Baseado num romance de 2015 com o mesmo nome, “Moxie” é realizado e produzido por Amy Poehler e segue a tímida estudante do secundário Vivian (Hadley Robinson), que se vai fartando cada vez mais da cultura sexista na sua escola. Todos os anos, um grupo de rapazes atletas populares, liderado pelo capitão do futebol Mitchell (Patrick Schwarzenegger), lançam um ranking de estudantes mulheres, dando-lhes títulos degradantes como “Melhor Rabo” e “Melhores Mamas” ou a “Mais Papavél”. Quando a nova aluna Lucy (Alycia Pascual-Peña) se atreve a falar contra Mitchell, ela é condenada na lista. Alimentada por este ataque, e uma música das Bikini Kill que a sua mãe (Amy Poehler) guardava, junto com todo um espólio de luta “riot grrrl”, desde a sua própria adolescência, toca Vivian que derrama toda sua raiva numa zine que ela chama de “Moxie” e espalha por toda sua escola desencadeando uma série de acontecimentos. A mãe em si é também o exemplo de uma mulher que tem que sozinha cuidar da filha, manter o seu trabalho e pelo meio articular a tentativa de uma vida pessoal amorosa.
Temos que esperar quase 90 minutos para que o filme nos diga sobre o que queria mesmo falar. Um dos maiores problemas nas escolas norte-americanas e que envolvem uma boa parte dos atletas normalmente – abuso sexual e violação. E quando chegamos lá, saltamos rapidamente para uma outra coisa. Outro dos detalhes sobre os quais o filme desliza é o facto de a actriz que interpreta Lucy é afro-latina e o ator que interpreta o atleta que a atormenta é branco. Essas escolhas de elenco adicionam um componente racial que “Moxie” opta por não reconhecer. Nunca o vemos a “incomodar” outras raparigas na escola com a hostilidade que ele reserva a Lucy, pairando e crescendo sobre ela e até quando cospe na “Coca-Cola”. O facto de o filme nem mesmo reconhecer a misogenia de tudo iso não parece apenas uma oportunidade perdida, mas parece falso. Lucy é precisamente o tipo de personagem autoconsciente que apontaria isso. Na escola, o futebol americano masculino recebe toda a atenção e financiamento, enquanto o oposto é verdadeiro para a equipa feminina. Portanto, é estranho que, embora Vivian e suas colegas continuem a frequentar os jogos masculinos, nunca as vejamos a replicar a irmandade recém-fortalecida aparecendo em jogos femininos para apoiar suas novas amigas. Assim o filme acaba a reproduzir um padrão que as próprias consideram injusto. O ponto de viragem para o acto final de Vivian recebe pouca atenção, embora envolva uma alegação séria, ficamos a meio caminho da Directora a ir buscar o aluno violador à sala de aula. Pelo meio ainda há tempo para uma referência passageira ao pai de Vivian, que parece importante, mas não foi abordada.
Este novo filme da Netflix tinha quase tudo para ser um belo exemplar de um bom filme feminista. Não o deixa de ser mas acaba por perder fôlego e força ao misturar vários assuntos, como as questões raciais, as de género, as de machismo e autoritarismo, luta de classes numa tigela de filme teen a tentar roçar a comédia. Levanta a fasquia e no fim deixa-a cair sem rede num típico final feliz.