Depois de um brilhante trabalho em “O Discurso do Rei” (2010) e de um fraco trabalho em “Os Miseráveis” (2012), Tom Hooper regressa com um interessante filme sobre Einar Wegener, pintor dinamarquês que se tornou numa das primeiras pessoas no mundo a submeter-se a uma intervenção cirúrgica de alteração de sexo. O realizador inglês revela em “A Rapariga Dinamarquesa” uma nova sensibilidade num filme que explora o tema da transexualidade.
O filme baseia-se na obra homónima de David Ebershoff que, por sua vez, se inspira na relação dos artistas Einar Wegener/Lili Elbe (Eddie Redmayne) e Gerda Wegener (Alicia Vikander). Esta é de facto uma história extraordinária sobre uma das primeiras (e não a primeira, como o filme tenta passar) pessoas a fazer uma mudança de sexo e é também uma história de amor, das questões conjugais, de luta, entre duas pessoas que não amam o ‘homem’ ou a ‘mulher’, mas sim a pessoa. Ou seja, o amor entre dois seres humanos.
Tom Hooper podia ter explorado muito mais este tema da transexualidade e podia ter explorado a reação e os preconceitos da sociedade a essa transformação do corpo (em que, neste caso, há uma mulher num corpo de homem). O filme peca bastante por isso. Peca também por o realizador seguir os padrões convencionais de um filme biográfico, mas ainda assim consegue filmar com alguma elegância.
Apesar de Tom Hooper se ter revelado um ‘melhor’ realizador, mais sensível com a câmara, com uma cinematografia que realça a beleza das imagens, este filme continua a ser um daqueles que vive unicamente da narrativa e sobretudo das interpretações dos dois atores. Eddie Redmayne, depois da sua interpretação soberba em “A Teoria de Tudo” (2015), consegue repetir o feito, transformando-se novamente com uma magnífica e tocante interpretação. O ator capta os gestos e a sensibilidade, revelando o seu lado (escondido) mais feminino. Redmayne é de facto um dos atores mais notáveis da atualidade. A sua parceira, Alicia Vikander, destaca-se também ao lado do ator com uma interpretação forte.
“A Rapariga Dinamarquesa” tinha potencial para ser algo mais, pois a transformação do realizador acabou por ser insuficiente, no entanto merecedora da nossa atenção. Quem se transforma realmente é Eddie Redmayne e Alicia Vikander.
Realização: Tom Hooper
Argumento: Lucinda Coxon
Elenco: Eddie Redmayne, Alicia Vikander, Amber Heard
Reino Unido/2015 – Drama
Sinopse: Marcante história de amor inspirada na vida das artistas Einar Wegener/Lili Elbe e Gerda Wegener. O casamento e trabalho de Lili e Gerda progride, enquanto navegam pela arrebatadora viagem da pioneira transgénero.