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«The United States vs. Billie Holiday» – Andra Day é diva em melodias sobre “frutos peculiares”

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Eu sou uma mulher negra nos EUA. Sei o que é ser invisível”, afirmou a atriz Andra Day na conferência virtual promovida pela American Cinemateque, no início de fevereiro deste ano, sobre a criação e trabalho no filme “The United States vs. Billie Holiday”, biopic desenvolvida por Lee Daniels (“Precious”, “Paperboy”) que encontra um intuito de existência nesta declaração.

Se é bem verdade que a importância da representação tornou-se num enfoque em muita cinematografia americana (em meio de revanche perante uma invisibilidade que a indústria encarou em relação a algumas “vozes”), e mais no que refere a expor a discriminação e racismo, algo escancarado (diga-se de passagem) nos EUA, diversas vezes valorizada acima do progresso técnico e estético, a cinebiografia de Billie Holiday (1915 – 1959) concentra-se nesse mesmo ponto, o de descortinar o ativismo de palco da cantora de jazz, com especial atenção no seu controverso single de 1939 – “Strange Fruit” – referente aos linchamentos dirigido a negros no Sul, que ainda são hoje, crimes impunes.

Holiday viveu, acima do seu estatuto de diva, nessa constante confrontação com o mundo que não aceitava e, pior que isso, a transformava numa espécie de canário enjaulado, para entretenimento de brancos embutidos no seu conforto privilegiado. Lee Daniels preserva os elementos comuns (quase manientas) das cinebiografias musicais, mas o “mutilando”, e como em jeito de cumplicidade, assumir essa presença de choque com todas as questões que a figura invoca. Desde o seu contacto com a segregação dos afro-americanos, ainda, em plena década de ’50, até às intervenções da FBI em atuar sob a resiliência em prol de uma América sob valores brancos, conservadores e cristãos (existe um pormenor delicioso na divisória entre negros e brancos na agência federal), essa demanda ideológica de J. Edgar Hoover.

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Acreditamos que o propósito do filme afunila nas suas mensagens e reconstituição social, mas existe uma preocupação formal que resgata o projeto da simples emissão. A começar por Andra Day, a atriz que veste a pele desta artista de records (hoje, meio esquecida frente a outras divas), é uma encantada e frágil ave canora, retida no seu palco, enquanto este, transforma na cerne teatral de todo este percurso (de salientar a, por fim, performance de “Strange Fruit” que finaliza um aparente “one-cut scene” que vai despertando o senso de militância na cantora, anteriormente cedida ao somente transe e dos calores dos desejos “pecaminosos”, dito isto num prisma igualmente cristianizado).

“The United States vs. Billie Holiday” não é certamente um filme de excessos, mas dentro da sua contenção se expõe como deve, dando, curiosamente, uma presença artificial dentro das comuns e anónimas biopics obcecadas pelo realismos e da fidelidade dos factos (obviamente, sob contextos de espetacularidade hollywoodesca).

“Here is a fruit for the crows to pluck”

«The United States vs. Billie Holiday» – Andra Day é diva em melodias sobre “frutos peculiares”
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