O realizador português, Miguel Gonçalves Mendes, passou os dias 5, 6 e 7 de abril, fechado no Free Room do Zero Box Lodge, no Porto, para falar um pouco sobre as dificuldades que ainda enfrenta para conseguir os fundos necessários para conclusão da montagem do seu projecto “O Sentido da Vida“, a estrear em 2020.
Foi num quarto, na forma de um pequeno aquário com uma vitrine para o público, que Miguel Gonçalves Mendes (MGM) recebeu vários convidados especiais: a mãe do realizador; o amigo e escritor Valter Hugo Mãe, com quem assistiu aos primeiros vinte minutos do documentário; a realizadora de animação Regina Pessoa e Pilar del Rio. O Cinema Sétima Arte teve o privilégio de ser a imprensa escolhida pelo realizador para entrar neste pequeno espaço íntimo e poder fazer algumas perguntas.
Um realizador em busca de financiamento. As dificuldades encontradas. O Crowdfunding. O corporativismo como entrave ao financiamento.
Cláudio Azevedo conduziu a entrevista e começou por questionar o realizador sobre algumas das dificuldades que têm surgido para conseguir os fundos necessários para terminar a pós-produção do documentário. Confrontado com uma equipa sem salários, MGM, sentiu a necessidade de procurar fundos através de um crowdfunding na tentativa de angariar trezentos e cinquenta mil euros, valor que precisaria para terminar a montagem do filme; porém, apenas foram conseguidos cerca de dezassete mil euros. O realizador explicou que, o projecto foi, desde o seu início, bastante dispendioso e era um projecto inadiável, pois caso tivesse esperado pela totalidade do orçamento para começar a filmar, não teria conseguido filmar Giovanni Brisotto, protagonista do documentário, que faleceu em 2018. Segundo as palavras do realizador: “há momentos em que devemos ser audazes e que temos de arriscar se queremos ir mais longe”. Entre ajudas inesperadas, de quem teria menos possibilidades e não-ajudas dos amigos – bastante elogiosos – que teriam mais possibilidades, esta perseverança do realizador permitiu, pese embora o valor angariado, levar um pouco mais adiante a montagem do filme.
Sobre as razões que levaram a estas dificuldades em encontrar fundos, MGM afirmou que são de ordem estrutural, afirmando: “não somos um país rico, não temos petróleo, a nossa indústria é muito reduzida, continuamos a ter uma escala demasiado familiar” e “desde quinhentos que temos uma elite que, na verdade, nunca quis o bem-comum”. Estando o tema da família na ordem do dia, o realizador vê este corporativismo a uma escala além partidos, e se assim é, é porque “toleramos a mediocridade do outro porque um dia achamos que poderemos vir a precisar dele” e por isso, “nós somos muitos complacentes com a mediocridade alheia, e é isso que faz com que um país também seja medíocre”, afirmou o realizador.
Foi levantada a questão acerca de possíveis soluções para fazer face a este fechamento corporativista, se passaria por uma união dos artistas ou até se o recurso ao crowdfunding poderia ser uma solução viável. O realizador respondeu-nos de uma forma assertiva: “o caso do Sentido da Vida é uma prova de que não”, afirmando ainda, em tom de brincadeira: “o único crowdfunding que conheço que correu bem foi o dos enfermeiros, mas também tinha grupos de hospitais privados atrás (risos)”. Conseguimos notar algum cepticismo, por parte do realizador, em relação a uma solução eficaz para fazer face a este corporativismo que toma conta do nosso país, “se o 25 de Abril chegou a muitos lados (…) a verdade é que ele não chegou às artes, isto é, a produção artística continua a ser um exercício profundamente burguês, de pessoas que têm a possibilidades de produzir arte porque são ricas; e que, efectivamente, há uma teia de famílias, que são as famílias de Lisboa, em que se tu fazes parte desse circuito, mais facilmente tu consegues ter acesso a apoios e se não fazes, não consegues, ponto”. MGM defende que a melhor solução política seria a abertura de concursos, tanto estatais como em empresas privadas para todas as áreas artísticas, aplicando em Portugal a lei Rouanet – lei esta à qual Bolsonaro porá um fim -, onde, tanto empresas como cidadãos, podem doar parte do seu IRS para fins culturais.
