“Querido Diário: Edição Cineclubes” é uma rubrica original dos criadores do Cinema 7ª Arte que remete o leitor para uma viagem de vespa por Portugal fora, numa demanda dos cineclubes ainda ativos. De cidade em cidade, iremos conhecer cada cineclube e os seus nativos que se esforçam por partilhar a paixão pela sétima arte.
Obrigado por nos receberem em Barcelos, cidade com grande património arquitectónico e de onde o artesanato é a sua principal identidade. Os barcelenses tornaram-se ‘irreverentes’ ao criarem em 2005 a associação cultural Zoom – Cineclube de Barcelos, que tem vindo a promover e a divulgar o cinema na região.
Legenda: C7A – Cinema 7ª Arte / CCB – Cineclube de Barcelos
C7A: O que motivou a criação de um cineclube na cidade de Barcelos?
CCB: O que motivou a criação de um cineclube em Barcelos foi a ausência na cidade de um espaço de exibição não comercial.
C7A: Barcelos situa-se a vinte minutos de Braga, uma cidade capital de distrito que tem variadas ofertas culturais, entre as quais, salas de cinema modernas. Conseguem oferecer uma solução de cinema, que foge à das salas comerciais?
CCB: A nossa oferta baseia-se sempre numa programação de cinema de autor. Embora o Theatro Circo actualmente apresente uma programação semelhante à nossa conseguimos encontrar público e formas de actuar que fidelizam os nossos associados. Falo por exemplo em sessões de cinema comentado, filmes-concerto, entre outros.
C7A: Conseguem atrair público fora de Barcelos?
CCB: Pontualmente sim. Sobretudo quando realizamos acções que envolvem projectos que complementam o cinema como os filmes-concerto, por exemplo.
C7A: São um cineclube que não se dedica em exclusivo ao cinema. Incentivam também outros públicos a participar noutras artes, como a música, a fotografia, as artes plásticas a multimédia. Certamente estas atividades paralelas diferenciam-vos da maior parte dos cineclubes do país, correcto?
CCB: Sim, a ZOOM, Associação cultural é a instituição que gere as actividades do cineclube mas que, entre outras coisas organiza actividades culturais noutras áreas.
C7A: Vocês criam uma programação pensada em exclusivo para o público?
CCB: A nossa programação é bastante criteriosa e pensada de acordo com as directrizes estabelecidas na fundação da ZOOM – uma programação assente em cinema de autor, de proveniência europeia, com destaque para o cinema português.
C7A: É difícil para vocês criar uma programação de cinema mais independente e com clássicos do cinema, sem que não apareça muito público?
CCB: Existe um público em Barcelos que procura o tipo de oferta que proporcionamos. Temos a sorte de não viver de números e podemos programar de acordo com uma ideologia e um critério sem nos submetermos ao número de espectadores que aparecem nas sessões.
C7A: Costumam passar algum cinema português?
CCB: Sim. Embora actualmente e devido a questões financeiras estarmos a exibir apenas dois filmes por mês estivemos durante muitos anos a programar de acordo com uma estratégia que implicava a exibição de um filme portugês por mês. No próximo mês de Março exibiremos por exemplo o Vale Abraão do Manoel de Oliveira comentado pelo professor António Preto.
C7A: Atualmente, em época de muita crise, onde as pessoas tem menos dinheiro para ir ao cinema, como conseguem gerir as contas do cineclube?
CCB: Temos a sorte de poder contar com o apoio da autarquia de Barcelos que nos tem possibilitado as condições logísticas e financeiras para desenvolvermos um trabalho de qualidade e sem comprometermos a nossa ideologia de actuação.
C7A: Qual a importância deste cineclube para a cidade de Barcelos e qual a importância dos cineclubes hoje na sociedade?
CCB: Os cineclubes têm vindo a desempenhar o papel que compete ao estado sobretudo na divulgação do cinema português. A troco de meia dúzia de tostões o ICA – instituto do cinema e audiovisual – coloca nos cineclubes o a responsabilidade de realizarem o trabalho que o estado não faz. Em Barcelos, cidade ainda muito pouco desenvolvida culturalmente, o Cineclube de Barcelos tem vindo a desempenhar um papel fundamental quer na formação – pela ligação estreita que estabelece com as escolas da cidade – quer pelas actividades pedagógicas que proporciona ao público em geral e pelo envolvimento que propicia aos actores culturais da cidade.
C7A: Sentem falta de apoios do estado ou das câmaras municipais para os cineclubes?
CCB: Obviamente. Actualmente não temos apoio do ICA e isso provoca bastantes problemas na nossa programação.
C7A: Acham que deveria haver uma maior relação de parceria entre outros cineclubes do país?
CCB: Acho que sim. Embora sejamos o pior exemplo disso pois andamos sempre desligados por falta de tempo, etc. Uma maior relação entre todos possibilitaria uma melhor programação em rede e menores custos de aluguer perante as distribuidoras.
C7A: O cineclube só vive da dedicação e trabalho dos voluntários?
CCB: Sim, claro.
C7A: Película ou Digital?
CCB: Película.
C7A: Um dos principais objectivos de um cineclube é o de discutir e refletir sobre cinema. Acha que os cineclubes hoje tem cumprido essa missão, para além da simples exibição?
CCB: Sim. Normalmente são os cineclubes a promover o debate em torno do cinema, a organizar actividades com a presença dos realizadores e actores dos filmes, a organizar festivais, debates e conferências sobre o cinema.
C7A: Espaço “Mensagem do Presidente”: (este espaço é oferecido ao presidente do cineclube para deixar uma pequena mensagem aos sócios/voluntários/público em geral. É um espaço livre e da inteira responsabilidade do presidente.)
CCB: A mensagem que deixo aos sócios é a de que se unam e assumam uma posição de resistência face aos actuais mecanismos da indústria cinematográfica. Que apoiem o cinema português e percebam a importância que todos os cineclubes têm na promoção do cinema de autor.
A viagem termina!