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Querido Diário: Edição Cineclubes #13 (Coimbra)

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Querido Diario - Edição Cineclubes “Querido Diário: Edição Cineclubes” é uma rubrica original dos criadores do Cinema 7ª Arte que remete o leitor para uma viagem de vespa por Portugal fora, numa demanda dos cineclubes ainda ativos. De cidade em cidade, iremos conhecer cada cineclube e os seus nativos que se esforçam por partilhar a paixão pela sétima arte.

 

Terminamos esta nossa primeira fase da viagem pelos cineclubes, em Coimbra. Cidade historicamente universitária e com uma grande paixão pela cultura cinematográfica. Obrigado por nos receberem nesta cidade, que tem, talvez, a seguir ao cineclube do Porto, o cineclube mais antigo do país. A Associação Académica de Coimbra fundou o Centro de Estudos Cinematográficos (CEC) em 1958 e desde então tem tido um papel preponderante na formação de novos públicos, em especial no público dos estudantes universitários.

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Centro de Estudos Cinematográficos_1

Legenda: C7A – Cinema 7ª Arte / CEC – Centro de Estudos Cinematográficos

C7A: Antes de mais, concorda com a afirmação de cima?

CEC: O CEC é a secção cultural mais antiga da Associação Académica de Coimbra, tem conseguido ao longo dos tempos ter um papel fundamental na produção de actividades culturais na cidade de Coimbra, exemplo disso é o festival Caminhos do Cinema Português, o único festival de cinema exclusivamente português. O CEC tem também promovido outras actividades, marcantes no panorama nacional, como o FIFAC – Festival Internacional do Filme Amador de Coimbra, Brevemente – Concurso Universitário de Design e Multimédia e agora recentemente um curso que explora o Cinema da Ideia ao Filme, o Cinemalogia. Pela diversidade e regularidade de actividade que promovemos, acreditamos que o CEC tem tido um papel preponderante na formação não só de novos públicos como os estudantes universitários, mas para o Cinema Português e também de novos cineastas. Ao longo da sua história tem conseguido não só estar presente e fazer registo dos principais acontecimentos da Academia de Coimbra, como desempenhou e desempenha um papel fundamental na promoção e divulgação de cinematografias alternativas.

C7A: Como nasceu o cineclube de Coimbra?

CEC: O CEC surge com os mesmos princípios que o cineclubismo surge em Portugal, com a procura de alternativas à oferta cinematográfica autorizada pelo então Estado Novo. A Academia de Coimbra sempre primou pela irreverência, pluralidade e democraticidade da liberdade, igualdade e fraternidade, valores essenciais expressos na Tomada da Bastilha, assim como sempre se afirmou, na sua génese, como uma instituição de oferta e fruição cultural. O dinamismo dos estudantes da Academia acabou por criar a necessidade de alargar as actividades culturais desenvolvidas pelo pelouro de cinema da Direcção Geral da Associação Académica de Coimbra até que foi fundado o Centro de Estudos Cinematográficos da Associação Académica de Coimbra, em 1958. Tornando-se assim a primeira e mais antiga secção cultural da Associação Académica de Coimbra.

C7A: Criaram o Festival Caminhos do Cinema Português, que já conta com 25 anos de idade, uma mostra que tem apostado na formação e promoção do cinema português. Falem-nos um pouco deste Festival.