Sobre os financiamentos estatais. ICA. Graça Fonseca. O estranho caso dos financiamentos de Manoel de Oliveira.
Em relação aos financiamentos estatais por parte do ICA e se a nova ministra da cultura Graça Fonseca seria uma mudança positiva, MGM respondeu-nos, com algum cepticismo, que “apenas 1% ou 5 % dos portugueses têm efectivamente apoio por parte do Estado”. Para o realizador, o sucesso de um filme depende de várias causas: “o seu sucesso em festivais; a memória histórica que fica desse filme para a comunidade, ou até o público. Em Portugal há vários realizadores que falham em todos, e continuam a falhar e continuam a receber” (risos). Como exemplo deste sistema viciado de atribuição de fundos, MGM deu o exemplo de Manoel de Oliveira – realizador que admirava muito – “que achava que tinha o direito de receber dois subsídios por ano, para fazer dois filmes por ano; eu acho isso de um egoísmo atroz”, disse-nos MGM. Para o realizador, a solução poderia passar por uma democratização no acesso à cultura, para que as novas gerações possam ter alguma hipótese de ter acesso a fundos para as artes. Sobre este assunto, MGM afirma: “há uma energia vital que existe entre os vinte e os trinta anos e estes putos não têm forma de conseguir produzir o que quer que seja: um, porque não têm acesso às linhas de apoio; e dois, porque a comunidade em geral acha que os agentes culturais são um bando de merdas que a única coisa que querem é viver à conta do orçamento e não percebem que o que determina a história de um povo é a cultura e a ciência”.
O prolongar de um processo criativo e as suas consequências. O perigo do bloqueio criativo. A crença na própria obra como elã para fazer frente às dificuldades que surgem. O imaginário do artista solitário.
Questionado sobre as várias fases de concepção do filme “O Sentido da Vida”, o realizador ressalvou que, quando um projecto se prolonga tanto no tempo, isso “não faz bem à cabeça”, afirmando: “quando tu demoras tanto tempo a fazer um filme, tu começas a entrar em pânico. Imagina que passaram estes sete anos e o filme é uma merda? São sete anos da tua vida que tu deitaste para o lixo; tu tens um peso sempre em cima de ti, que é muito grande e que, às vezes, pode ser bloqueador.”
Se existe esta pressão em cima do realizador, constantemente, perguntamos se existirá, também, um contraponto que o possa aliviar e tirar um pouco desse peso? Haverá um sentimento muito pessoal do realizador, uma confiança que o realizador deposita na sua própria obra que faça com que ele lute – como o Miguel agora faz – para que essa obra em que acredita possa ser concluída e mostrada ao mundo? Neste aspecto, de um sentimento subjectivo em relação à própria obra, MGM disse-nos: “eu, sobretudo, acredito na força do trabalho e no brio do trabalho”. O realizador aponta, sobretudo, para este brio como sendo aquilo que falta a muitos artistas, em Portugal: “incomoda-me alguma displicência de muitos colegas meus”, confessa MGM. Em relação à percepção de si mesmo enquanto realizador e agente artístico, o Miguel valoriza principalmente um tratamento em igualdade com todas as pessoas que o rodeiam, afirmando: “eu não acho que seja brilhante, de todo, acho que sou um tipo que, para o trabalho que faço, que é documentário, tenho algum jeito para conseguir perceber as pessoas, mas porque acho, também, que não as mitifico e as respeito e coloco-me num patamar de igualdade”. Em relação ao esforço que o realizador leva a cabo e às especificidades do cinema documental, MGM fez uma distinção entre o documentário e a ficção. O realizador pretendeu mostrar que o documentário tem uma grande parte de indeterminação no seu processo. Para fazer esta distinção, usou uma analogia do cinema documental com a criação de um filho: “podes pô-lo nas aulas de equitação, de filosofia para crianças, no ballet, no que tu quiseres, tu não sabes se ele aos vinte anos não vai ser um psycho, que vai andar aí a matar pessoas ou se vai ser o Dalai-lama do futuro, e nesse sentido é quase um monstrinho que tu crias. E eu estou muito curioso, em relação ao “Sentido da Vida”, em como este monstrinho vai ficar.”
