25 de Abril

«O Lago dos Gansos Selvagens» – O “neo-noir” chinês de Yi’nan Diao

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O “Lago dos Gansos Selvagens” (2019) é um filme “neo-noir” de Yi’nan Diao, realizador do filme “Carvão Negro, Gelo Fino” (2014), que foi vencedor do Urso de Ouro na 64.ª edição do Festival Internacional de Cinema de Berlim. “O Lago dos Gansos Selvagens” foi um dos filmes seleccionados na Competição para a Palma de Ouro na edição de 2019 do Festival de Cinema de Cannes. Apesar de se encontrar numa das principais competições de cinema internacional, o filme não acrescenta nada de inovador ao género thriller criminal. “O Lago dos Gansos Selvagens” começa por reduzir a informação narrativa ao mínimo, de modo a prender o espectador, para depois, através de flashbacks, revelar progressivamente os detalhes da trama.

O filme segue essencialmente duas personagens: Zhou Zenong, um criminoso que, após uma rixa com rivais e uma posterior fuga de mota, mata um polícia. E Liu Aiai, a femme fatale, contratada pelos parceiros de Zenong para encontrar a mulher e o filho de Zhou, mas que acaba por assumir a tarefa de levar o gangster em fuga para onde for preciso. Ambos acabam por fugir para o Lago dos Gansos Selvagens, onde Liu trabalha como prostituta. Nesta sua fuga, não só são perseguidos pelo detetive Liu e o seu elevado número de policias destacados para o caso, como também pelos rivais que procuram colectar a recompensa de 300 000 ienes pela ajuda na captura de Zhou Zenong.

O filme inicia-se com o encontro dos dois protagonistas numa estação de comboio perto de Wuhan. Curiosamente, o título chinês do filme, traduzido à letra, significa “encontro numa estação no sul”. O ritmo inicial do filme e as várias personagens que surgem sem explicação podem trazer algumas dificuldades no acompanhamento da narrativa. No entanto, os flashbacks e a ação alucinante criam excelentes cenas. Exemplo disso é a sequência onde um grupo de criminosos se reúne na cave de um hotel, onde, antes de serem designadas a cada um deles uma zona da cidade, um dos elementos ensina aos presentes as diferentes formas  de roubar uma mota. O desacordo sobre a atribuição das zonas leva a um motim que ficará resolvido através de uma competição para determinar quem rouba mais motas numa noite, os chamados “jogos olímpicos do roubo”. Numa outra cena que nos apresenta um onírico tiroteio noturno no que aparenta ser um zoo, a câmara mostra intercaladamente o rosto de um homem e os dos animais ali presentes, criando um clima de tensão crescente que culmina com o clarão dos disparos a iluminar o rosto de um tigre.

O realizador quis mostrar, através dos dois protagonistas, como o próprio refere numa entrevista, “duas almas solitárias que se encontram sob grande pressão, ao mesmo tempo que se sentem sozinhos. Mas quis que houvesse um sentimento complexo e refinado entre os dois que pudesse ser visto através das suas ações e dos seus gestos, mais do que através das palavras. Porque, caso contrário, não seria compatível com o estilo do filme.” Apesar de existirem cenas individuais que se destacam, num estilo “neo-noir” que nos pode fazer lembrar, devido às luzes néon fortes e marcantes, os filmes de Nicolas Winding Refn, a narrativa acaba por ser um pouco inexpressiva. Entende-se a primazia dada à imagem em detrimento do diálogo, mas por vezes é difícil aceder ao interior das personagens e compreender o que as motiva. Do mesmo modo, fica a sensação de que as cenas mais marcantes para a história não apresentam um impacto visual à altura, contrariamente a cenas que, narrativamente, têm menor importância.

“O Lago dos Gansos Selvagens” (2019) encontra-se em exibição nos cinemas portugueses desde o passado dia 27 de fevereiro. Pode ser visto em Braga, Coimbra, no Porto e em Lisboa.

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