CEC: De facto, a 1ª edição do festival ocorreu há 25 anos, em co-organização com a Faculdade de Letras, como Mostra de Cinema Português. As primeiras três edições funcionaram como mostra de Cinema Português em torno de um tema ou género unificador de toda a programação. Em 1990 sofre um interregno de sete anos e na 4ª edição, surge como Festival. Dá-se destaque a toda a produção nacional, com o objectivo primordial de dar a conhecer as obras menos divulgadas, junto do grande público. A partir da quinta edição, os Caminhos do Cinema Português caracterizam-se pela afirmação como verdadeiro festival de Cinema. Nesta edição do Festival foram atribuídos pela primeira vez prémios, com a constituição de um Júri Oficial e com a auscultação do Público para premiar os filmes. A estabilidade do Festival tem, desde então, sido uma constante, com a sucessiva introdução de novas actividades como os Ensaios Visuais, Secção competitiva para Cinema de Escola e a Secção Caminhos Juniores que promove o Cinema de animação português a todos os Jardins-de-Infância e Escolas do 1º Ciclo, criando-se desta forma um serviço educativo com o intuito de motivar as crianças e os docentes para o ensino por meio do audiovisual e criar hábitos de consumo. A última edição do festival, XIX Edição, ficou marcada pelos cortes nos apoios à produção de Cinema em Portugal. Os atrasos na abertura dos concursos inviabilizaram a regularidade do festival. 2012 é igualmente um ano de records. Record nas submissões, mais de 300, e por consequência nas taxas de rejeição dos filmes, 47.7% nos Ensaios Visuais e 72% na Secção Competitiva, confirmando que passam nestes Caminhos apenas os melhores do Cinema Português. A XX edição devia ter ocorrido este mês, mas devido à falta de apoios público-privados decidimos adiar para 2014, com a certeza de que iremos continuar a divulgar e promover Todo o Cinema Português com a merecida qualidade que este merece e que já há muito habituamos os nossos públicos.

C7A: Outra das iniciativas que o CEC tem vindo a exercer é o curso Cinemalogia – Da Ideia ao Filme. Um curso de iniciação à realização cinematográfica, que passa por todas as áreas da criação de um filme, que tem vindo a criar novos técnicos na área do cinema em Portugal. O CEC é uma “escola” de cinema, portanto. Concordam?

CEC: A ideia do Cinemalogia surgiu para tentar colmatar a ausência de um curso de cinema em Coimbra, o ensino de cinema e outras técnicas de produção de vídeo digital não tem uma oferta completa na cidade de Coimbra. Dentro da oferta formativa da Universidade de Coimbra, temos o curso de Estudos Artísticos da Faculdade de Letras que aborda um estudo teórico do cinema como um dos seus ramos de especialização, ao passo que a produção de vídeo digital é abordada nos cursos de “Design e Multimédia” e “Comunicação Social”. Fora da Universidade os cursos de Multimédia e Comunicação Social oferecem igualmente apenas formação técnica de produção digital multimédia. Sentimos a necessidade de alargar as nossas formações de um modo articulado seguindo um programa científico e pedagógico, sem descurar a vertente prática, mostrando como produzir e realizar diferentes estágios e técnicas cinematográficas, o que apenas acontecia anteriormente com os workshops durante o festival. Se o CEC é uma “escola” de cinema? Só o tempo o dirá, mas acreditamos que sim.

C7A: Sentem que todo este investimento na divulgação e formação do cinema tem sido notório na formação dos estudantes universitários da cidade de Coimbra, das mais diversas áreas?

CEC: Do passado retiramos que a importância do CEC na formação cinematográfica estudantil e a sua consequente repercussão no próprio cinema nacional são, hoje, corroboradas por algumas figuras de relevo na produção fílmica nacional e que foram membros desta secção, como o António-Pedro Vasconcelos, João Mário Grilo, Alfredo Tropa e Luís de Pina. Contemporaneamente, ainda é um pouco cedo para tirar esse tipo de conclusões. O Cinemalogia – Da Ideia ao Filme vai iniciar a sua 3ª edição no próximo dia 30 de Novembro. Mas da análise dos resultados obtidos nas duas primeiras edições, acreditamos que estamos no bom caminho. Na última edição, registamos mais de 250 inscrições ao longo de todo o curso, com 60% dos formandos oriundos fora do distrito de Coimbra. Conseguimos cativar a participação dos melhores especialistas em Cinema Português, o que nos leva a acreditar, cada vez mais, na qualidade deste projecto.

