Alejandro G. Iñárritu, indubitavelmente um dos mais emblemáticos realizadores do nosso tempo, conhecido pelos sucessos maiores de “Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)” (2014) e “The Revenant: O Renascido” (2015) e vencedor de 4 Óscares, concedeu uma entrevista recente, na qual abordou o panorama atual do cinema e tudo o que envolve no seu processo criativo, na sua tentativa de elevar a obra a um patamar etéreo, confessando: “Tudo começa com uma ideia, com uma imagem, com um tema ancestral. É no limbo da mente que exploras a condição humana. É tudo uma experiência de inquietude, de uma realidade que nunca previ”.
Em resposta ao que motiva a obra-prima, ao que aspira quando promove o filme em todas as suas dimensões infinitas, Iñárritu foi perentório: “A obra de arte visa combater a invisibilidade. A intenção é uma perseguição da dor, inevitável a qualquer ser humano. É um escape. Quem não viu a dor não viu nada, não viu a realidade. – Mas a dor pode transformar-se, pode transcender-se. É tudo um refúgio”.
Numa vontade incessante de dizer algo mais, de combater o vazio e a angústia do caráter inefável da linguagem artística, o cineasta mexicano de 55 anos salientou: “não compreender, a falta de entendimento da realidade, é o motor, a raiz. Podes quiçá aspirar a entender mais profundamente, nesse pequeno fragmento: quando lemos, intelectualizamos, e quando vives, sensorialmente, fisicamente, tu ligas-te ao presente. E no final das histórias dás-te conta da dimensão humana”.
Com efeito, na sua perspetiva íntima, no seu cerne intelectual e, sobretudo, humano, na relação bilateral com o espectador, no romance lírico imortalizado pela sétima arte, Iñárritu, o maestro da antecâmara, enfatiza: “é tudo um quadro “redimensional”, um plano sequencial, um guião multinarrativo, em harmonia com a gramática pessoal, em cada momento. A coerência da ficção, a manipulação, é um intercâmbio”.
Por fim, a título mais pessoal, numa visão otimista, num caminho unívoco com a plateia, com o universo que assiste e se deixa encantar pela película, o realizador esclarece, para que não haja dúvidas, o compromisso do espectador nesta troca mágica de sensações que se completam: “tu vais ser livre de fazer a tua narrativa, num mundo que não criei. É um paradoxo. A linguagem cinematográfica faz-te ir pelos caminhos que eu quero que tomes, mas tu decides”.
Ele dá-nos tudo aquilo que precisamos para sonhar com o coração, para chegar lá, ao ponto da compreensão e união entre a beleza dos artistas e a nossa história, a nossa essência: “eu dou ao espectador todo o universo, dou as chaves para que tu abras as portas”.
De facto, está tudo nas mãos do público conseguir elevar a arte cinematográfica a patamares mais altos, à plenitude de um amor genuíno pelo cinema, através da estonteante fatalidade catártica, da abstração da realidade, e do sublime câmbio paradigmático entre ser e sentir.