Filme em conversa: Toute Une Nuit
Género: Drama
Ano de estreia:1982
Realizadora: Chantal Akerman
Elenco: Aurore Clément, Tchécky Kario, Jan Decleir
País: Bélgica, França
Imaginem-se em Bruxelas. Imaginem-se uma noite de muito calor, um calor insuportável que nos obriga a ficar acordados. Imaginem-se que decidem então ir à janela e de lá conseguem ver toda a vida nocturna do bairro, como a rapariga que decide sair de casa à socapa, o casal de estranhos que se encontra ás altas horas da noite num bar e que se apaixonam sem trocar uma única palavra, a mulher que decide abandonar o marido enquanto ele dorme apenas para acabar de novo em casa a tempo do pequeno-almoço. “Toute Une Nuit” é um filme feito destes e outros fragmentos, é uma espécie de narrativa colectiva escondida que apenas pode ser encontrada nas acções e nos olhares de meia dúzia de desconhecidos espalhados por uma noite de Verão.
Os vários segmentos de “Toute Une Nuit” aparecem no filme sem qualquer tipo de explicação ou contexto narrativo, salvo raras excepções. No entanto a linha de raciocínio continua sempre presente, por vezes explicita, outras vezes apenas como uma vaga sugestão. Todas as correrias, todos os abraços apaixonados, todos os beijos e canções e seduções; tudo nos obriga a criar as nossas próprias especulações sobre quem são aquelas pessoas, de onde vêm e o que é que procuram antes, durante e depois dos seus pequenos momentos em cena. Há algo de muito relaxante neste filme, sendo talvez esse o motivo que me leve a visita-lo de vez em quando. Há algo de satisfatório em ver um filme que se preocupa mais em mostrar um momento em vez de explica-lo.
Chantal Akerman desafia a forma em quase todos os seus filmes mas “Toute Une Nuit” é o que eu considero o melhor exemplo para quem quer entrar na sua cinematografia. Não é o seu melhor filme – na minha opinião – mas este é aquele que contém em termos técnicos e temáticos quase todos os pontos que fazem dos filmes da Chantal, os seus filmes. Ela agarra no Cinema e faz dele o que o próprio ás vezes se esquece que é: uma experiência visual. Não uma “experiência” no mesmo sentido em que uma viagem de montanha-russa também o é mas uma experiência onde se podem pegar numa mão-cheia de simples imagens e criar um mundo infinito onde a exposição narrativa e as palavras são substituídos por ideias, emoções, sons e pensamentos divagantes.
https://www.youtube.com/watch?v=QHX5YB_IsVQ