Partimos do pressuposto que não existe revolução social sem a dita libertação sexual, nesse sentido encararemos um pequeno filme como este “Yes, God, Yes” como um subtil punho erguido, ou, de forma a apropriar o contexto da obra, uma mão (nada invisível) nas partes baixas.
Extensão de uma homónima curta-metragem (2017), a realizadora Karen Maine (que assume similaridades autobiografias aqui) centra-nos na história de uma jovem cristã (vindo de uma família ortodoxamente católica, e frequentadora de uma escola de iguais doutrinas religiosas) que em certo dia, durante uma aula de educação sexual (na sua forma possível dentro do selo da castidade), é lhe ensinado que o sexo é somente legitimo para fins de procriação (e, ressalvando, depois do matrimónio), pelo meio ainda houve de condenação eterna pelo pecado infernal que é a masturbação. Foi através dessas palavras, que a protagonista, Alice (Natalia Dyer, sob o holofote do êxito da série “Stranger Things”), decidiu na sua pura ingenuidade aventurar-se pelo “país das maravilhas” do tal “cyber sexo” e consequentemente provar os sabores da sua própria carne. O ato foi interrompido a tempo, mas já era tarde demais … a “porta” foi aberta, e que muitas questões surgem de lá.
O cómico, e em certa parte trágico deste subtil coming-of-age, está na ridicularização da própria instrumentalização do sexo por parte da Religião, o qual usufruem como uma ferramenta de constante opressão e repreensão. Só que ao invés de se estender na interveniente propaganda, no óbvio “in your face” como muitas das produções que surgem (e surgirão) nos círculos independentes norte-americanos, “Yes, God, Yes” transcreve essa crítica, focalizada mas de leitura abrangente, para o conflito interior da sua personagem principal (curiosamente, também protagonista da curta génese). Nesse aspeto, Alice é a heroína de uma fábula sobre a importância dos nossos prazeres como estandarte de uma revolução iminente, que triunfa até mesmo na emancipação declarada.
Conduzindo-se por objetivos modestos, Karen Maine não interessa, com isso, despoletar um tumulto algum, o que importa na sua causa é a superação pessoal, o desenvolvimento da sua personagem-espelho como a sua atingida satisfação. E verdade seja dita, dentro do enorme puritanismo que indústria norte-americana parece ter sido atingida (qualquer que seja o orçamento), um filme que nos fale de sexo tão naturalmente como aqui e principalmente da masturbação com alguma compaixão (com ou sem lente religiosa, continua como um ritual de estigmatização e de associações perversas no cinema), é uma verdadeira [pequena] revolução.