isabel de Inglaterra” (1939). Grande parte deste ciclo com direção do realizador Michael Curtiz, antes da sua consagração com “Casablanca” (como bem sabemos em 1942).
Com “E Tudo o Vento Levou”, a atriz interpretou a generosa e meiga Melanie Hamilton, que iria-se tornar numa das vitimas da ambição venenosa da protagonista Scarlet O’Hara (Vivien Leigh). Segundo a própria Olivia, os elogios e o reconhecimento dessa sua participação não lhe trouxeram os papeis que tanto pretendia e, como tal, recusava constantemente as propostas da Warner Bros, o que lhe valeu várias suspensões. Em 1943, após uma disputa judicial, o qual declarava o fim do contrato de 7 anos para com a major, em oposição de um estúdio que pretendia recuperar os seis meses de suspensão. A atriz venceu o caso em tribunal, o que garantiu uma vitória tremenda sobre o poder dos grandes estúdios nos contratos dos atores.
Olivia de Havilland regressa aos ecrãs somente em 1946, conquistando o seu primeiro Óscar com “Lágrimas de Mãe” (“To Each his Own”), e o segundo em 1949 com “A Herdeira” (“The Heiress”, William Wyler). Continuou o seu percurso com trabalhos com realizadores como Terence Young, Stanley Kramer, Robert Aldrich e um tardio Michael Curtiz no western “O Rebelde Orgulhoso” (1958). Na década de 70, integrou o elenco dos filmes-catástrofe “Aeroporto 77” (1977) e o apocalíptico “O Enxame” (1978), antes de refundir na televisão até ao fim da sua carreira em 1988, com o telefilme “The Woman He Loved”, e nos palcos.
Irmã mais velha de Joan Fontaine, que segunda consta, manteve uma fervorosa rivalidade, ao mesmo tempo que existiam rumores de abuso psicológico, físico e emocional por parte de Havilland. Porém, a própria Fontaine, numa das suas últimas entrevistas, negou tudo, declarando que tais histórias eram “invenções da imprensa”.
De Havilland morreu na sua casa em Paris, de causas naturais segundo a The Hollywood Reporter. A morte foi confirmada pela sua publicista Lisa Goldberg.