“Carlota Joaquina, Princesa do Brasil” celebra 30 anos com relançamento nos cinemas

Realizado por Carla Camurati, o clássico do cinema brasileiro será relançado a 14 de agosto em versão remasterizada 4K
“Carlota Joaquina, Princesa do Brasil” (1995), de Carla Camurati “Carlota Joaquina, Princesa do Brasil” (1995), de Carla Camurati
“Carlota Joaquina, Princesa do Brasil” (1995), de Carla Camurati

Há filmes que nunca perdem a capacidade de nos interpelar, e “Carlota Joaquina, Princesa do Brasil” é um desses casos raros. Estreado em 1995, num momento em que o cinema brasileiro começava a renascer das cinzas, o primeiro trabalho de Carla Camurati — que o realizou e produziu ao lado de Bianca de Felippes — quebrou preconceitos e encheu as salas com uma história que misturava ironia, escárnio e beleza visual.

Agora, a propósito dos seus trinta anos, o filme volta a exibir-se em cópia remasterizada, provando que o tempo apenas aguçou o seu impacto.

É difícil esquecer Marieta Severo como Carlota Joaquina, num desempenho avassalador que já fazia antever a actriz que todos passámos a admirar. Ou Marco Nanini, que dá uma humanidade quase enternecedora a Dom João, Marcos Palmeira como Dom Pedro I e Vera Holtz como Maria Luísa de Parma. Todos eles regressam a partir de 14 de Agosto às salas, num circuito que atravessa dez capitais do Brasil, com a promessa de nos devolver o prazer da descoberta.

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Na sua essência, o filme continua a dizer muito sobre o que somos. Ao retratar a corte luso-brasileira entre luxos e acordos convenientes, Camurati e Melanie Dimantas, que coassinam o guião, brincam com os mitos da nossa própria história e apontam o dedo a desequilíbrios que, afinal, nunca desapareceram.

Revisitar “Carlota Joaquina, Princesa do Brasil” nos cinemas, em plena era digital e num momento em que tanto se discute o nosso passado colectivo, é um convite a rir e a reflectir. E a recordar que, às vezes, o melhor que o cinema pode fazer por nós é abrir-nos os olhos sem nunca nos roubar o sorriso.

Mais do que 30 anos

Para Carla Camurati, este momento ultrapassa a mera dimensão simbólica, configurando-se como a concretização do diálogo contínuo entre a obra e o público. Ver a sua primeira longa-metragem ganhar nova vida três décadas após a estreia é testemunhar a persistência de uma linguagem cinematográfica capaz de atravessar o tempo, reafirmando-se enquanto reflexo e questionamento das complexidades históricas e culturais que ainda nos definem.

“É uma emoção profunda saber que a minha primeira longa-metragem vai reencontrar o público no cinema. Revendo-o hoje, percebo que continua a pulsar com uma força surpreendente. A crítica e o tom satírico, que já eram ousados na altura, talvez sejam ainda mais compreendidos pelas novas gerações. Vai ser lindo ver jovens, professores e famílias a descobrirem — ou a reverem — o filme no cinema, que para mim continua a ser o espaço ideal para a experiência colectiva da arte.”

Carlota Joaquina, Princesa do Brasil

Situada no limiar entre os séculos XVIII e XIX, a narrativa acompanha a trajectória de Carlota Joaquina desde os seus dez anos, quando é prometida em casamento a João, príncipe de Portugal. Apesar da pouca idade, já revela inteligência e instrução que lhe valem a aprovação da corte espanhola, que a envia para Lisboa com grandes expectativas.

Contudo, a realidade que encontra está longe do esplendor pintado nos retratos e codificado nos protocolos da nobreza. João, de temperamento reservado e introspectivo, prefere a contemplação do canto sacro e o silêncio do cultivo das flores à companhia da esposa, mergulhando num universo privado que escapa às cortes e intrigas.

Com a morte inesperada do príncipe herdeiro e o agravamento da saúde mental da rainha D. Maria I, o casal é elevado ao trono português num momento de grande instabilidade. As ondas revolucionárias que sacodem a Europa e a ameaça constante das tropas napoleónicas levam a corte portuguesa a protagonizar uma das mais singulares fugas da história, deslocando-se silenciosamente para o Brasil.

Este episódio não só altera decisivamente o destino da colónia, como inaugura uma nova fase na relação luso-brasileira, lançando as bases para as transformações que moldarão o futuro de ambas as nações.

“Queríamos comemorar a data redonda de Carlota Joaquina e tivemos a sorte de celebrar os 30 anos da Retomada num momento histórico para o cinema brasileiro, com a conquista do Óscar. De Carlota a Ainda Estou Aqui foi uma longa travessia. Este relançamento é uma forma de contar essa história e a emoção de ver o filme em 4K, no grande ecrã, é insubstituível”, afirma a produtora Bianca de Felippes.