Um filme de Ken Loach é sempre um acontecimento, mesmo que no final fiquemos um pouco desiludidos, pois as expectativas são sempre muito elevadas para o cineasta britânico. Depois de ter estreado em Cannes, este ano, “O Salão de Jimmy”, um retrato politizado na Irlanda dos anos 30, com uma personagem poderosa e sem compromissos, revelou ser um filme demasiado simpático, até mesmo para Loach. Parece que com a idade (78 anos), Loach tem vindo a ficar mais mole com os seus filmes. Ainda assim, são sempre filmes interessantes de se ver. O realizador de “Kes” (1969) e “Brisa de Mudança” (2006), que venceu a Palma de Ouro em Cannes, continua a fazer filmes sobre política, que abordam o conflito entre Irlanda e Inglaterra, quase sempre com um estilo documental.
Em “O Salão de Jimmy”, o cineasta adaptou uma peça de Donal O’Kelly, para contar a história de resistência de James Gralton (1886-1945), figura-chave do Grupo de Trabalhadores Revolucionários que deu origem ao actual Partido Comunista Irlandês. A acção passa-se depois de “Brisa de Mudança”, nos anos 30, numa Irlanda saída da guerra civil que prometia mudanças, mas continua preconceituosa e presa à igreja. James reabre o seu salão de baile, um lugar onde todos são bem-vindos e onde é possível dançar, estudar, pintar e debater ideias livremente. A população trabalhadora encontra neste lugar uma liberdade que nunca tinham tido antes e o salão alcança grande sucesso na região. No entanto, a Igreja Católica e os latifundiários vêem o salão como uma ameaça e James como um dissidente.
O realizador apresenta um argumento simples mas interessante, abordando novamente esta temática de defensor da liberdade e da igualdade de direitos da Irlanda. Sem medo de assumir a sua preferência pelos ideias comunistas, James Gralton é o novo herói de Loach. Aquele salão, onde todos eram iguais, onde todos podiam divertir-se e aprender ao mesmo tempo, serem eles próprios, sem preconceitos, foi um lugar que incomodou os mais fieis à igreja, os que tinham medo do comunismo e os grupos fascistas. Já dizia Ken Loach que, “um filme não é um movimento político, uma festa ou sequer um artigo. No máximo, pode juntar a sua voz ao ultraje público.”.
Apesar de estar bem realizado, ter boas interpretações e de a história ser muito interessante, falta a emoção, a garra e um aspecto mais realista que os seus filmes mais antigos tinham. Ficamos à espera de ver “O espirito de 45”, um documentário feito inteiramente com imagens de arquivo dos anos 40 em Inglaterra, que deverá estrear em Portugal em setembro deste ano. “O Salão de Jimmy” é um filme leve, ainda assim vale a pena para conhecermos a história de vida deste homem corajoso que dedicou a sua vida à sua família e à Irlanda.
Realização: Ken Loach
Argumento: Paul Laverty, Donal O’Kelly
Elenco: Barry Ward, Simone Kirby, Andrew Scott
Reino Unido/2014 – Drama
Sinopse: Em 1932, depois de viver exilado dez anos nos E.U.A., Jimmy Gralton regressa à sua terra para ajudar a mãe e cuidar da quinta da família. A Irlanda que encontra, dez anos depois da guerra civil, tem um novo governo e muitas esperanças no ar… Devido às solicitações por parte dos jovens do Condado de Leitrim, Jimmy, apesar de reticente em provocar os seus velhos inimigos (como a Igreja ou os grandes proprietários), decide reabrir o seu “Hall”, um salão aberto a todos, onde se pode dançar, estudar, ou conversar. De novo, o sucesso é imediato. Mas a influência crescente de Jimmy e as suas ideias progressistas não agradam a todos na aldeia e as tensões acabam por reaparecer…