C7A: O público adere com facilidade à vossa programação? Vocês criam uma programação pensada em exclusivo para o público?

CEC: Ao longo do último ano tem sido aposta deste Cineclube ter programação regular, na nossa sala de projecção, o Mini-Auditório Salgado Zenha. Temos conseguido uma taxa de ocupação média na ordem dos 73%. O nosso público-alvo são não só os estudantes universitários como a população da cidade e, como tal a maioria das nossas sessões têm entrada livre, acreditamos que estamos a criar hábitos de consumo do nosso cinema. Promovemos mensalmente, inseridas nas exibições, Master Session com temas tão diversos como a música ou a literatura, o que acaba por cativar um maior número de espectadores nessas sessões como a promover o debate e a discussão em torno do cinema.

C7A: É difícil para vocês criar uma programação de cinema mais independente e com clássicos do cinema, sem que não apareça muito público?

CEC: Não sentimos essa dificuldade, apesar de reconhecermos que estamos em aprendizagem contínua. Os públicos têm aderido bem tantos aos filmes mais populares como aos ditos “filmes de autor”. Acreditamos que é importante mostrar e divulgar todos os géneros cinematográficos e os contextos de produção. Cada filme é único.

C7A: Costumam passar algum cinema português?

CEC: O objectivo principal deste Cineclube é a promoção do Cinema Português, como tal estamos neste momento a promover o Ciclo ’20 Anos de Cinema Português’. De Setembro de 2013 a Junho de 2014 iremos exibir mais de 40 filmes portugueses que passaram ao longo das 19 edições do festival Caminhos do Cinema Português. Temos contado nessas sessões com a presença de intervenientes desses filmes, como foi o caso de Pedro Resende, realizador do filme Maybe e Luís Ismael e Jorge Neto da triologia Balas & Bolinhos. Damos especial enfâse às curtas-metragens, que nem sempre têm lugar junto dos grandes exibidores. Na restante programação temos o cuidado de incluir filmes portugueses.

C7A: Atualmente, em época de muita crise, onde as pessoas tem menos dinheiro para ir ao cinema, como conseguem gerir as contas do cineclube?

CEC: Passa acima de tudo, através de parcerias com outras entidades e de uma gestão rigorosa dos apoios que ainda vamos conseguindo.

C7A: Qual a importância deste cineclube para a cidade de Coimbra e qual a importância dos cineclubes hoje na sociedade?

CEC: O CEC tem um papel muito importante como promotor de actividades culturais em Coimbra. Não só promove a cinematografia nacional no festival Caminhos do Cinema Português, como as artes audiovisuais no Concurso Universitário de Design e Multimédia – Brevemente. Actualmente, os Cineclubes têm um papel fundamental na promoção de filmes que não conseguem chegar às grandes distribuidoras e, consequentemente, às salas de cinema comerciais. Além de espaços de exibição de cinema alternativo, os cineclubes têm um papel fundamental porque conseguem promover a discussão e análise crítica em torno de um filme, coisa que não acontece nos espaços de exibição comercial.

C7A: Sentem falta de apoios do estado ou das câmaras municipais para os cineclubes?

CEC: A falta de apoios é um problema que nos deparamos diariamente e que este ano nos obrigou a adiar a XX edição do Caminhos. A Câmara Municipal dá algum apoio, mas é manifestamente insuficiente. A irregularidade na abertura dos concursos de apoio do estado e a falta de visão deste no que diz respeito ao apoio ao desenvolvimento cultural inviabilizam uma maior diversidade nas actividades dos cineclubes, como o desenvolvimento de uma verdadeira indústria cultural em Portugal.

C7A: Acham que deveria haver uma maior relação de parceria entre outros cineclubes do país?

