Tal como se previa, “Oppenheimer” dominou a 96.ª edição dos Óscares ao arrecadar sete estatuetas douradas: Melhor Filme, Realização, Ator, Ator Secundário, Fotografia, Edição e Banda Sonora.
Com 13 nomeações, o filme de três horas, o mais longo de Christopher Nolan e um dos maiores sucessos de bilheteira em 2023, que se baseia no cientista envolvido na criação da bomba atómica durante a Segunda Guerra Mundial, levou mais de metade das estatuetas douradas numa cerimónia, apresentada por Jimmy Kimmel, que se mostrou ser previsível em praticamente todas as categorias.
Toda a cerimónia foi tão empolgante quanto o entusiasmo com que Al Pacino anunciou o filme vencedor da categoria de Melhor Filme: “o Óscar vai para Oppenheimer”. Foi apenas isto, Pacino entra em palco e anuncia em poucos segundos o vencedor, sem qualquer suspense. Um momento que descreve bem o sentimento de toda a cerimónia destes Óscares, atribuídos pela Academia norte-americana de Artes e Ciências Cinematográficas (AMPAS).
“Oppenheimer” venceu assim as principais categorias dos Óscares e deu as primeiras estatuetas douradas a Cillian Murphy (na categoria de Ator), a Robert Downey Jr. (ator secundário), assim como a Christopher Nolan (de Realização).
“Pobres Criaturas”, de Yorgos Lanthimos, foi o segundo mais premiado da noite ao vencer quatro Óscares, que inclui Melhor Atriz, entregue a Emma Stone, o segundo Óscar da atriz depois de “La La Land”. O filme de Lanthimos venceu ainda nas categorias de Maquilhagem e Cabelo, Guarda-Roupa e Design de Produção.
Abrindo a noite, como previsto, Da’Vine Joy Randolph alcançou sua primeira indicação e conquistou o prémio de Melhor Atriz Secundária por “Os Excluídos”. Esta foi a única vitória do agora polémico filme realizado por Alexander Payne.
Mais adiante, o teatro foi envolvido por uma atmosfera descontraída quando John Cena roubou a cena ao apresentar, de maneira humorística, o prémio de Melhor Figurino completamente nu.
A intervenção do ator foi uma brincadeira que fazia referência a um incidente ocorrido em 1974. A piada teve início nas mãos do apresentador da noite, o comediante Jimmy Kimmel, ao relembrar o episódio em que o fotógrafo Robert Opel invadiu o palco e correu nu.
Continuando a cerimónia, após conquistar o prémio de Melhor Filme de Animação há 21 anos por “A Viagem de Chihiro” (2003), o renomado realizador japonês Hayao Miyazaki vence novamente na mesma categoria, desta vez pelo filme “O Rapaz e a Garça”. Miyazaki possui ainda um terceiro prémio, uma homenagem por sua carreira, concedido em 2015.
O filme sobre a invasão russa e uma equipa de jornalistas ucranianos presos na cidade sitiada de Mariupol, “20 Days in Mariupol”, venceu na categoria de Melhor Documentário, o primeiro Óscar para a Ucrânia.
Ao receber a estatueta, o realizador do documentário Mstyslav Chernov fez um dos discursos mais comoventes da noite: “Provavelmente serei o primeiro realizador neste palco a dizer que gostaria de nunca ter feito este filme”, abriu Chernov.
Complementando, ele disse: “Gostaria de poder alterar isso, impedindo a Rússia de atacar a Ucrânia, de ocupar nossas cidades… Mas não posso mudar a história. Não posso alterar o passado”.
“Mas todos nós, juntos, vocês, algumas das pessoas mais talentosas do mundo, podemos garantir que os registros da história sejam corrigidos e que a verdade prevalecerá e que o povo de Mariupol e aqueles que deram suas vidas nunca serão esquecidos. Porque o cinema forma memórias. E as memórias formam a história”, finalizou ele enquanto o público o aplaudia de pé.
O retrato implacável sobre a humanidade e a banalidade do mal, “A Zona de Interesse”, do britânico Jonathan Glazer, surpreende ao conquistar duas estatuetas douradas: Melhor Filme Internacional e Melhor Som (esta foi talvez a única surpresa da noite).
