De um total de 116 realizadores que foram incluídos nos 100 filmes norte-americanos com maior receita nas bilheteiras em 2023, apenas 14 (12,1%) eram mulheres e 102 (88%) eram homens. É uma proporção de género de 7,3 homens para cada mulher contratada para o lugar de realização. Outro número surpreendente é que, entre 2007 e 2023, apenas 6% dos realizadores eram mulheres. São as conclusões do relatório anual da Iniciativa de Inclusão Annenberg, da USC Annenberg, publicado a 2 de janeiro de 2024, que pretende refletir e estudar a diversidade e a inclusão na entretenimento (cinema e televisão), com foco na área da realização.
O Estudo revela que os grandes estúdios de Hollywood não estão a combater a desigualdade de género, apesar das muitas promessas e de, em 2023, o filme de Greta Gerwig, “Barbie”, ter sido o filme mais visto do ano e de ter batido vários recordes de bilheteira em todo o mundo.
Tal como avançou a revista Variety, “as realizadoras não estão a ter as mesmas oportunidades em Hollywood que os seus homólogos masculinos. Ao mesmo tempo, os grandes estúdios, que se comprometeram a reexaminar as suas práticas laborais após o assassinato de George Floyd, não conseguem produzir muitos filmes de pessoas racializadas”.
Segundo o relatório da USC Annenberg, a percentagem de mulheres realizadoras em 2023 (12,1%) não foi significativamente diferente de 2022 (9%). A percentagem não mudou significativamente desde 2018, quando 4,5% dos realizadores eram mulheres. A percentagem é, de facto, superior à de 2007, quando apenas 3 (2,7%) dos realizadores dos 100 principais filmes eram mulheres. No geral, apenas 6% dos 1.769 realizadores contratados para os filmes mais populares entre 2007 e 2023 eram mulheres.
As mulheres representavam 83 dos 899 realizadores únicos (9,2%) que trabalharam na amostra de 17 anos. As mulheres com melhor desempenho foram Anne Fletcher e Lana Wachowski, com quatro filmes cada. Greta Gerwig realizou três filmes. 15 mulheres diferentes realizaram dois filmes: Ava DuVernay, Catherine Hardwicke, Elizabeth Banks, Gina Prince-Bythewood, Jennifer Lee, Jennifer Yuh Nelson, Julie Anne Robinson, Kasi Lemmons, Nancy Meyers, Nia DaCosta, Olivia Wilde, Patty Jenkins, Phyllida Lloyd, Sarah Smith e Stella Meghie. 78,3% das realizadoras realizaram apenas uma longa-metragem nos 17 anos avaliados, enquanto 55,8% dos homens o fizeram.
Cerca de 91% dos homens conseguiu trabalhar uma ou mais vezes ao longo destes 17 anos (2007-2023), como Steven Spielberg, que realizou 12 filmes, seguido por Clint Eastwood com 11 e Ridley Scott com 10 filmes.
Quanto aos estúdios que em 2023 contrataram mais mulheres para realizar, a Universal Pictures foi a que contratou mais, com quatro mulheres no total, seguida pela Lionsgate (3 mulheres contratadas) e depois pela Walt Disney Studios (2 contratadas).
Ao longo dos 17 anos analisados, 27 mulheres (9,2%) foram contratadas pela Universal Pictures para realizar um filme de maior bilheteira. Segue-se a Warner Bros. (6,6%), Sony Pictures Entertainment (6,3%) e Walt Disney Studios (6,1%). Já a Lionsgate (4,9%), 20th Century (4,3%) e Paramount Pictures (1,6%) têm os piores resultados na contratação de mulheres para o lugar de realização.
O relatório examina também o género e a raça/etnia dos realizadores em 100 filmes com maior receita em 2023, revelando que 26 realizadores (22,4%) pertenciam a grupos raciais/étnicos sub-representados. 14 eram asiáticos (53,8%), 8 eram negros (30,8%), 2 eram hispânicos/latinos (7,7%) e 2 eram multirraciais/multiétnicos (7,7%). Apenas 4 (15,4%) dos realizadores eram mulheres negras.
O relatório conclui que as mulheres e as pessoas racializadas não estão a ser contratadas de forma a que represente a sua proporção nos EUA e não antevê, num futuro próximo, uma mudança significativa de forma a que as mulheres e as pessoas racializadas sejam contratadas pelos grandes e pequenos estúdios de cinema para o cargo de realização.
Ainda sobre a “Barbie” e a sua realizadora, Greta Gerwig: “Um filme ou apenas uma realizadora não são suficientes para criar a mudança radical que ainda é necessária por trás das câmeras. Até que os estúdios, executivos e produtores alterem a forma como tomam decisões sobre quem está qualificado e disponível para trabalhar na realização de filmes de maior bilheteria, há poucos motivos para acreditar que o otimismo seja justificado”, lê-se no relatório.
Hollywood ainda tem um longo caminho a percorrer na luta pela igualdade de género, racial e justiça social.