“Pecados Íntimos” conta a história de um homem e uma mulher que, ao sentirem-se insatisfeitos com a vida que levam, procuram escapar da monotonia. A par desta, existe ainda uma outra história secundária, a de um homem que apresenta um distúrbio mental e que é perseguido por um ex-polícia determinado a expulsá-lo da pequena cidade onde todos vivem.
A fazer lembrar, fundamentalmente no início, “Beleza Americana”, com pequenos toques de “A Vida Não é um Sonho”, “Pecados Íntimos” é uma dura crítica à sociedade norte-americana, com as mulheres de uma pequena cidade a viverem numa fantasia, rodeada de preconceitos, que as enclausuram num mundo perverso e de constante desgosto.
A história, que é apresentada com muito cuidado, assim como as personagens, rapidamente evolui para contar aquilo que o realizador se deseja focar, a aventura de um amor entre duas pessoas que procuram uma fuga dos respetivos casamentos e, como se dão conta a dado momento, voltarem a sentir-se vivos.
A dado momento, a história que também é apresentada no início do filme, reaparece: um homem com um distúrbio mental que outrora esteve preso por ter abusado de crianças. A cena torna-se algo intensa com o homem, imaculadamente interpretado por Jackie Earle Haley, que entra numa piscina repleta de crianças e mergulha só para as observar, satisfazendo o seu desejo obsceno. Esta cena serve também para caricaturar a sociedade norte-americana que, depois deste ser levado pela polícia, os pais das crianças voltam a incentivar os filhos a entrar na piscina como se nada se tivesse passado.
E, com a mesma velocidade com que entrou, esta volta a sair do ecrã, dando novamente lugar à temática principal, ficando a ideia de que tudo aquilo foi apenas uma cena solta. Toda a história que aparece em segundo plano está mal articulada com a que tem maior relevo, mas, mais especificamente esta cena, parece, apesar de fazer sentido e ter bastante relevância, estar totalmente deslocada de todo o filme.
Voltando à narrativa que preenche mais tempo da duração do filme, é colocada em cima da mesa a questão que, até certo modo, pode ser vista como um paradoxo: o adultério e a emancipação da mulher. Fazendo alusão à obra de Gustave Flaubert, “Madame Bovary”, que é debatido no filme por um grupo de mulheres sobre o que devia ou não fazer uma mulher que se vê infeliz devido a um casamento falhado, encontra-se a metáfora do filme, a procura no adultério de uma forma de encontrar a liberdade e a felicidade.
A contribuição dos atores revela-se muito importante, visto que a história em questão precisa essencialmente de uma boa prestação por parte dos mesmos. Para além dos protagonistas Kate Winslet e Patrick Wilson que se apresentam muito bem, compondo uma boa dupla e conseguindo desempenhos consistentes ao longo de todo o filme, todos os atores que aparecem num plano secundário mostram competência no seu trabalho. Um Jackie Earle Haley a sobressair no pouco tempo que tem para se mostrar e ainda uma Jennifer Connelly e um Noah Emmerich fieis à história e às suas personagens.
O filme é pautado por toques de humor refinado que lhe conferem um outro tom em alguns momentos e que o tornam mais ligeiro. À exceção de um desses momentos em que o humor se alonga demasiado, tornando a cena incoerente com tudo o resto, todos os outros revelam-se oportunos, pertinentes e adequados. O filme tem ainda uma outra componente que lhe confere um outro sentido: a narração. Esta revela-se apropriada e favorável para o desenrolar do filme.
“Pecados Íntimos” avança para o fim da viagem tranquilamente, porém, muito perto dessa mesma viagem chegar ao seu término, descarrila. A apenas cinco minutos da bela viagem ser concluída, o comboio que a fazia, de repente, como que se despista, caindo de um precipício sem fim à vista.
Em suma, o filme traz um brisa fresca, ainda que de pouca preponderância. Contudo, e se houver o discernimento necessário para conseguir colocar de parte o final, pode-se afirmar que se está perante um bom filme, com temáticas pertinentes e que provoca reflexão.