O filme “O Bom Patrão“, realizado por Fernando León de Aranoa, começa com uma cena introdutória um pouco fora de tom, o que se segue, destoa, nada tem que ver. Não se percebe logo o propósito dessa mesma cena, mas deduz-se rapidamente que irá ter interferência mais à frente, porém, não invalida o péssimo momento que se encontra, sobretudo por ser logo a primeira do filme.
Passado esse primeiro percalço, o filme apresenta a personagem principal e logo aí somos brindados com a elegância característica de Javier Bardem. O ator espanhol enche por completo a tela. E é nela, na personagem, e nele, no ator, que nos devemos centrar.
O filme, concebido para ser visto, como todos os outros, no maior ecrã possível, é leve, de puro entretenimento, com o tal destaque, a personagem e a interpretação de Bardem. Um ator soberbo que executa de forma magnífica uma personagem, embora não muito densa, muito bem escrita. Apesar do talento do ator, “O Bom Patrão” está longe de ser considerada uma grande obra, contudo o propósito também não era esse, era sim fazer um filme simples, cómico e para ser visto sem pensar muito.
Para isso contribui, e muito, a banda sonora. Adequada, certeira em praticamente todos os momentos, falha apenas quando não se faz notar e num outro momento, mostrado em slowmotion, que apesar de se perceber a ideia, destoa daquilo que se tinha feito até então.
Para além do destaque óbvio de Bardem, há ainda outra personagem, que apesar de ser um pouco de mais do mesmo, consegue sobressair de todas as outras: Liliana, interpretada por Almudena Amor. Consegue um bom desempenho, a par também do resto do elenco, que, apesar de se notar uma diferença absurda para o protagonista, cumpre, sem cometer grandes erros.
O facto de o filme ser pautado e dividido pelos dias da semana faz com que, até meio do mesmo, há já um bom contributo para a fluidez e para marcar o ritmo, porém, por se alongar nos próprios dias, é apresentado de forma abundante, perdendo esse tal contributo, traindo o próprio registo cómico que o filme apresenta e que lhe assentava na perfeição até ao momento.
O argumento é simples. Apresentado de forma linear, foi concebido com a ideia ser tal como é, cómico, sem ser para pensar muito, mas com o quanto baste de suspense para prender um espectador mais exigente. Havia claramente a possibilidade de ir mais a fundo, mas não era esse o intuito, ora assim fosse e perderia todo o propósito, tornando-se numa outra coisa.
No que diz respeito à imagem, a realização, a fotografia e a montagem são muito cuidadas. Muito seguras, não arriscam em nenhum momento, mas são assertivas, o que confere ao filme seriedade e maturidade.
Em suma, o filme revela-se cómico, leve, fácil de ser visto, valendo sobretudo pela interpretação de Javier Bardem. Fica a ideia de que há uma tentativa por parte do realizador de tentar voltar a fazer uma obra mais séria, mais competente, escolhendo para isso um lugar seguro, sendo ancorado pelo monstro cinematográfico que é Bardem.