Apesar do cinema viver, em grande parte, da adaptação de obras literárias para a linguagem cinematográfica, é sempre um processo, no mínimo, complexo. Conseguir resumir uma história de modo a preencher os 90 a 120 minutos de filme, levanta questões de fidelização à obra original, de reestruturação da prosa para a linguagem de argumento e, ainda, conseguir encontrar um bom elenco que interprete convictamente as personagens da obra original sem alienar o público que se desloca às salas de cinema.
No caso de “O Principezinho” de Mark Osbourne, a tarefa torna-se ainda mais difícil já que se trata da adaptação de um dos livros infantis mais reconhecidos em todo o mundo e que, apesar de ser um livro para crianças, a sua mensagem continua tão enigmática agora como em 1943, a sua data de publicação. Felizmente, tanto para quem leu o original como para quem não leu, o filme consegue surpreender.
Esta animação realizada pelo estúdio francês, Orange Studio, conta a história de uma menina e da sua mãe que a tenta preparar para um mundo cinzento e extremamente adulto. Apenas aqueles que se revelam essenciais aos olhos da sociedade poderão ser bem sucedidos. Contudo, tudo muda quando a menina conhece o aviador que lhe apresenta a história do principezinho e a importância da curiosidade.
Apesar da animação do filme de Mark Osbourne (“O Panda do Kung-Fu”) se parecer muito com a animação da Pixar (que já se tornou o modelo a seguir nos filmes de animação 3D) com personagens de olhos grandes, corpos arredondados e muita gesticulação, O Principezinho consegue encontrar um equilíbrio entre todas estas partes e manter um registo muito sóbrio apesar das várias metamorfoses ao longo da narrativa. Oscilando entre stop-motion e o 3D, o filme demonstra muita maturidade na forma como utiliza as diferentes técnicas e tonalidades de cor para retratar o mundo colorido do aviador e fazê-lo contrastar com os cinzentos monótonos do mundo dos adultos. E seria fácil de cair no sentimentalismo num filme como este, mas a história consegue centrar-se e explorar os valores de amizade, curiosidade, coragem e responsabilidade da história original sem se restringir a uma caricatura demasiado espalhafatosa, como já é costume em filmes do género.
O filme conta ainda com um trabalho excelente dos actores que interpretaram as vozes do filme (particularmente Jeff Bridges) e a excelente banda-sonora de Hans Zimmer, que consegue sempre emocionar com muita sobriedade nos seus arranjos.
“O Principezinho” não é um substituto da obra de Saint Exupéry (e seria mau para todos se tentasse ser) mas consegue fazer transparecer a mensagem que sussurra ao longo das páginas do livro com uma intensidade muito própria. E, acima de tudo, é um filme que nos ensina a manter os sonhos bem presentes nas nossas vidas.
Realização: Mark Osborne
Argumento: Irena Brignull
Elenco: Rachel McAdams, Mackenzie Foy, James Franco, Jeff Bridges, Marion Cotillard, Benicio del Toro, Paul Giamatti, Ricky Gervais, Albert Brooks, Bud Cort, Jacquie Barnbrook, Riley Osborne
França/2015 – Animação
Sinopse: O autor desta maravilhosa fábula sobre o amor e a solidão publicou pela primeira vez «O Principezinho» em 1943 quando recuperava de um acidente de guerra. Um livro que se transformou numa das obras mais amadas e admiradas dos nossos tempos.