A escolha por um fechamento de MGM dentro do quarto-aquário levou o nosso entrevistador até à próxima questão. Contando que existe sempre um imaginário romântico que coloca o artista numa posição separada do mundo envolvente para melhor sentir aquilo que tem no seu interior, o realizador foi questionado sobre a sua relação com o exterior quando começa a delinear os seus projectos, se prefere a socialização ou a reclusão para dar forma às suas ideias. MGM respondeu-nos que esta solidão criativa, onde o artista pode “apanhar sol e beber um copo de vinho branco, acabou na faculdade, há vinte anos”. A realidade do artista na verdade é outra, bem diferente dessa visão romanceada. O Miguel ressalva que “a verdade é que não temos tempo para nada, nem condições para nada”, e para além das férias serem escassas, teve também, ao longo destes anos, de partilhar casa com outras pessoas, e isso fez sempre com que, em todo o lugar, estivesse, sistematicamente, acompanhado: “e isso sim é que me leva a enlouquecer (…) porque há muito tempo que não consigo ter um espaço mental só”, confessou-nos o realizador.
A pergunta filosófica “insuportável”. A génese do projecto.
Neste questionário não faltou a pergunta-clichê, ou mesmo “insuportável”, nas palavras do realizador, sobre a visão do Miguel sobre o sentido da vida, sobre, se ele existir, o fundo filosófico desta busca pelo sentido da vida. MGM, por entre algumas gargalhadas, começa por nos dizer que “acha o nome do filme insuportável, porque parece um daqueles livros de auto-ajuda, que se vende nas bombas de gasolina”. Tragando dificilmente esta questão, já muito batida, o realizador começou naturalmente – e generosamente – a dar uma resposta, expondo as suas ideias sobre a escolha deste título para o seu filme. Existe nele uma certa objectividade, pois é um tema vasto, mas ao mesmo tempo específico, que o realizador deseja abordar. E talvez seja este o sentido da própria obra do realizador, uma vez que, em toda a sua obra, há uma omnipresença da morte. Para além da morte, existem questões que foram interpelando o realizador e que serviram como inspiração para o documentário: umas delas é o queixume tipicamente português e por que ele não tem, então, como consequência o suicídio colectivo do nosso povo? O realizador falou-nos, ainda, de outras duas questões que lhe surgiram, em que, numa delas, há uma clara valorização do papel da crítica, na forma como ela pode funcionar como impulso criativo. MGM conta-nos: “uma vez, um crítico quando falou sobre “José e Pilar”, dizia que ele achava que o filme era muito mais do que um documentário, que era uma obra extraordinária e que a única coisa que ele se questionava era para onde eu iria a seguir. E eu fiquei assim… De facto, para onde é que eu vou a seguir?”. A segunda pergunta surgiu enquanto o Miguel lia uma reportagem, que nas palavras do realizador, era “um estudo horrível que dizia que 90% das pessoas, em leito de morte, se arrependem de não ter sido aquilo que realmente eram; e isso é que não posso admitir nem a mim nem a qualquer ser humano que eu ame, nem a qualquer ser humano em geral”. Se, por um lado, estas questões que foram surgindo serviram como forças na direcção da criação desta obra, o realizador também coloca na sua obra algumas intenções como o desejo de identificação para uma possível transformação do mundo. Sobre isto, o realizador afirma: “como o filme é um mosaico com sete personagens diferentes, e sete países diferentes, (gostaria) que as pessoas se pudessem identificar pelo menos com alguma e saíssem da sala de cinema com vontade de poder transformar, pelo menos, o mundo que as rodeia”; ou ainda a sua vontade de “tentar cristalizar este mundo contemporâneo com tudo de bom e de mau que ele tem”.
Um realizador privilegiado. Sobre o contacto com José Saramago. Sobre Eduardo Lourenço. A estreia televisiva de “O Labirinto da Saudade” antes das salas de cinema.
