O Queer Lisboa está de regresso

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O Queer Lisboa regressa em 2021 para a edição que celebra o seu 25.º aniversário, a acontecer entre 17 e 25 de setembro no Cinema São Jorge e na Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema. Um dos destaques da próxima edição é a parceria com a BoCA Bienal e com a Cinemateca Portuguesa, na homenagem à obra de um dos autores mais prolíficos do cinema Queer norte-americano: Gus Van Sant. A convite da BoCA, o cineasta e artista plástico irá criar o seu primeiro musical de palco, inspirado no universo criativo da Factory de Andy Warhol, em colaboração com músicos e performers portugueses. No contexto da sua visita, o Queer Lisboa irá organizar uma retrospetiva que pretende dar a conhecer as várias facetas da sua obra.

Os filmes exibidos serão Mala Noche (1985), que é quase unanimemente considerado o título inaugural do chamado New Queer Cinema (NQC), que abre caminho a obras de realizadores como Todd Haynes, Laurie Lynd, Tom Kalin, Jennie Livingston, Isaac Julien ou Derek Jarman. O NQC, quase num contraciclo com o estigma sofrido pelas comunidades queer em plena epidemia do VIH/sida, vem apresentar uma nova forma de se representar as personagens queer no ecrã, segundo uma diferente abordagem às subjetividades de sexo, género e sexualidade. Em 1991, Van Sant estreia no Festival de Cinema de Veneza, My Own Private Idaho, largamente inspirado no “Henry IV” (Partes I e II) de Shakespeare – o mesmo ano em que Jarman estreia a sua adaptação do “Edward II” de Christopher Marlow, marcando-se assim uma agenda do NQC numa reescrita e queerização da história. Uma incursão no universo da prostituição masculina, My Own Private Idaho ficará para sempre marcado pela memória do ator River Phoenix, imortalizado nessa imagem icónica da Pietà, deitado nos braços da personagem de Keanu Reeves.

Segunda parte da sua Trilogia da Morte e fortemente inspirado no massacre do liceu de Columbine de 1999, em 2003 estreia-se Elephant, no Festival de Cannes. Acompanhando a rotina de diversas alunas e alunos do liceu, nas horas que precedem ao massacre, Van Sant observa a rotina dos estudantes, ambos vítimas e assassinos, num filme de uma rara elegância e humanismo, aliados a uma estrutura narrativa de repetição que reforça um sentimento de niilismo e alienação. Protagonizado por Sean Penn, em 2008, Van Sant estreia Milk, o magnífico biopic sobre o ativista e político Harvey Milk, assassinado em 1978 pelo seu colega do Município de São Francisco, Dan White, numa impressionante reconstituição histórica que não deixa de ser uma homenagem ao ativismo LGBTQI+. A retrospetiva termina com os sete episódios de Ouverture of Something that Never Ended, uma encomenda da casa italiana Gucci, e corealizado com o seu diretor artístico, Alessandro Michele. O filme narra um dia na vida da personagem interpretada por Silvia Calderoni, corpo andrógino que desafia as noções normativas de género e que marca esta exuberante alegoria queer, que mais do que uma ode à moda, é uma homenagem a artistas e personalidades do universo queer como Paul B. Preciado, a cantora e poeta britânica Arlo Parks, o ator e dramaturgo Jeremy O. Harris, ou a cantora Florence Welch, entre outros inúmeros participantes.

No ano em que celebra o seu 25.º aniversário, o Queer Lisboa – Festival Internacional de Cinema Queer, lança também um projeto de itinerância, com o objetivo de levar a experiência do festival a várias localidades do país, já a partir de novembro de 2021 e prolongando-se até à Primavera de 2022. Este projeto, organizado em parceria com a ILGA-Portugal, tem como objetivo descentralizar o debate sobre as questões LGBTQI+ e dar a conhecer a um público mais alargado algum do melhor cinema que integrou a programação do Queer Lisboa 25, em setembro. Os filmes propostos abordam uma diversidade de temáticas ligadas às migrações, refugiados e direitos humanos; ao estigma ainda prevalente sobre o VIH/sida; aos indivíduos transgénero e suas relações familiares e problemáticas clínicas ligadas aos processos de transição; o percurso do ativismo LGBTQI+ e o seu impacto nas diferentes sociedades um pouco por todo o mundo e o seu efeito transformador nas mentalidades, na ação política e na própria ciência; entre outras muitas questões que os filmes selecionados levantam.

 As sessões de cinema são seguidas de conversas e debates, com a participação de agentes locais, complementando-se desta forma a experiência cinematográfica com testemunhos pessoais e profissionais, procurando assim traçar-se a realidade das vivências e comunidades LGBTQI+ de cada cidade de acolhimento do projeto. Numa outra vertente, a programação sugerida abre também caminho a um diálogo sobre as origens, história e futuro do cinema queer, com a participação dos programadores do Queer Lisboa.

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