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Os 5 filmes mais marcantes da Ghibli, por Tiago Resende

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Os 5 filmes mais marcantes da Ghibli

No passado dia 3 de agosto veio a público a confirmação de que os estúdios Ghibli iriam fechar as suas portas ao nível da produção de filmes. Segundo o presidente do estúdio, Toshio Suzuki, o estúdio permanecerá aberto apenas para manter os direitos de licenciamento e merchandising das suas obras e irá focar-se apenas na produção de anúncios e de videoclips musicais. Sabe-se também que vão manter uma pequena equipa em funcionamento, para futuros projetos de Miyazaki. Uma notícia dolorosa para os fãs de anime, de animação e de cinema.

Segundo constam os novos rumores, Toshio Suzuki não anunciou o encerramento da Ghibli, mas sim que o estúdio iria fazer uma “breve pausa” na produção, para reavaliar e reestruturar a empresa, após a reforma de Miyazaki. O estúdio enfrenta hoje uma grave crise financeira. As suas produções são bastante caras e os últimos filmes estreados não obtiveram as receitas necessárias para ultrapassar a enorme crise que atravessam.

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Com quase 30 anos de existência, este notável estúdio de animação japonesa marcou gerações de crianças em todo o mundo, sendo hoje os seus filmes uma referência ao lado dos filmes da Walt Disney ou Pixar. A nós, público, espectadores, amantes do cinema, resta-nos também preservar este vasto espólio de animação japonesa, (re)vendo os seus filmes. Deste modo, seleccionei aqueles que, na minha opinião, foram os cinco filmes mais marcantes da Ghibli (sem nenhuma ordem em especifico). Todos os filmes da Ghibli são merecedores de ser vistos, se não mesmo obrigatório. Note-se que todos estes filmes são feitos com o tradicional desenho à mão, recorrendo muito pouco à computação gráfica. Esta característica assume-se como uma das principais qualidades do estúdio.

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“O Túmulo dos Pirilampos” (1988), de Isao Takahata

Uma das maiores obras primas da Ghibli e do Cinema, este é certamente o filme mais marcante de Takahata. O criador da série televisiva “Heidi” e “Conan, o rapaz do futuro”, não conseguiu replicar tamanho dramatismo e sentimento em mais nenhum outro filme que tenha feito depois de “O Túmulo dos Pirilampos”. Até hoje continua a ser um dos filmes de animação mais dramáticos de sempre, e um dos melhores e mais poderosos filmes de guerra alguma vez feito.

O filme conta a história de dois irmãos, Seita e Setsuko, durante os meses finais da 2ª Guerra Mundial no Japão, e sobre a sua desesperada luta pela sobrevivência, numa cidade destruída, onde a pobreza e a miséria devastam o país. A única esperança de Seita (o irmão mais velho) é a de manter viva a sua irmã mais nova (Setsuko), e de preservar a sua inocência, uma missão quase impossível, por toda a desgraça, morte e dor que os rodeia.

É muito fácil perceber porque é que é obrigatório todos vermos este filme, no entanto, fácil não é a missão de o ver sem que nos escorram algumas lágrimas. A experiência cinematográfica está garantida neste filme, através do olhar destas duas crianças. São muito poucos os filmes que conseguem confrontar-nos com a dura e cruel realidade da guerra. Esta história dramática das duas crianças apela-nos de imediato à infância, memória e nostalgia. Um filme angustiante que não deixará ninguém indiferente, mesmo que a técnica da animação apele ao sentimento de inocência. É uma animação quase neo-realista, pelo extraordinário retrato da guerra (ou mesmo anti-guerra) e pela veracidade nos detalhes que todo o filme tem.

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“O Meu Vizinho Totoro” (1988), de Hayao Miyazaki

No mesmo ano, Miyazaki estreava “O Meu Vizinho Totoro”, um maravilhoso e infantil filme sobre uma criatura fantástica e fofa! Ao contrário do filme anterior, este é um filme para todas as crianças verem. É uma das mais ternurentas animações para crianças, que o mestre Miyazaki criou até hoje.

Vista como a “Alice no País das Maravilhas” dos estúdios Ghibli, esta é a história de Mei, uma jovem que se muda para o campo para estar junto da sua mãe, sendo que um dia encontra uma pequena passagem no seu quintal, que a leva a um lendário espirito da floresta, conhecido como Totoro.

Este é um daqueles filmes onde não existe propriamente um conflito, mas há sim uma situação e uma constante exploração neste mundo mágico e fantástico. É um filme que consegue ser um pouco triste, assustador, mas contem muitos momentos de humor, de alegria, de sonho, onde a barreira da ficção e da realidade é quebrada. É portanto um pouco como a vida. É simples e complexo ao mesmo tempo. É um conjunto de situações que seguimos através da vida daquelas raparigas que têm uma mãe doente no hospital e um pai que tem de trabalhar. Aborda uma questão delicada nas crianças, que quando sentem que há um problema e não sabem ou não conseguem resolve-lo, a única forma de fugir a ele, ou de o ultrapassar, é sonhar, criar uma realidade paralela para projectar essa dificuldade.