Cláudio Azevedo, partilhando a admiração pela pessoa e escritor que foi José Saramago, lançou a pergunta sobre como foi ter um contacto tão próximo, muito dentro da vida quotidiana do escritor, quando filmou o documentário “José e Pilar”. MGM confessou-nos que Saramago sempre foi, para si, uma grande inspiração: “eu desde puto que lia os livros de Saramago, e garanto-te que se alguém me formou em termos humanistas foi o Saramago; sou fruto da literatura dele”. Como o Miguel já atrás havia referido, no seu convívio com as pessoas, não existe uma mitificação e a sua visão de Saramago encontra-se também ela desmistificada: “eu já investigava muito o Saramago, lia as entrevistas e existia essa coisa de acharem sempre que ele era antipático, que era um tipo cinzento, eu não achava isso, nunca achei”. O realizador aproveita o tema desta visão pública – por vezes distorcida – das pessoas para fazer um cruzamento entre os filmes “José e Pilar” e “O Sentido da Vida”, dizendo-nos que, em ambos, existe aquilo que talvez possamos chamar uma dialéctica entre imagem pública e imagem privada: “no sentido da vida o que eu quero muito trabalhar é o que é a nossa imagem pública e o que é, efectivamente, a nossa imagem privada, e por isso é que o Giovanni é a ponte, ele vê na televisão ou há manifestações na rua, e, de repente, nós passamos para a vida privada dessas pessoas, por isso acabamos por ter as duas versões”, revelou-nos o realizador. Sobre a pessoa que foi Saramago, transparece nas palavras do Miguel toda a sua admiração, a inspiração e o sentimento de ter sido alguém privilegiado: “o Saramago era um tipo absolutamente maravilhoso, e era um tipo que usou o palco que alcançou e conseguiu, para lutar por um mundo melhor, em que ele acreditava; há coisas que discordo, há coisas que concordo, há coisas dele que eu faço minhas, mas era, sobretudo, uma pessoa muito doce, muito generosa, muito prática (…) eu tenho sido um privilegiado na vida, mesmo, e nesse sentido, estou muito grato à vida, ou seja la o que for que é isto”, foram as palavras do realizador.
De Saramago passamos para Eduardo Lourenço, que é o protagonista e autor da obra homónima do seu último documentário, recém-premiado nos Prémios Sophia, “O Labirinto da Saudade”. Quando questionado sobre como se consegue fazer um filme com os escassos treze dias que teve para as filmagens, MGM respondeu que, tendo em mãos três projectos em paralelo, a maior dificuldade foi a decisão – um pouco forçada por não ter o tempo necessário para elaborar um retrato profundo do pensador português, como havia feito de Cesariny ou Saramago-, em optar por adaptar para o cinema o ensaio filosófico que é “O Labirinto da Saudade: uma psicanalise do povo português”. Para levar a cabo esta adaptação, o realizador convidou algumas figuras que considera icónicas em Portugal para dialogar com Eduardo Lourenço. Através destas figuras, o realizador pretendia, e com as suas palavras, ”que fosse uma espécie de encontro com fantasmas já desparecidos, como foi com o Pessoa que aparece, o Agostinho da Silva, e com as grandes figuras do nosso tempo como o Siza Vieira, como a Paula Rego que infelizmente não participou, como a Pilar…”
O nosso colaborador aproveitou para perguntar sobre a questão da estreia do filme, uma vez que a estreia televisiva, na RTP, em canal aberto, aconteceu antes do filme ir para as salas de cinema. Para MGM, num primeiro momento, achou que seria “uma decisão muito estúpida, porque matava o filme em sala”; porém, afirma que “na RTP o filme deu muito bons resultados para um documentário português, o filme foi visto por trezentas e noventa mil pessoas, no horário nobre, e isso é óptimo”.
Sala de Cinema ou Netflix? O problema da gratuitidade dos produtos da arte através do download. Por um jornalismo Netflix.