Ao receber a estatueta de Melhor Filme Internacional, Glazer abordou a guerra em Gaza em seu discurso, enfatizando a desumanização vivenciada pelas pessoas na Faixa de Gaza, um tema central explorado em sua obra.
Ele ressaltou como essa trajetória leva ao cenário mais adverso, influenciando tanto o passado quanto o presente. Ao abordar a ocupação de Israel em territórios palestinos, o realizador de origem judaica expressou seu pesar pela situação: “Estamos aqui como homens que refutam que o seu Judaísmo e o Holocausto sejam sequestrados por uma ocupação”, disse ele.
Com oito nomeações, “Barbie” ficou-se apenas por um prémio, o de Melhor Canção, pela música “What Was I Made For”, de Billie Weilish e Finneas O’Connell.
Ao conquistar a estatueta, a cantora se tornou a mais jovem da história dos Óscares a ostentar duas premiações. Com este feito, ela se junta a um seleto grupo de apenas quatro pessoas com menos de 30 anos a levar duas estatuetas para casa, todas mulheres e premiadas em categorias de atuação: a atriz alemã Luise Rainer e as norte-americanas Jodie Foster e Hilary Swank.
O coautor da faixa e irmão da cantora, Finneas, também deixou sua marca na história dos Óscares. Em sintonia com os feitos de sua irmã, ele conquistou a distinção de ser a quinta pessoa a receber uma segunda estatueta antes de completar 30 anos.
No grandioso palco do Dolby Theatre, Arnold Schwarzenegger e Danny DeVito compartilharam o holofote ao apresentar as categorias de Melhores Efeitos Visuais e Melhor Montagem.
Em meio às lembranças que muitos talvez tenham deixado escapar, é fascinante descobrir que Schwarzenegger e DeVito compartilham mais afinidades do que se poderia supor inicialmente.
Além da hilariante colaboração no filme de comédia dos anos 80, “Gémeos” (1988) e “Júnior” (1994), ambos realizados Ivan Reitman, eles também protagonizaram como vilões nos inesquecíveis filmes de Batman de Tim Burton na década de 90, desafiando o icónico herói interpretado por Michael Keaton.
A dupla fez questão de relembrar esse fato de forma descontraída, arrancando risos da plateia ao fazer brincadeiras com Michael Keaton, chegando até mesmo a interagir diretamente com o ator.
Por falar em efeitos visuais, a categoria celebrou um momento histórico. Com apenas um prémio, “Godzilla Minus One” alcançou duas marcas sem precedentes na premiação. Para além de ser o primeiro filme da franquia em 70 anos a ser laureado com uma estatueta da Academia na categoria de Melhores Efeitos Visuais, o longa também conquistou o título de primeira produção de língua não-inglesa a triunfar nessa categoria.
Dentro do contexto das apresentações musicais, inquestionavelmente, um dos pontos altos da cerimónia foi a aguardada e marcante performance de Ryan Gosling com “I’m Just Ken”.
Ele iniciou sua apresentação na plateia, surgindo por trás de sua parceira “Barbie”, Margot Robbie. Mais tarde, ao subir ao palco e se juntar a Mark Ronson, um dos coautores da música, Gosling foi acompanhado por 65 dançarinos, além dos atores Simu Liu, Kingsley Ben-Adir, Scott Evans e Ncuti Gatwa – que retrataram outras versões de Ken no filme, juntamente com o guitarrista do Guns N’ Roses, Slash.
O ator ainda arranjou um momento para descer do palco e até mesmo permitiu que a realizadora do filme, Greta Gerwig, além de Robbie, America Ferrera e Emma Stone, tivessem a chance de participar.
Além da eletrizante performance de Gosling, que certamente entrará para a história do prémio, outro momento inesquecível foi a participação do adorável cãozinho Messi, que desempenhou um papel no filme “Anatomia de Uma Queda”, de Justine Triet.
Embora possa parecer que ele esteve presente na cerimónia, Messi, na verdade, não estava lá. Isso mesmo, você leu corretamente. De acordo com a organização do evento, a participação do peludo foi pré-gravada, visando evitar qualquer estresse decorrente do barulho e da agitação da multidão. Essa precaução, aliás, recebeu elogios de defensores dos animais nas redes sociais.
