25 de Abril

Um colírio para olhos chamado Jacob Elordi

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Verdade seja dita, Jacob Elordi é um ator prodígio que, merecidamente, vem se destacando nos últimos anos, em especial entre 2021 e 2023. Apesar de não ser muito fã da série, reconheço que sua interpretação de Nate Jacobs na série Euphoria da HBO foi um divisor de águas em sua carreira. Contudo, como apreciador de cinema, não dei muita atenção a esse detalhe.

 

Após os decepcionantes (e até ridículos) filmes de qualidade média da trilogia “A Barraca do Beijo” da Netflix, Elordi provou que não é apenas um rostinho bonito. Olha só, nem eu sou o único que não curte esses “enchimentos” de streaming que os chefões de Hollywood insistem em chamar de filmes.

 

Em uma entrevista à Gabriella Paiella para a seção “Men Of The Year” da revista norte-americana GQ, Elordi expressou críticas em relação aos filmes que o tornaram internacionalmente conhecido. As três produções da Netflix foram rotuladas como “ridículas” por Elordi, que acrescentou: “Eu não queria fazer aqueles filmes antes de eu fazer aqueles filmes”.

Eu não encaro isso como cuspir no prato que comeu; muito pelo contrário, quem nunca precisou de dinheiro para pagar as contas? Dito isso, quer gostemos ou não, Elordi é um ator habilidoso capaz de transmitir autenticidade aos personagens, conseguindo conquistar e despertar repulsa ao mesmo tempo.

Isso ficou evidente em 2023; nesse mesmo ano, ele brilhou em duas interpretações brilhantes. Em “Saltburn”, de Emerald Fennell, ele fez Felix Catton, um jovem aristocrata britânico que não só seduziu o protagonista, Oliver Quick (Barry Keoghan), como também nos seduziu com sua atuação envolvente. No filme, a interpretação de Elordi é tanto sensual quanto complexa, sendo capaz de transmitir de maneira convincente a ambiguidade do seu personagem.

 

No intrigante drama “Priscilla” de Sofia Coppola, Elordi mergulha de cabeça no papel de Elvis Presley, o incontestável “rei do rock”. Seguindo a característica abordagem de Sofia, que destaca os homens como co-protagonistas de narrativas femininas, o jovem se converte no icónico e ambíguo cantor norte-americano, proporcionando uma interpretação que transita entre o carisma envolvente e uma perturbadora inquietação.

Aqui, Coppola escolheu desviar o foco da imagem pública de Elvis, adentrando cada recanto sombrio de sua esfera privada, seja como marido, pai ou filho. Desde sua dependência em pílulas até sua natureza controladora e lampejos ocasionais de violência, a realizadora lança luz sobre aspectos menos conhecidos do ícone do rock. Isso pode deixar seus fãs e quem assistiu “Elvis”, de Baz Luhrmann, assustados.

 

Elordi consegue prender a atenção do espectador, seja quando Elvis está carismático e arrebatador, seja quando está violento e perturbador. Em parceria com Cailee Spaeny, que interpreta Priscilla, Elordi constrói uma narrativa fascinante sobre o relacionamento dos dois, desde o início “apaixonado” até o fim conturbado.

Na entrevista concedida a Gabriella Paiella, da GQ, ele compartilhou sua preparação, revelando que leu o livro “Elvis e Eu” de Priscilla, que serviu de base para o filme. Além disso, adquiriu DVDs antigos das apresentações de Elvis no eBay e explorou vídeos no YouTube, assegurando-se de ter assistido a quase todas as imagens disponíveis do ícone. Como é típico em sua abordagem a cada personagem, ele manteve um extenso caderno.

O irónico e até cómico é que, antes de toda essa imersão, Elordi revelou no “The Tonight Show With Jimmy Fallon” que só conhecia o Rei do Rock and Roll por meio de “Lilo & Stitch” da Disney.

 

Na ocasião, ele afirmou: “O máximo que eu sabia de Elvis estava em ‘Lilo & Stitch’”, concluindo com um toque de humor, “O que é muito, aliás.” Na mesma entrevista, ao ser questionado sobre as pressões de interpretar Presley, Elordi disse a Fallon que o cantor não estava na sua “lista de pessoas para interpretar”.

Mudando um pouco o foco de “Priscilla”, na mesma entrevista concedida à Paiella, Elordi revelou que recusou a oportunidade de fazer uma audição para o papel do novo Superman no cinema.

Ele explicou a Paiella que, embora esteja ciente de que tudo é possível, no momento não vê interesse em se envolver com filmes de super-heróis. O jovem prefere participar de projetos cinematográficos que ele mesmo teria prazer em assistir, e confessou que, assim como eu e grande parte dos cinéfilos, costuma ficar bastante impaciente ao assistir a esse tipo de filme.

