Martin Scorsese é um dos poucos nomes de referência do Cinema Clássico Americano, ainda em actividade. Com uma obra singular, este cineasta entrou para a história do cinema com filmes, como: «Taxi Driver» (1976), «Touro Enraivecido» (1980), «A cor do Dinheiro» (1986), «Tudo Bons Rapazes» (1990), «A Idade da Inocência» (1993) e «Gangues de Nova Iorque» (2002). Scorsese habituou-nos a um certo tipo de cinema, um cinema inteligente, artístico, que faz pensar, de autor. Nunca foi um realizador de êxitos comerciais. Nesta última década, a sua obra tem-se transformado um pouco mais comercial, com «O Aviador» (2004) e «The Departed – Entre Inimigos» (2006). Scorsese sempre quis ser reconhecido em Hollywood, sendo que conquistou o seu primeiro Óscar em 2007, com «Departed». Consegue, agora, com «Shutter Island», obter o seu primeiro grande êxito comercial. Um thriller psicológico brilhante, que envolve o público dentro da personagem de Teddy Daniels. Quem vir este filme sairá do cinema a pensar na história, ninguém sairá indiferente.
Estamos em 1954, durante a Guerra Fria, os agentes Teddy Daniels (Leonardo DiCaprio) e Chuck Aule (Mark Rufallo) são chamados a investigar, num hospital psiquiátrico, um complicado desaparecimento, de uma criminosa. Hospital esse, que fica situado numa ilha, a “Shutter Island”. Esta ilha está “armada” como um campo de concentração. A única maneira de entrar e sair da ilha é de barco. Os funcionários do Hospital não se mostram muito empenhados em ajudar os agentes, na sua investigação, principalmente, o Dr. Cawley (Ben Kingsley). Um forte furacão destroi parte dailha e das instalações de segurança do hospital, deixando todos os pacientes à solta pela ilha. Os dois agentes aproveitam esta oportunidade para fazer uma investigação mais minuciosa, entrando na “Ala C”, um setor proibido aos agentes de entrarem. Teddy Daniels apercebe-se que usavam os pacientes para experiências médicas, mais concretamente, usando a técnica da lobotomia. Aos poucos, Teddy começa a envolver-se e a descobrir segredos, que o tornam confuso, louco e com medo. Teddy tenta a todo o custo sair vivo daquela ilha.
O final do filme é soberbo, tendo dois finais possíveis. A frase final de Teddy Daniels “vale mais a pena viver como um monstro ou morrer como um homem bom?”, pode ser interpretada de duas maneiras. “Viver como um monstro” poderá significar que Teddy estaria a dizer averdade e não estaria louco, ou o contrário. Mas, uma coisa é certa, Teddy estava lúcido, quando se submeteu à lobotomia.
Adaptado do romance homónimo de Dennis Lehane, publicado em 2003. Este arrepiante, empolgante e complexo thriller consegue agarrar o público do primeiro ao último minuto, apesar das suas duas horas de duração. Esta história está repleta de flashbacks, que nos ajudam a conhecer melhor o passado da personagem, Teddy Daniels.
A fotografia é fantástica, criada por Robert Richardson, conhecido diretor de fotografia de filmes, como, «Sacanas Sem Lei» (2009), mais recentemente, «Kill Bill, 1 e 2» (2003/2004) e «Platton» (1986). Quanto á realização, Scorsese é Scorsese. Não há muito mais acrescentar. Quem conhece a obra de Scorsese sabe que é um mestre da realização, preocupado em filmar todos os pormenores técnicos da história. A maneira como arquitecta as sequências é soberba.
O elenco é igualmente bom. Leonardo DiCaprio passa a trabalhar com Scorsese uma quarta vez, depois de, «Gangues de NovaIorque» (2002), «O Aviador» (2004) e «The Departed – Entre Inimigos» (2006). DiCaprio consegue, com uma personagem trágica, obter uma interpretação fenomenal, o que não é novidade, pois DiCaprio é um daqueles jovens atores prodígios, da actualidade. O restante elenco é bastante bom.
«Shutter Island» é, assim, a prova de que Scorsese domina, perfeitamente, este género cinematográfico. Scorsese continua a “marcar pontos” no cinema de autor. Por outro lado, quero voltar a pegar num assunto referido inicialmente: o facto de Scorsese querer ser reconhecido por Hollywood. Deixo, então, a questão no ar – Estará Scrosese a entrar numa fase mais comercial da sua vida?
Realização: Martin Scorsese
Argumento: Laeta Kalogridis
Elenco: Leonardo DiCaprio, Mark Rufallo, Ben Kingsley
EUA/2009 – Thriller/Suspense
Sinopse: 1954, o pico da Guerra Fria, os agentes Teddy Daniels e Chuck Aule são convocados a “Shutter Island” para investigar o improvável desaparecimento de uma criminosa do impenetrável Ashecliffe Hospital. Rodeados por circunspectos psiquiatras e perigosos pacientes psicopatas, eles vêem-se envolvidos numa atmosfera misteriosa e volátil que sugere que nada é o que parece… Com um furacão a aproximar-se da ilha, a investigação progride rapidamente. No entanto, à medida que a tempestade aumenta de intensidade, as suspeitas e os mistérios multiplicam-se, cada um mais terrível e tenebroso que o anterior. Há indicações e rumores de conspirações sombrias, sórdidas experiências médicas, alas secretas, controlo mental e inclusive de algo sobrenatural. Movendo-se nas sombras do hospital, assombrado pelos terríveis actos dos seus instáveis habitantes e pelos desígnios desconhecidos dos igualmente suspeitos médicos, Teddy começa a sentir que, quanto mais fundo ele chega na investigação, mais perto está de se ver confrontado com alguns dos seus mais profundos e devastadores medos. E apercebe-se também que poderá não sair vivo daquela ilha…