Visualmente é lindo e a banda sonora (da autoria de Joe Hisaishi) embeleza ainda mais essas imagens, tornando Totoro realmente como uma lenda até aos dias de hoje. Totoro tornou-se num sucesso mundial, pela sua ternura e inocência, levando o estúdio a outro patamar. A personagem Totoro entranhou-se na sociedade japonesa de tal forma que hoje todas as crianças a conhecem, tal como os ingleses conhecem Winnie the Pooh.

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“Princesa Mononoke” (1997), de Hayao Miyazaki

Em “Princesa Mononoke”, grafica e criativamente, Miyazaki atinge um patamar superior, único. Este é um dos filmes mais brilhantes e magníficos de Miyazaki. Um drama de época com elementos de fantasia que conseguiu ser um grande sucesso de bilheteira em todo o mundo e muito bem recebido pela crítica.

Uma história épica, passado no Japão, na era Muromachi (de 1337 a 1573), num tempo em que os Homens conviviam com animais selvagens e deuses. O jovem guerreiro Ashitaka, apanhado num conflito entre os homens e os deuses da floresta, conhece a princesa Mononoke. O objectivo de Ashitaka é o de encontrar a paz entre a sua tribo e os deuses da floresta, que são ajudados por Mononoke.

Com um dos visuais mais encantadores da Ghibli, esta maravilhosa narrativa contem mensagens de paz entre o Homem e a mãe natureza, sendo também uma forte crítica à sociedade atual (problemas ecológicos). O realizador expõe os dois lados, o dos humanos e o da natureza. É um filme espantoso, que contém bastante violência e sangue, tornando-o ainda mais real, apesar de todo a componente fantasiosa e lírica que Miyazaki cria nos seus filmes. A banda sonora, também de Joe Hisaishi, é deslumbrante, reforçando o lado épico e nobre do filme. É assim um dos melhores filmes de animação de sempre, que nos faz sonhar.

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“A Viagem de Chihiro” (2001), de Hayao Miyazaki

Com esta nova obra prima de Miyazaki, o estúdio Ghibli alcança um novo estatuto. Ao todo “A Viagem de Chihiro” venceu cerca de 49 prémios em todo o mundo, entre os quais o urso de ouro no Festival de Berlim e o Óscar de Melhor Filme de Animação.

Esta fantasia conta a história de Chihiro, uma menina de dez anos, que se muda com os seus pais para uma nova cidade. Mas tudo muda quando os seus pais são enfeitiçados, transformando-se em porcos. Chihiro conhece um rapaz, Haku, que a ajuda a arranjar trabalho na casa dos banhos públicos, da bruxa má Yubaba. Chihiro tem de lutar, ganhar coragem e trabalhar muito para não se esquecer das suas origens e para poder salvar os seus pais e sair daquela cidade. 

Tecnicamente este é um dos filmes do estúdio mais perfeitos, onde a maior parte das cenas são feitas com pincel, com cores intensas e cenários inspirados na arquitectura tradicional japonesa. São os pequenos detalhes, nas roupas, nos corpos, nos espaços, enfim, nada é deixado ao acaso. É um filme que nos prende de imediato, mesmo que a personagem principal seja, no inicio, uma miúda de dez anos irritante. Mas o gosto está em vê-la crescer ao longo do filme, aprendendo com os seus erros.

Com um orçamento de dezanove milhões de dólares, o filme tornou-se no maior sucesso da história nas bilheteiras do Japão. “A Viagem de Chihiro” é ainda hoje o filme mais conhecido dos estúdios Ghibli, aclamado pela crítica internacional e considerado um dos melhores filmes do século XXI.

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“O Castelo Andante” (2004), de Hayao Miyazaki

Também uma das grandes obras primas do mestre Miyazaki, “O Castelo Andante” é um universo complexo. Se calhar a sua complexidade narrativa não agradou a todo o público e crítica, ao contrário do que se verificou com os anteriores filmes. Ainda assim, depois de ter estreado no Festival de Veneza, foi um dos filmes japoneses mais bem sucedidos nas bilheteiras de sempre.

A história, baseada no livro “Howl’s Moving Castle”, da escritora inglesa Diana Wynne Jones, é sobre Sophie, uma adolescente de 18 anos que vê a sua vida virada do avesso quando se cruza acidentalmente com um misterioso feiticeiro, Howl e é transformada numa mulher de 90 anos pela Bruxa do Nada.

Este filme é uma grande odisseia, onde Sophie terá que aceitar a mudança, a transformação e crescer com ela para ultrapassar os seus problemas e medos. Guerra, amor, amizade, aventura, feitiços, é o que se pode esperar ver nesta fábula cheia de personagens secundárias, onde o universo visual e musical é ainda mais elevado ao extremo. Existe uma continuidade notória dos anteriores filmes da Ghibli, ao nível da figuração e simbolismos.

A banda sonora, também de Joe Hisaishi, é deslumbrante, sendo este um dos melhores trabalhos do compositor. É daqueles filmes em que o espectador irá certamente ficar sempre maravilhado, mesmo que não o tenha entendido na totalidade. É um festival de cores, música e magia. Somos enfeitiçados.

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