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“O Auto da Compadecida 2” – A memória e a homenagem

"O Auto da Compadecida 2" (2024) "O Auto da Compadecida 2" (2024)
"O Auto da Compadecida 2" (2024)

A partir de um cenário muito teatral em termos de espaço, tempo e accção, “O Auto da Compadecida 2” é mais uma homenagem ao filme anterior, datado de há 25 anos atrás, do que propriamente uma sequela. Um posfácio seria provavelmente a designação mais correcta. Essa simplicidade do filme acaba por pagar o preço de algum desencanto mesmo entendendo que por mais esforços empenhados para um novo filme, seria impossível repetir o sucesso e originalidade da história autentica. O filme é baseado na peça teatral, Auto da Compadecida de 1955 do maravilhoso mestre Ariano Suassuna.

Depois de 20 anos desaparecido, João Grilo (Matheus Nachtergaele) regressa à pequena cidade de Taperoá para se juntar ao seu velho amigo Chicó (Selton Mello). Um reencontro comovente em que os dois amigos inseparavéis se colocam a par dos seus feitos nos últimos anos e rapidamente partem para uma nova aventura. Partem para o encerrar dos seus arcos de personagem, para finalizar efectivamente a história começada antes.  As personagens-tipo caracteristicas desta história, bem ao jeito do teatro vicentino, ricas em humor e sarcasmo, duras, críticas, cruas mas também humildes retratam um Brasil real mas servem-nos metáforas dos tempos que vivemos num panorama mais geral.

Chegados ao que será o segundo acto do filme  somos levados para um plateau ainda mais teatral, mais encerrado onde vai decorrer o Julgamento Final, o segundo de João Grilo. Jesus e o Diabo trocam ideias até ao momento em que João Grilo apela à Senhora da Compadecida, a sua eterna advogada. Tudo muito semelhante ao primeiro filme, faltou-lhe clímax.

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Gostava de destacar a homenagem que é feita à literatura de cordel, um género literário popular escrito frequentemente em versos, na forma rimada, originado em relatos orais e depois impresso em folhetos que nos é trazido pelo Chicó e é a sua fonte de rendimento nestes 20 anos que se passam. Em Portugal teve a sua importância mas no Brasil é uma arte ainda muito acarinhada e reconhecida.

Uma boa parte da avaliação deste filme é feita pelo carinho da memória, pelas personagens que nos habitam e nos fazem viajar no tempo. As personagens de João Grilo e Chicó continuam executadas de forma impecavél, amadurecidas mas leais à sua origem.  Não se renderam à preguiça da continuidade e mantém o brilho do primeiro mas havia efectivamente pouco espaço para um filme melhor do que aquele que nos é apresentado. O resto do elenco deixa um pouco mais a desejar. Faltou a Fernanda Montenegro mesmo sendo homenageada de forma singela.

Obviamente as reacções do público são expectavéis e para todos os gostos. Que o filme cumpra pelo menos o propósito de levar novas gerações a ver o “Auto da Compadecida”, que leve mais gente ainda ao cinema e ao teatro e que nos faça continuar a sonhar e a desejar.

"O Auto da Compadecida 2" (2024)
“O Auto da Compadecida 2” – A memória e a homenagem
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