A primeira edição do Festival DOBRA – Festival de Cinema Documental de Braga decorreu nos passados dias 25 e 26 de novembro no Espaço Vita, na cidade de Braga. O festival, que surgiu como iniciativa do Plano Nacional de Cinema (PNC) do Agrupamento de Escolas Carlos Amarante, teve como alvo o público escolar, tendo contado com a participação de cerca de 3500 alunos.
A programação do festival ficou a cargo da equipa do Porto/Post/Doc e contou com oito sessões direccionadas para o público escolar e de uma sessão de encerramento direccionada a todas as idades com a exibição do filme “Hamada”, de Eloy Domínguez Serén, vencedor do prémio de melhor realizador da competição internacional entre autores emergentes na edição de 2018 do festival portuense.
A sessão de encerramento contou com a presença do director do Porto/Post/Doc Dario Oliveira e do realizador Eloy Domínguez Serén. Antes da sessão, Dario Oliveira justificou o direccionamento do festival ao público escolar: “daqui a 10 ou 20 anos o público escolar vai ser aquele que estará deste lado, por isso necessita de perceber que existe cinema além dos centros comerciais”.
“Hamada” é um documentário estreado pela primeira vez em 2018 e desde então com presença em mais de 50 festivais em todo o mundo. O filme retrata os campos de refugiados do povo Saarauí na região do Saara Ocidental, que vive em territórios não governados, mas na sua maioria ocupados militarmente por Marrocos. Esta ocupação deu-se após o abandono desse território por parte de Espanha, em 1976, tendo daí surgido o interesse do realizador espanhol por estes locais.
Ao longo do documentário, são seguidas de perto algumas personagens, habitantes de um dos campos e retratada a sua atitude em relação ao conflito. Estas tentam sempre que possível tornar-se alheias ao seu isolamento, às manifestações, às pessoas que tentam obter o visto para irem para Espanha (quando não o tentam fazer ilegalmente). Zaara, uma das locais, acaba por ser a personagem principal do filme, uma rapariga que pretende aprender a conduzir para “poder ir dar uma volta quando lhe apetecer”, mas que primeiro precisa de arranjar um emprego para conseguir comprar um carro, algo que acaba por dar uma vertente mais narrativa ao filme.
No final da sessão, houve oportunidade para uma curta sessão de perguntas e respostas com o realizador. Este contou que deixou o seu trabalho na Suécia para ir dar aulas de cinema nessa região africana. Ao longo de quatro anos a viver em “Hamada”, foi filmando a comunidade com um objectivo de “fazer um filme sobre carros” que se foi tornando cada vez mais um retrato da comunidade. De um total de 73 horas de material, surgiu o filme.
Eloy Domínguez Serén contou também que, estando a gravar sozinho e sem dinheiro para contratar tradutores, a chave para fazer o filme consistiu numa “confiança cega nas personagens, visto que muitas vezes não sabia o conteúdo das conversas que estavam a ter”. Quando questionado acerca do futuro de Zaara, Serén revelou que neste momento está a fazer parte de um projecto de cinema na região, onde viaja para os vários campos de refugiados (já com o seu próprio carro) e documenta a sua realidade.
Dario Oliveira fechou o festival afirmando que a intenção do Dobra “não é formar cineastas, é formar público”. As próximas edições do festival estão já garantidas.