CEC: Sem dúvida, apesar de cada cineclube ter a sua especificidade devido à sua localização geográfica. Mas acabamos por ter traços comuns, quer pelas dificuldades de financiamento, quer pelo objectivo primordial – a exibição cinematográfica. A Federação Portuguesa de Cineclubes poderia ter um papel preponderante nesse aspecto, e acreditamos que é esse o seu fim, mas não sentimos que exista um esforço planeado que possa dar resultados. Sabemos a que grande maioria dos nossos colegas cineclubistas também é voluntária, razão pelo qual é necessário um planeamento com a antecedência necessária para que seja possível concatenar a vida académica ou profissional, cineclubística e pessoal.

C7A: Sabemos que existem dois cineclubes na cidade, o CEC e o Fila K Cineclube, fundado em 2002. Existe algum tipo de parceria entre as duas associações?

CEC: Actualmente, não existe qualquer parceria com o Fila K Cineclube. No entanto, estendemos a todos os associados dos cineclubes nacionais preços reduzidos face ao preço do público geral nas inscrições do Cinemalogia.

C7A: O cineclube só vive da dedicação e trabalho dos voluntários?

CEC: Sim, somos todos voluntários, o que por vezes torna as coisas um pouco complicadas. De facto, é preciso muita dedicação e espírito de sacrifício para conseguir levar a cabo todas as actividades que promovemos.

C7A: Película ou Digital?

CEC: Ambos, o importante é exibir bom cinema e comunicar com o público. Um filme sem públicos é um filme sem “estórias” para contar.

C7A: Um dos principais objetivos de um cineclube é o de discutir e refletir sobre cinema. Acha que os cineclubes hoje tem cumprido essa missão, para além da simples exibição?

CEC: Acreditamos que, com a difícil conjectura económica que o país atravessa, seja difícil a alguns cineclubes terem um papel interventivo, para além de exibidores de cinema. O CEC tem conseguido manter esse papel interventivo quer através da discussão que promove no final das exibições com a presença dos principais intervenientes nos filmes, quer com convidados para discutirem a ligação das diversas expressões artísticas no cinema. Além de exibidor e promotor cultural, o CEC tem-se dedicado à investigação do cinema e de outras áreas onde actua através de artigos em científicos apresentados em conferências internacionais desenvolvidos sobre o cinema português e sobre o festival, como foi o caso mais recente da 12th International Colloquium on Nonprofit, Social, Arts and Heritage Marketing na Heriot-Watt University da cidade de Edimburgo – Escócia e da 4ª e 5ª Conferência Internacional de Cinema de Avanca.

C7A: Espaço “Mensagem do Presidente”: (este espaço é oferecido ao presidente do cineclube para deixar uma pequena mensagem aos sócios/voluntários/público em geral. É um espaço livre e da inteira responsabilidade do presidente.)

CEC: O Centro de Estudos Cinematográficos promove diversas actividades na área audiovisual e multimédia. Todo o desenvolvimento do Centro de Estudos Cinematográficos da Associação Académica de Coimbra só foi possível através do afinco de todos os que por aqui passaram ao longo dos anos e que, por vezes num esforço sobre-humano, tudo fizeram para levar a cabo os objectivos deste Cineclube Universitário, divulgando e promovendo a 7ª Arte. Ao se associar ao CEC poderá participar nas nossas actividades, ter acesso livre nos Ciclos de Cinema, preços reduzidos nas acções de formação como é o caso do curso Cinemalogia, preços reduzidos no festival Caminhos do Cinema Português, entre outras vantagens. Poderá encontrar estas e outras mais informações sobre as nossas actividades em www.caminhos.info e www.cecine.com. Não poderíamos deixar de dar uma palavra de incentivo e força ao cinema7arte pelo esforço na caracterização e estudo, único, dos cineclubes que conseguiu com esta rubrica.

Centro de Estudos Cinematográficos_logo

Querido Diario - Edição Cineclubes - #13

Chegamos ao fim da nossa primeira viagem!

(regressamos no inicio de 2014)

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Uma ideia original de

Cinema 7ª Arte

Texto de

Tiago Resende

Revisão de

Eduardo Magueta

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