Depois de “Paterson”, Jim Jarmusch quis tocar o espectador com um estilo diferente: um humor satírico, inteligente, imprevisível q.b.; algo capaz de deixar o espectador fisicamente desconfortável, emocionalmente perdido. No entanto, “Os Mortos Não Morrem” deixa muito a desejar.
É frequente falar-se em duas partes distintas do plot, e o filme começa bastante bem. Apesar do entendo inicialmente apático, acerta no timing da problemática; no momento da chamada «tragédia». A terra desviou-se do seu eixo e os mortos ressuscitaram. O problema está criado. E através do seu cast bastante interessante e carismático, com Bill Murray e Adam Driver (Cliff Robertson e Ronnie Peterson, respectivamente), dois polícias que tentam combater o caos, o filme consegue conferir um toque bastante peculiar, muitas vezes — e infelizmente — o sustento mor da obra… longe, muito longe, de prima.
A mensagem do filme, apesar de pobre, é clara: os mortos não morrem, ou como chegou a acontecer, se não os consegues vencer, junta-te a eles. Literalmente e até na prática, este filme é uma distopia demasiado insossa. Um drama que se perde na superficialidade de um guião que não tem grande propósito. Não é capaz de prender o espectador ao ecrã e sobrevive de um fugaz momento hilariante no primeiro contacto com os zombies. Perde-se na superficialidade. E Jim Jarmusch teve até, inclusive, a necessidade de preencher o guião com referências (atenção, boas referências) ao seu anterior filme e ao papel incontornável de Adam Driver em “Star Wars”. Além disso, a inteligência do humor morre — sim, morre (e não ressuscita) — na insistência desmedida do argumentista, (novamente) Jim Jarmusch, ao tentar explorar, com demasiada superficialidade, o lado irónico dos actores se separarem, simbólica e artisticamente, das personagens. Tira credibilidade à obra — à pouca que foi construindo.
Portanto, “Os Mortos Não Morrem” mostra que não basta pôr a descoberto uma temática mainstream (dos mortos-vivos): é preciso realmente ter algo para contar; é preciso ser audaz, ir mais além. De terror tem muito pouco, de comédia algum. De substância poética devia ter (muito) mais.
Refugia-se na forma, numa distopia sensacionalista, e morre — vai morrendo aos poucos —, num decrescendo apoteótico, libertador: uma morte lenta e desinteressante do conteúdo cinematográfico. Afinal, e fazendo jus à obra, o filme estava «morto» desde início.