«Time can tear down a building or destroy a woman’s face Hours are like diamonds, don’t let them waste.»
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Two Mules for Sister Sarah (1970)
«Two Mules for Sister Sarah» é um filme de 1970 realizado por Don Siegel a partir de um argumento de Budd Boetticher, e revelase assim um sonho para qualquer cinéfilo.
Não se trata, na verdade, de uma obra notável, mas em qualquer caso é um filme que cresce no intelecto do espectador através da memória que guarda do enredo e da interpretação dos protagonistas, como acontece em qualquer narrativa audiovisual inteligente.
Apelativo pelo seu sentido de humor, crueza e drama, é de realçar a sua vivacidade rica mas complexa, que combina ideias, imagens e personalidades preponderantes na cena cinematográfica mundial.
Hogan (Clint Eastwood) um mercenário norteamericano do século XIX ao serviço dos seguidores do patriota mexicano Juaréz e Sara (Shirley MacLaine) uma freira de quem Hogan salva de uma violação, seguem numa jornada em que são perseguidos pelas tropas Francesas que, à altura, governavam o território.
Entre Hogan e Sara (duas boas interpretações de Eastwood e MacLaine) existe desde o inicio uma tensão fundamentada no perfil que ambos representam. O primeiro, que exerce uma profissão, e o segundo, que segue uma vocação. Esta tensão verifica-se também ao vermos que Hogan usa junto ao coração uma barra de dinamite, assim como uma freira usa a sua cruz, e através da força da pólvora ele traz ao mundo curas maravilhosas.
Sara é uma personagem paradoxal. É misteriosamente espiritual quando fisicamente mais activa, contribuindo para que as peripécias de «Two Mules…» desafiem as dialécticas ao fazer uso da sua flexibilidade interpretativa (de notar o contributo da banda sonora de Ennio Morricone, simultâneamente graciosa e funcional).
«Two Mules for Sister Sara» transpira as características distintivas do seu realizador («Coogan’s Bluff», «Madigan», «Hell is for Heroes», entre outros) e na sua construcção narrativa aproximase à obra de Boetticher, um realizador de elevada qualidade embora um pouco esquecido (de «The Rise and Fall of Legs Diamond» e «Comanche Station»).
De notar igualmente a colaboração na equipa técnica do realizador com os montadores (Robert Shugrue e Juan José Marino) e Gabriel Figueroa, grande director de fotografia mexicano que fotografou filmes como «Los Olvidados», «Nazarin» e «O Anjo Exterminador». Independentemente da grandeza do seu trabalho com Luis Buñuel, nenhum consegue ombrear com a sequência inicial ou a que precede o climax da história de «Two Mules…».