“The Long Walk” – Bom ritmo, pouco impacto

“The Long Walk” é o novo filme de Francis Lawrence, baseado no livro homónimo de Stephen King. A história desenrola-se num futuro distópico, depois de uma guerra que mudou a ordem mundial e que instalou um novo regime nos Estados Unidos da América.
"The Long Walk", de Francis Lawrence "The Long Walk", de Francis Lawrence

“The Long Walk” é o novo filme de Francis Lawrence (o realizador por trás de “Constantine”, “Red Sparrow” e de quase todos os filmes da saga “Hunger Games”). Baseado no livro homónimo de Stephen King, a história desenrola-se num futuro distópico, depois de uma guerra que mudou a ordem mundial e que instalou um novo regime nos Estados Unidos da América, liderado pelo Major, papel desempenhado de forma caricatural por Mark Hamill.

A caminhada longa é um concurso anual onde cinquenta jovens devem andar, sem meta, até sobrar apenas um. O único sobrevivente terá aquilo que quiser, e a transmissão do evento procura dar alguma esperança à restante população. À semelhança do livro, o filme foca-se na caminhada através do ponto de vista de Raymond Garraty que começa por receber a carta de convocatória para a competição. A obra tem bastantes semelhanças com a saga Hunger Games.

No entanto, Francis Lawrence opta por não perder tempo na construção da mitologia do concurso, do regime e do universo em si. Pouco sabemos sobre tudo e, consequentemente, o resultado acaba por não ter o mesmo impacto que a história protagonizada por Jennifer Lawrence.

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A breve viagem de carro de Ray com a sua mãe até ao local é o único momento da longa-metragem passado fora do concurso (à exceção de alguns flashbacks que nos são apresentados durante o percurso) e o espectador só consegue realmente perceber a dimensão do terror aquando da primeira morte, onde o impacto na audiência se deve apenas à imagem bastante gráfica em close-up, que deixa também um sentimento de frustração por não atingir o nível de pânico que seria expectável.

É claro que os personagens se demonstram afetados por este momento, mas o regresso rápido aos momentos de humor e à leveza de alguns protagonistas corta rapidamente o sentimento de terror que já devia estar instalado.

A produção conta com alguns planos bonitos, mas os movimentos de câmara são simples e pouco originais e a âncora da obra que mantém a audiência acaba por ser os atores que desempenham papéis bastante sólidos, atribuindo profundidade aos personagens. Neste campo parece não haver nenhuma falha. Há química, charme e carisma entre os concorrentes e é tudo muito palpável, destacando-se os dois protagonistas – Cooper Hoffman e David Jonsson.

O ritmo da caminhada obriga Lawrence a manter uma narrativa com uma cadência envolvente, nunca se tornando aborrecido, mas esta virtude acaba também por se revelar, de forma paradoxal, a sua maior fragilidade, uma vez que não dá tempo para o público absorver os conflitos dos personagens e, desta forma, o final é-nos apresentado refém desta vulnerabilidade – a rapidez do cinema moderno, leve, sem tempo para respirar – terminando de forma brusca e, não sendo hiper previsível, até consegue surpreender, mas acaba por deixar um grande sentimento de frustração por não corresponder às expectativas do golpe final arrebatador que se esperava.

A leveza do filme vai trazer retorno ao estúdio que o produziu. Pouco acrescentará ao público.

O filme de abertura da 19.ª edição do MOTELX – Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa, exibido a 9 de setembro, terá estreia nas salas de cinema nacionais a dia 11.

"The Long Walk", de Francis Lawrence
“The Long Walk” – Bom ritmo, pouco impacto
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