Vale lembrar que 2023 foi o ano em que o grande público saiu feliz de casa para assistir a filmes que não envolviam super-heróis. Em alguns casos, os protagonistas deixaram de figurar em filmes desse gênero, o que ficou evidente pelas decepções tanto nos estúdios DC quanto na Marvel, como em “Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania”, “Shazam: Fúria dos Deuses”, “The Flash”, “Blue Beetle” e “The Marvels”, respectivamente.

Foi o ano em que se tornou evidente a fissura na estrutura da Disney e sua subsidiária Marvel. Essa brecha, que começa a se manifestar, é destacada pela “fadiga do super-herói”, algo que, olhando para trás, não deveria surpreender absolutamente ninguém.

Mas, voltando a falar em coisa boa, a carreira de Jacob Elordi lembra a de Daniel Radcliffe em muitos aspectos. Ambos os atores começaram suas carreiras cedo, interpretando personagens populares que os definiram para o público. Entretanto, depois de seus papéis de sucesso, ambos os atores trabalharam para diversificar suas carreiras, assumindo papéis mais desafiadores e menos conhecidos em projetos interessantes, menores e independentes.

Radcliffe, por exemplo, é conhecido por seu papel como Harry Potter na série de filmes de grande sucesso. Todavia, depois que a série terminou, ele trabalhou para se afastar do papel, assumindo papéis elogiáveis em filmes como “A Mulher de Preto” (2012), “Versos de um Crime” (2013), “O Amor é Estúpido” (2014), “Um Cadáver Para Sobreviver” (2016) e “Fuga de Pretória” (2020).

Seguindo Radcliffe, sua trajetória cinematográfica está prestes a conquistar novos méritos em breve. De acordo com informações divulgadas no ano passado pelo Deadline, Jacob Elordi e Diego Calva, conhecido pela sua participação em “Babilônia”, realizado por Damien Chazelle, estão escalados para interpretar amantes na adaptação de “On Swift Horses”, sob a realização de Daniel Minahan.

Baseada no romance de Shannon Pufahl, a trama explora as complexidades de um casal imerso em um triângulo amoroso após os acontecimentos da Guerra da Coreia. Em uma entrevista à Variety, Calva antecipou que a produção reservará “cenas bem quentes” e compartilhou seus pensamentos sobre o colega de elenco: “Foi muito legal trabalhar com ele [Elordi]. Ele é obcecado por fotografia, ele é obcecado por peças antigas”, disse Diego. “Ele ama Tennessee Williams, ele ama Chekhov. Ele não é o cara que você talvez pense que ele é. Ele é um ator tão legal. Ele é simplesmente incrível. Sinto-me muito orgulhoso”.

Ainda, atualmente, Elordi está trabalhando no mais recente projeto de Paul Schrader, Oh, Canada”, ao lado de lendas como Richard Gere e Uma Thurman.

Segundo a breve sinopse da produção, a adaptação do romance de 2021 de Russell Banks, “Oh, Canada”, conta a história de Leonard Fife (interpretado por Gere), um renomado documentarista que reflete sobre sua vida, à beira dos 80 anos, após receber o diagnóstico de câncer. Como narrador pouco confiável e, em diversos aspectos, menos virtuoso, Fife oferecerá ao espectador um vislumbre de sua vida doméstica. Ele é retratado como um artista que escapa do serviço militar, trocando uma família por outra, evitando consistentemente qualquer senso de responsabilidade por suas ações enquanto inicia uma nova vida no Canadá.

Na produção, Elordi assume o papel da versão jovem do personagem de Gere, retratando-o desde o final da adolescência até os seus 20 e poucos anos.

E as surpresas continuam chegando. Foi anunciado recentemente que ele assumirá o lugar de Andrew Garfield no elenco de “Frankenstein”, a próxima obra cinematográfica de Guillermo Del Toro. Essa troca de elenco não é algo trivial, pois o ator estará encarregado de interpretar nada mais, nada menos do que o papel do próprio monstro que dá nome a icónica trama de Mary Shelley.

Ah, e é importante mencionar que em 2023, Elordi também se lançou audaciosamente em um papel desafiador ao encarnar um serial killer em “He Went That Way”. Inspirado em eventos reais, o título se baseia no livro “Luke Karamazov” de Conrad Hilberry, que narra a história verídica do assassino em série Larry Lee Ranes e do único sobrevivente, Dave Pitts.

 

Enfim, às vezes, é fácil esquecer que atores como Brad Pitt, Jamie Dornan, Ryan Gosling e Bradley Cooper começaram como nada além de rostos bonitos, pois ao longo do tempo demonstraram ser não apenas esteticamente “agradáveis” (para não dizer outra coisa ahahaha), mas também talentosos e versáteis. E é exatamente isso que Elordi está conquistando agora.

Assim, com o início de 2024, encontro-me em um lugar inesperado: um onde, se Jacob Elordi estiver no elenco, eu vou assistir, não importa o que seja.

 

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