“Prazer, Camaradas!” é um filme de 2019 do realizador José Filipe Costa que retrata a vida de portugueses e estrangeiros nas Unidades Coletivas de Produção – cooperativas agrícolas implementadas no Alentejo no período da Reforma Agrária. No processo de fazer este filme, recolheram-se histórias de homens e mulheres que viveram nas UCP e dos estrangeiros que vieram a Portugal nos anos do PREC para participar na revolução. Estes estrangeiros (alemães, ingleses, franceses, etc) vinham assistir ao desenrolar da revolução e ajudar no que pudessem: com campanhas de alfabetização ou com trabalho agrícola, por exemplo. Neste filme, não existem atores. As pessoas entrevistadas, agora na casa dos sessenta e setenta anos, representam-se a si mesmas e às suas histórias, recriando a revolução que viveram com vinte e poucos anos. O filme leva-nos numa viagem pela revolução em Portugal, pelas UCP, pelas vidas dos homens e mulheres alentejanos que as construíram e geriram e pelas suas interações com os estrangeiros e especialmente as estrangeiras que conheceram.
As mulheres estrangeiras que chegavam eram desinibidas, feministas e sexualmente livres e depararam-se com um Portugal rural machista no qual as mulheres eram ainda remetidas para os papéis tradicionais de mães e donas de casa. As suas roupas ousadas e a forma como encaravam a sexualidade chocava os homens e as mulheres portugueses. Sexualidade, menstruação ou masturbação eram assuntos à volta dos quais existia ainda um grande tabu. Simultaneamente, os homens pareciam perpetuar o estereótipo do “macho latino”: sexualmente agressivos e com pouco interesse em repensar papéis de género. Estas estrangeiras não aceitavam toques indesejados dos homens e incitavam as mulheres portuguesas a reivindicar igualdade na distribuição das tarefas de casa. As mulheres portuguesas, inicialmente desconfiadas face às suas camaradas estrangeiras (cuja liberdade sexual consideravam imprópria), rapidamente começam a reconhecer sensatez nas suas reivindicações. Inspiradas pelas estrangeiras, as alentejanas começam a pôr em causa desigualdades que davam como adquiridas. “Prazer, Camaradas!” leva-nos igualmente numa viagem pela intimidade destas mulheres portuguesas: escutamos as suas conversas confidentes sobre menstruação, virgindade ou sexo e a partilha de experiências. Estes círculos eram onde se tiravam dúvidas e se aprendia com as mais velhas e experientes.