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«A Teia de Gelo» – É um insulto ao cinema português!

O que dizer sobre este filme? Desde o primeiro dia que soube que Nicolau Breyner ia realizar o seu novo filme, “A Teia de Gelo”, em duas versões (uma em português e a outra em inglês), pensei que coisa boa não podia vir. Mas lá decidi ir ver o filme, para poder escrever a crítica e as minhas suspeitas confirmaram-se. Segundo o realizador e argumentista, Nicolau Breyner, “a ideia é exportá-lo”. Ora foi com este argumento que ele estragou tudo. Numa simples frase Nicolau insulta o cinema português. Parece que Nicolau não tem um pingo de amor à arte e ao cinema português. É preciso ter muita lata para dizer que o nosso cinema só é exportável se for falado em inglês. Pois bem, o senhor Nicolau não tem visto muito cinema português nos últimos dez anos. Vou enumerar alguns casos de sucesso cá dentro e lá fora, por parte do público e da crítica: “José e Pilar” (2010), “Mistérios de Lisboa” (2010), “A Morte de Carlos Gardel” (2011), “O Barão” (2010), “Sangue do Meu Sangue” (2011), “Tabu” (2012) e “Florbela” (2012) são alguns dos melhores exemplos do melhor cinema português dos últimos dois anos. Estes filmes são marcos importantes na história do cinema português,  para além de que ganharam bastantes prémios nacionais e internacionais e tiveram público.

Tal como no seu primeiro filme, “Contrato” (2009), e agora em “A Teia de Gelo”, o estilo de Nicolau é assumidamente comercial, cheio de grande intensidade, ação, suspense e sexo, onde provavelmente estes elementos irão atrair a atenção do público. Mas se para se ter público é preciso descer tão baixo, mais vale abandonar a “carreira” de realizador. Sim, porque Nicolau Bryner é um verdadeiro profissional na televisão, mas por favor, ponha o cinema de lado e não gaste os fundos do FICA, que financiou o filme. “A Teia de Gelo” teve ainda o apoio da TVI, sendo que explica muito do insucesso do filme. É facil distinguir-se o tipo de filmes que a TVI apoia dos filmes da RTP, pois há uma grande divergência.

“A Teia de Gelo” conta a história de Jorge (Diogo Morgado), um informático ambicioso que desvia, da conta do chefe, uma enorme quantia de dinheiro para a sua conta pessoal. O chefe ameaça-o de morte se não receber o dinheiro de volta, pelo que Jorge foge, até que sofre um acidente de carro no meio de uma tempestade de neve. Desesperado foge a pé, até que encontra uma casa, no meio do nada, onde é acolhido. É nesta casa, recheada de misteriosas mulheres e de segredos ocultos, que grande parte da ação se desenrola.

A história é do mais simples e banal que há, pelo que está carregado de clichés. Cada personagem, cada cena, cada diálogo é um cliché. Até a música que é usada nos momentos de suspense, estraga logo o elemento surpresa. Logo aos primeiros 20 minutos de filme fiquei farto dele. É aborrecido e não tem nada de original.

Nicolau até pode ter contratado um bom operador de câmara e um bom diretor de fotografia, mas isso não chega. De facto a fotografia é talvez a única coisa que se salva deste filme, assim como alguns movimentos de câmara. O cinema português tem de facto bons técnicos.

Quanto ao elenco, diz-se de luxo, mas não o é. Fracas interpretações, sendo que o melhor ator do grupo é Nuno Melo, mas esse pouco ou quase nada fala. Diogo Morgado já teve melhores interpretações. Talvez a culpa destas péssimas interpretações seja do fraco argumento.

O cinema português está já a um nível que se distancia muito deste filme. Penso que há espaço para todos, cinema comercial e de autor. Evidentemente deve também existir cinema comercial, mas não deste nível e com o argumento de que para exportá-lo é preciso ser falado em inglês. Esse foi logo o primeiro erro de Nicolau. “A Teia de Gelo” é assim um insulto ao cinema português e uma mancha negra, que facilmente será limpa, neste ambiente de evolução e encanto que o cinema português vive.

37a5c6f2cb0738844cef6c8cec88046d 36Realização: Nicolau Breyner

Argumento: Nicolau Breyner

Elenco: Diogo Morgado, Elisa Lisboa, Margarida Marinho, Nuno Melo, Patrícia Tavares, Paula Lobo Antunes

Portugal/2012 – Drama

Sinopse: Jorge, um jovem ambicioso, tenta enriquecer rapidamente desviando dinheiro da empresa para a sua conta pessoal. Descoberto pelo chefe, sente que a sua vida corre perigo e refugia-se na montanha onde um forte nevão lhe causa um acidente de carro. Perseguido, gelado e perdido no meio da neve Jorge entra nas profundezas da Serra onde, ao avistar uma casa antiga, pensa estar finalmente a salvo. Mas nesta casa não há telefones, aparecem misteriosos cadáveres, há sombras de facas nas paredes dos corredores, as portas trancam-se sozinhas e estranhas mulheres visitam os quartos sem serem convidadas…

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