Falando sobre “Anatomia de Uma Queda”, na categoria de Melhor Argumento Original, o casal Arthur Harari e Justine Triet surpreenderam ao conquistar a vitória pelo drama francês, contrariando as expectativas que indicavam Celine Song como possível vencedora por “Vidas Passadas”.
Outra surpresa foi Cord Jefferson, que recebeu o prémio de Melhor Argumento Adaptado pela adaptação do romance “Erasure” de Percival Everett para “Ficção Americana”. Embora Nolan fosse um dos favoritos para ganhar pela adaptação da biografia “American Prometheus” de Kai Bird e Martin J. Sherwin em “Oppenheimer”.
Wes Anderson, que não marcou presença na cerimónia, venceu o Óscar de Melhor Curta-Metragem Live-Action por “The Wonderful Story of Henry Sugar”.
A tradicional homenagem “in memoriam” teve um início único este ano. A Academia escolheu exibir um trecho do documentário “Navalny”, de Daniel Roher, no qual Alexei Navalny, o principal opositor de Vladimir Putin falecido este ano, reflete sobre a possibilidade de sua própria morte. Esse filme foi premiado na categoria de Melhor Documentário em 2023.
Enquanto os bailarinos apresentavam sua dança no palco, os demais homenageados da noite eram exibidos no telão, alguns deles acompanhados por trechos marcantes de suas falas em produções anteriores. Tudo isso embalado pela emocionante interpretação ao vivo de “Con te Partirò” por Andrea Bocelli e seu filho Matteo.
A noite, repleta de leveza e humor, também dedicou um espaço à política. Vários artistas, incluindo Billie Eilish, Mark Ruffalo e Ramy Youssef, optaram por usar pins vermelhos em suas vestimentas.
O acessório faz parte de uma iniciativa promovida pelo Artists4Ceasefire, um grupo de membros da indústria do entretenimento que redigiu uma carta aberta a Joe Biden, demandando um cessar-fogo na Faixa de Gaza.
Por sua vez, os atores franceses Swann Arlaud e Milo Machado Graner, do filme “Anatomia de uma Queda”, transmitiram sua mensagem de apoio ao usar um detalhe em seus visuais ao atravessar o “red carpet” com um broche representando a bandeira da Palestina.
Kimmel não ficou alheio à situação. Como apresentador da cerimónia, o humorista aproveitou os momentos finais para responder a uma crítica feita pelo ex-presidente dos EUA, Donald Trump. Em uma rede social, o ex-presidente sugeriu que Kimmel deveria ser substituído.
“Já não passou da sua hora da prisão?”, respondeu o apresentador, no evento, ao ler a postagem de Trump.
Óscares 2024: Vencedores
Melhor Filme
Oppenheimer (Universal)
Melhor Realização
Christopher Nolan, por Oppenheimer
Melhor Ator
Cillian Murphy, em Oppenheimer
Melhor Atriz
Emma Stone, em Poor Things
Melhor Ator Secundário
Robert Downey Jr., em Oppenheimer
Melhor Atriz Secundária
Da’Vine Joy Randolph, em The Holdovers
Melhor Argumento Original
Anatomy of a Fall
Melhor Argumento Adaptado
American Fiction
Melhor Filme de Animação
The Boy and the Heron
Melhor Filme Internacional
The Zone of Interest (Reino Unido)
Melhor Documentário
20 Days in Mariupol
Melhor Fotografia
Oppenheimer, por Hoyte van Hoytema
Melhor Guarda-Roupa
Poor Things
Melhor Edição
Oppenheimer
Melhor Maquilhagem e Cabelo
Poor Things
Melhor Banda Sonora Original
Oppenheimer
Melhor Canção Original
“What Was I Made For?” no filme Barbie
Melhor Design de Produção
Poor Things
Melhor Som
The Zone of Interest
Melhores Efeitos Visuais
Godzilla Minus One
Melhor Curta de Animação
War Is Over!
Melhor Curta Live-Action
The Wonderful Story of Henry Sugar
Melhor Curta Documental
The Last Repair Shop, de Ben Proudfoot e Kris Bowers
(Artigo escrito por Tiago Resende e Vanderlei Tenório)
(Artigo em Atualização)