O cinema português vive um momento histórico com a primeira nomeação aos Óscares. Com um percurso inédito, a curta-metragem de animação “Ice Merchants”, de João Gonzalez, torna-se no primeiro filme português a ser nomeado pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.
“É a primeira vez na história do cinema português que um filme alcança esta etapa dos prémios da Academia Americana.”, segundo o comunicado da Agência da Curta Metragem.
O anúncio foi feito esta terça-feira, com a Academia Americana a revelar a lista final de nomeados da 95.ª edição dos Óscares. O filme de 14 minutos, o terceiro filme do jovem João Gonzalez (26 anos), encontra-se nomeado juntamente com “The Boy, the Mole, the Fox and the Horse”, de Charlie Mackesy e Matthew Freud, “The Flying Sailor”, de Amanda Forbis e Wendy Tilby, “My Year of Dicks”, de Sara Gunnarsdóttir e Pamela Ribon, e “An Ostrich Told Me the World Is Fake and I Think I Believe It”, de Lachlan Pendragon.
“Ice Merchants” foi o primeiro filme de animação português a ser premiado em Cannes e desde então que tem acumulado prémios, com um percurso único por festivais nacionais e internacionais, tendo já conquistado 45 prémios e menções especiais.
O filme conta a história de um homem e seu filho, que saltam de pára-quedas todos os dias, da sua casa fria e vertiginosa presa no alto de um precipício, para se deslocarem à aldeia que se situa na planície abaixo, onde vendem o gelo que produzem durante a noite.
João Gonzalez assina a realização, a direcção de arte, a animação (juntamente com a animadora polaca Ala Nunu), e a composição da banda sonora deste filme, que aborda a perda e os laços familiares. Esta é uma co-produção portuguesa, inglesa e francesa, produzida por Bruno Caetano na COLA Animation, em co-produção com Michaël Proença da Wild Stream, em França, e com a Royal College of Art no Reino Unido. Tem distribuição da Agência da Curta-Metragem.
“Algo que sempre me fascinou no cinema de animação é a liberdade que nos oferece para criar algo a partir do zero. Cenários e realidades surrealistas e bizarras que podem ser utilizados como uma ferramenta metafórica. […] Ice Merchants cobre uma história humana, sobre ligação familiar, rituais simples e rotinas diárias, estudando-os metaforicamente como base das relações humanas a longo prazo. […] Esteticamente, tendo a incorporar nos meus filmes o meu interesse por sombras fortes, ângulos de câmara extremos e paletas de cores limitadas. Há também um tratamento contínuo da banda sonora do filme, que começo a trabalhar desde o início da produção. […] Ice Merchants é um drama familiar ambientado numa realidade impossível, trazido à vida com a colaboração da equipa de artistas mais talentosa e trabalhadora que eu poderia ter desejado.”, comenta o jovem realizador João Gonzalez.