Onde achamos que o actor norte americano Nicolas Cage ficou nos últimos anos? Algures na década de 90 recordamos os seus melhores momentos com o seu casaco cobra em Wild at Heart- Um coração selvagem de David Lynch em 1990, ou em busca da redenção em Leaving Las Vegas-Morrer em Las Vgeas em 1995. Já no final, em 1999 vivendo no limite em Bringing out the Dead-Por um fio de Martin Scorsese, filme mal amado do aclamado realizador, encontramos um brilhante Cage no auge do seu sucesso. A partir daqui muitos filmes de acção, muitas atribulações na sua vida privada e um mau gosto na escolha de papeis (façam pausa para Joe em 2013 onde aparece o jovem Tye Sheridan que em 2021 brilhou em The Card Counter-O jogador).
Em 2018, chega o culto e eis que acreditamos na ressurreição. Em Mandy de Panos Cosmatos damos de caras com um Nicolas Cage mais performativo do que nunca. Num filme independente praticamente sem diálogos, voltamos a ter esperança no actor que admirávamos.
Mas, este texto escreve-se a propósito de Pig-A viagem de Rob, filme de estreia de Michael Sarnoski. E que belo debute este para o realizador poder contar com o carisma de Nicolas Cage na história escrita a quatro mãos com Vanessa Block. Muito resumidamente Rob (interpretado por Cage) é um antigo famoso Chef que se isolou na floresta após ter perdido a sua mulher. Vive na companhia da sua domesticada porca que o ajuda a encontrar trufas pela floresta de forma a garantir o seu sustento vendendo as mesmas a um fornecedor que vende para restaurantes de luxo na cidade. Quando esta porca é roubada a Rob, inicia-se uma busca incessante que nos dá a descobrir o passado do Chef. Imaginem o John Wick, mas agora não pensem em lutas mas sim em extremos físicos constantemente em luta com confrontos emocionais. É um filme melancólico, com pausas pensadas que encadeiam uma história que teria tudo para ser simples, meditativa e se calhar até aborrecida. Há cenas surpreendentes, estruturadas e altamente bem construídas que não precisam de um labirinto para percebermos o que todos tentamos encontrar, o amor. A afeição que ele tem pelo animal fá-lo percorrer uma corrida contra o tempo voltando a encarar o seu passado.
O filme está divido em três partes fazendo crer que vai num sentido. Não é uma aula de filosofia de 1h30 mas sim a história de um eremita que em contacto de novo com a realidade nos ensina até onde se está disposto a ir por amor. Sem loucuras e ponderado, sem ser repugnante ou altamente vingativo, chegamos a uma profundidade que não sabíamos que íamos encontrar. E tudo isto sem qualquer pretensão.