Deparamos com uma presença, ou será antes ausência, no cinema de Nanni Moretti nos últimos anos, jornada iniciada no “e se…” temporal de “O Quarto do Filho” (2001) e prolongada por “Habemus Papam” (2011), “Mia Madre” (2015), acrescentando ainda o seu desempenho em “Caos Calmo” (2008), de Antonello Grimaldi, e agora nesta adaptação de um livro de Eshkol Nevo, “Tre Piani”.
A consistência deste vazio trabalhado, a não-presença de algo ou alguém que motiva as suas personagens a se posicionar entre uma ação-presente e um passado imperativo (impedindo-as de se avançarem para o futuro). Seja Moretti imaginar a vida do seu filho após estar tragicamente suspensa, ou aguardar num banco de jardim pelo irremediável ou nesta sua nova obra, agora passando o testemunho a Margherita Buy, que comunica com o falecido marido através da voz deste captada num gravador de chamadas. Essa ternura, humanização do nada e ao mesmo tempo de tudo, converteram-se em pontos precisos num Moretti, como o próprio aclamou, de não querer mais fazer filmes à Moretti (indicando obviamente as suas comédias satíricas).
“Tre Piani” parte de uma ideia de constante trindade, são três famílias que residem num aparentemente pacato andar, cada uma delas num diferente andar (três), histórias autodidatas que apenas se cruzam em três específicos momentos, e que a ação permanece em três passagens temporais. Como é possível constatar, três é o signo de Moretti neste enviesamento de tramas, dramáticas mas de conflitos e reações minimalistas, até mesmo a incursão de farpas políticas à moda do realizador soam como levianas. E convém afirmar que essa leviandade não é em vão, a vida soa-nos por vezes pesada na experiência mas num olhar de fora ilude a uma trajetória em movimento na sua prescrita órbita.
Assim, como havia indicado, os três eventos específicos em que este grupo de personagens se unem direta ou indiretamente são reveladores quanto à passagem do seus respectivos individualismos. No fim, o que conta é o coletivo fílmico, Moretti filmou um prédio, uma comunidade, e transformou nessa cadeia de reações num cinema humano e nunca cedido ao espectáculo cinematográfico. É como uma peça teatral (aliás, três), cada uma delas atuando o seu papel, em três (mais uma vez) diferentes palcos, fazendo vénia e saindo em cena. Moretti apenas deu-lhe espaço para exprimirem com contenção.