Houve ainda tempo para questionarmos o realizador para sabermos a sua opinião sobre a recente discussão sobre a relação entre a experiência da sala de cinema e as plataformas de video on demand, como a Netflix. O realizador pensa que é sempre uma incerteza, afirmando que “o comportamento humano é bastante instável” e que a “conversa também já foi tida quando apareceu a televisão, também disseram o mesmo sobre a rádio, que a rádio ia acabar. As coisas mudam, há uma mutação das plataformas”. MGM ressalvou que a gravidade não reside nesta transferência dos filmes para as plataformas online, mas antes num comportamento que já tomamos como adquirido, que é o download. O realizador mostrou bem a sua posição, ao dizer-nos: “a partir do advento da internet, nós tomamos como garantido que o acesso que nós temos online é gratuito e para todos, e esquecemo-nos que aquelas pessoas que o fazem precisam também de comer, e este é que é o problema”; porém, não termina sem a seguinte ressalva, para concluir o seu pensamento: “na minha Visão de Mundo e de Estado, eu concebo a cultura como uma coisa gratuita, mas obviamente que tem de ser um pacto entre toda a comunidade dizer assim: ok então nós pagamos porque queremos ser entretidos”. O realizador fez, ainda, uma comparação deste tipo de plataformas que pagamos para vermos filmes com o jornalismo, dando como exemplo o caso da campanha de Bolsonaro, feita à base de notícias falsas, mas onde os jornais como a “Folha de São Paulo” ou o “Estadão”, mesmo fazendo investigações para verificar a veracidade dos factos, não tiveram espaço para chegar aos cidadãos com a verdade, porque eram jornais pagos. O realizador termina a sua resposta com a seguinte afirmação: “eu tenho pena que em Portugal ou no resto do mundo, os jornais não façam uma espécie de Netflix, eu não me importava nada pagar dez euros para ter acesso a todos os órgãos de informação”.
O realizador e a sua obra. Os momentos mais significativos.
Quando foi lançada a questão sobre qual seria a obra que o realizador consideraria mais especial para si. A esta questão tão pessoal MGM respondeu-nos: “o filme mais emotivo, talvez porque não foi fácil de fazer, e porque ele era uma pessoa muito especial e estava a despedir-se, foi o do Mário Cesariny («Autografia»). Depois é obvio que ter conhecido a Pilar, aquele vulcão e o Saramago, é obvio que muda a minha vida. Mas para dizer a verdade, em termos criativos, há dois filmes, que são os menos óbvios para a maioria das pessoas, e que são os que curto mais: um é uma instalação que é o «Zarco», é a história de um peixinho, que ficou sem água e convidaram-me para faze-lo, que era uma coisa para Saragoça, para um evento sobre sustentabilidade; e depois, o projecto que gosto mais, e que também agradeço muito ali ao Pedro Sousa porque ele teve um papel muito importante nesse, foi o “Nada Tenho de Meu”, porque foi a coisa mais livre que eu já fiz na minha vida, isto é, aquilo nasce só de um desejo de filmar aquela viagem e tentar um bocado reconfigurar a ideia dos cadernos de viagem, no século XIX, mas depois aquilo passa-se num jogo entre o documentário e a ficção, entre o que é verdade e o que é mentira, que eu acho que é muito, muito interessante; foi tudo escrito na montagem, na verdade, e eu acho que “Nada Tenho de Meu” é, efectivamente, o embrião do “Sentido da Vida”.
Fazer cinema em Portugal? Os conselhos do realizador para os novos criadores.
Por último, Cláudio Azevedo não abandonou o quarto do realizador sem antes lhe ter pedido que desse alguns conselhos que achasse importantes para um novo realizador que quisesse começar a fazer cinema em Portugal. Resposta esta que merece a integra, nas palavras do próprio realizador: “se tivesse num dia menos bem-humorado, diria não faças, foge daí, não imaginas como vais ser feliz assim, a conduzir um tuc-tuc, ou a ser recepcionista de uma biblioteca e a ter uma salário certo todos os meses; mas, o que eu diria é que quem estiver a estudar que perceba que, a única coisa que deve tirar da escola é um saber técnico, porque provavelmente os professores que irão ter serão mais imbecis, e mais idiotas, e mais deformados do que os alunos que estão a frequentar aquele curso; e diria, nunca esperes que alguém faça alguma coisa por ti porque nunca ninguém fará nada por ti, e portanto terás sempre de fazer tudo, e é disso que tens de ter consciência e obviamente rodear-te dos melhores para conseguires produzires coisas”.
O Cinema Sétima Arte agradece a simpatia e a generosidade com que o Miguel nos recebeu, fazendo votos para que consiga, o mais rápido possível, os fundos para finalizar a sua obra.