Na passada terça-feira foram revelados todos os nomeados para os Óscares 2019, cerimónia que se vai realizar a 24 de fevereiro, e, de uma só vez, a Netflix obteve 15 dessas nomeações, sendo que o principal destaque vai para “Roma” de Alfonso Cuarón (2018).
Horas depois, foi anunciado que a plataforma de streaming tinha entrado oficialmente na Motion Picture Association of America (MPAA), um grupo comercial que publica classificações relacionadas com cinema, mas também representa os interesses de Hollywood em Washington. A Netflix é a primeira plataforma digital a fazer parte da MPAA, o que poderá levar a Amazon ou a Apple a seguirem o mesmo caminho.
A MPAA é composta por grandes estúdios, entre os quais estão a Disney e a 20th Century Fox (que em breve ocuparão um só lugar, após a sua fusão), a Warner Bros., a Paramount, a Universal e, por fim, a Sony Pictures. Esta união por parte da Netflix é um passo à frente no que toca à sua concorrência mais direta, como é o caso da Amazon, pois esta também tem vindo a produzir bastante conteúdo original.
Alguns, se não todos, os membros da MPAA planeiam lançar OTT – distribuição digital de conteúdo de televisão através da Internet – de forma a que o conteúdo original disponível na casa dos utilizadores, duplique. Na mesma linha de pensamento, a Disney+, ATT da Warner Media, anunciou um serviço com três tipos de subscrição, que será lançado no final deste ano. Segue-se também o lançamento da NBC Universal em 2020, um serviço OTT que será suportado por anúncios.
Deixando de lado a afiliação com a MPAA, é importante ressalvar que a passagem de filmes originais Netflix nas salas de cinema irá continuar a ser uma exceção. Alguns filmes serão exibidos no grande ecrã, caso haja uma estratégia de marketing específica, ou de forma a simplesmente satisfazer os cineastas. Uma exibição em cidades como Nova Iorque ou Los Angeles geralmente faz com que o filme seja alvo de atenção dos principais jornais, o que resulta em mais publicidade. Nas últimas semanas, tanto o Los Angeles Times como o New York Times, escreveram críticas sobre algumas obras apenas disponíveis na plataforma de streaming que nunca chegarão às salas de cinema.
Kay Koplovitz, ex-presidente e CEO da USA Networks, disse que esta decisão da MPAA “não é surpreendente de todo”. Este afirma que “nos últimos anos, eles [Netflix] demonstraram a sua capacidade de montar séries premiadas e agora filmes.” Koplovitz discorda que a Netflix seja outra “qualquer grande empresa de media.” Este conclui que “a enorme configuração de dados que eles têm apenas nos assinantes, coloca-os à frente da concorrência.”
Para os cineastas, a Netflix e os seus concorrentes não são uma ameaça. Enquanto a qualidade das obras estiver inserida numa escala que vai desde “Bright“ (David Ayer, 2017) a “Roma“ (Alfonso Cuarón, 2018), a Netflix mostra ser a maior provedora de filmes com narrativas originais. Foi dito que a única coisa pior do que a Netflix apoiar filmes como “Roma” e “A Balada de Buster Scruggs“ (Ethan Coen, Joel Coen, 2018) seria não ter tido interesse nos mesmos.