Ao fim de 25 anos, “O Rei Leão” regressa aos grandes ecrãs, desta vez mais realista e íntimo, porém atacado pelos críticos.
A storyline é a mesma: o pequeno Simba (voz do original por JD McCrary em criança e por Donald Glover já crescido), culpado pela morte do pai deixa o reino onde nasceu e junta-se a dois animais improváveis, Timon (Billy Eichner) e Pumba (Seth Rogen). Quando o dever como legítimo herdeiro ao trono fala mais alto, o já não tão pequeno Simba é obrigado a regressar e combater o seu malvado tio Scar (Chiwetel Ejiofor) para salvar todos os animais, incluindo a sua família. Ainda assim, os críticos insistiram num paralelismo que não foi conseguido com o filme original.
Uma cena inicial muito forte e cheia de vida abre o filme e abre os nossos corações com “The circle of life”, a música que todos bem conhecemos e que desperta em nós todos um sentimento de nostalgia e a sensação de que algo grande está para começar. A própria canção explica como todo o reino animal está conectado e que tudo tem consequências (algo importante a manter em mente durante todo o filme).
Mas as outras cenas são também muito bem conseguidas a nível emocional e musical, pois este novo Rei Leão aposta na aproximação dos mais pequenos com o reino animal devido ao realismo da animação. São de destacar 5 cenas em concreto: primeiramente, o momento musical em que Scar assume o poder das hienas e se declara o próximo rei – anárquico – do reino de tudo que é iluminado pelo sol. É nesta cena que vemos – e sentimos – a sede de vingança do irmão mais novo de Mufasa (James Earl Jones) que nunca teve a oportunidade de reinar.
A concretização do seu plano maquiavélico resulta numa cena excecional, clássica e dolorosa com a morte de Mufasa às patas do próprio irmão e ao exilo de Simba, culpado pelo tio pela morte do seu próprio pai, consumido pelo desgosto. No momento em que vemos o leãozinho deitado junto ao corpo morto do grande leão já sentimos a lágrima a escorrer pela face e o coração apertado. É o momento em que há uma conexão profunda entre o espectador e o filme.
Mas o amor também reina neste filme, aliás, é o próprio amor e a coragem que guiam o filme. O reencontro entre Nala (Beyoncé) e Simba culmina num momento musical apaixonante e revelador do sentimento que sempre viveu no coração daquelas duas crias que cresceram juntas. Uma descoberta de um amor muito bonito, acompanhada pelo o clássico “Can you feel the love tonight?” agora com a participação de Beyoncé.
Provavelmente a cena mais sentimental do filme é quando Rafiki (John Kani) obriga Simba a olhar para o seu reflexo no rio, onde este vê o seu pai, percebendo que é o verdadeiro rei e que, apesar da sua morte, Mufasa estará sempre no coração do filho. A voz do pai ergue-se dos céus – onde os grandes reis vivem – para orientar o filho no sentido de seguir o seu verdadeiro desígnio, o de ser o próximo grande rei, seguindo a linhagem do pai. Somos arrebatados com sensações visuais estonteantes que libertam em nós toda a esperança que guardámos ao longo do filme. Este é o ponto de viragem.
Finalmente, a última grande cena é quando Simba se encontra na mesma posição em que o pai se encontrou momentos antes de morrer (um paralelismo muito interessante): à beira do penhasco, prestes a cair no fogo devorador e sem escapatória possível das garras de Scar. O clímax do filme acontece neste mesmo cenário assim que Simba descobre a verdade sobre a morte do pai, cuja culpa é do seu tio, o verdadeiro assassino do rei. Aqui Simba deixa de ser a pequena cria que todos julgavam e transforma-se num verdadeiro leão, recuperando o trono que sempre foi seu. Há um contraste muito bonito nesta cena final: assim que Scar é derrotado e Simba assume a sua posição, o céu abre-se em lágrimas que apagam as chamas mortais de há momentos. É com esta antítese que tudo fica bem e o equilíbrio é restabelecido.
O final, no entanto, dá uma ideia de continuidade com o nascimento do filho dos novos rei e rainha, erguido aos céus como fora erguido Simba no início do filme.
É também importante realçar que se podem retirar muitas lições morais do filme, mas que, provavelmente, a mais importante é a respeitante à vida – que não é uma linha, mas sim um círculo (ou uma linha ligeiramente curvada). Tudo afeta tudo e o equilíbrio só é conseguido quando todos respeitamos a vida que nos é dada e que é dada aos outros.
Apesar das críticas – e justamente contrariando estas – o filme revelou-se um remake intenso e ainda mais pessoal que o primeiro. A beleza do filme reside fora dos ecrãs: está naqueles que, agora adultos, voltaram às salas de cinema para reviverem um clássico e para se apaixonarem, de novo.