“O oceano tem seis milhas de profundidade” tal como este filme que consegue ser muito profundo ao tocar em temas sérios, em tom de humor. Richard Ayoade é um nome desconhecido para muitos, mas tenho a certeza que depois deste filme vai deixar de o ser. Richard apresenta-nos uma obra bastante peculiar, apesar de registar um estilo que o público começa a habituar-se a ver nas comédias indies, como em “Juno” (2007) e “Scott Pilgrim contra o Mundo” (2010). O filme, que se divide em 5 partes, é uma adaptação do livro homónimo de Joe Dunthorme.
Oliver Tate é um jovem de 15 anos solitário e impopular na escola. Os seus dois principais objetivos são: perder a virgindade com a sua primeira namorada Jordana antes do seu próximo aniversário e salvar o casamento dos seus pais.
“Submarino”, como o próprio nome do filme sugere, apresenta-nos as personagens principais, Oliver, pais de Oliver e Jordana, como se cada uma fosse um submarino que anda à deriva, pelas extensas profundezas do oceano. Estas quatro personagens estão submersas no fundo oceano, sem saberem como emergir. “Submarino” submerge literalmente no quotidiano de Oliver Tate, tanto é que a primeira cena do filme mostra Oliver sentado no chão do seu quarto ao lado de uma pintura de um oceano com um submarino, pintados na parede, a uma altura superior a Oliver. Já na cena final do filme, Oliver está na praia com Jordana com os pés dentro de água, ou seja, com o resto do corpo fora de água. Tudo isto é assumido no próprio filme, sendo que a certa altura o pai e Oliver falam da sensação de estar “por baixo de água”. Durante todo o filme encontramos muitos simbolismos referentes ao oceano, submarino e água, nada é por acaso. São estes pequenos pormenores como a profissão do pai ser biólogo marinho, ou terem um grande aquário na sala de jantar ou o fato de Oliver gostar de passar algum tempo sentado numa banheira abandonada num campo, que tornam o filme bastante singular e cativante. O filme usa constantemente dois elementos da natureza: o fogo e a água, sendo que o primeiro normalmente une as personagens e o segundo as afasta.
Oliver Tate tem de passar naquele que será provavelmente o teste mais difícil da sua vida, o de ter de escolher entre salvar o casamento dos seus pais ou a relação com Jordana. Ele sabe que não consegue salvar os dois ao mesmo tempo, tendo obrigatoriamente de “afundar” um deles. O seu pai chega a oferecer a Oliver uma cassete com músicas românticas com dois lados, o Lado A (Celebração) e o Lado B (Melancolia).
A adolescência é um tema bastante usado no cinema, no entanto são poucos os filmes que conseguem mostrar as complexidades e angustias desta fase da vida. O filme consegue brilhantemente abordar várias questões da nossa vida como o amor, a doença, a família e o bullying.
Richard Ayoade realiza este filme de forma bastante original, divertida e tocante, com belíssimos momentos musicais (excelente banda sonora) e com uma sublime fotografia, filmada numa vila pacata anónima, num tempo anónimo. Tal como o argumento que contem diálogos soberbos que foram invejavelmente interpretados por um fantástico elenco, tanto os novos como os velhos. Craig Roberts, que se estreia no cinema, é fenomenal e sincero.
“Submarino” é assim um dos filmes mais surpreendentes do ano que irá certamente criar uma legião de fãs. Uma comédia indie a não perder, um dos melhores filmes do ano.
Realização: Richard Ayoade
Argumento: Richard Ayoade
Elenco: Craig Roberts, Noah Taylor, Paddy Considine, Yasmin Paige, Sally Hawkins
Reino Unido/2010 – Comédia
Sinopse: Na cabeça de Oliver Tate, um adolescente de 15 anos, ele é cool, um génio literário. Na realidade, é socialmente incapaz e bastante impopular. Oliver estabeleceu dois objectivos para o Verão: perder a virgindade antes do seu próximo aniversário, com Jordana – uma “bully” piromaníaca – e evitar que a mãe troque o seu pai por um “guru” new age…