MOTELX 2025: Terror nacional em destaque na 19.ª edição do festival

MOTELX 2025 — Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa realizar-se-á de 9 a 15 de setembro de 2025 no Cinema São Jorge
"Gardunha", de Ana Marques Vilela da Costa MOTELX 2025 "Gardunha", de Ana Marques Vilela da Costa MOTELX 2025
"Gardunha", de Ana Marques Vilela da Costa

A 19.ª edição do MOTELX 2025 — Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa, que se realizará de 9 a 15 de setembro de 2025 no Cinema São Jorge, foi apresentada sublinhando o compromisso com o cinema de terror e solidificando-se com uma programação diversa que trará à capital mais de 130 filmes e mais de 80 sessões de cinema durante 7 dias.

O terror nacional está em grande destaque na edição deste ano. “Sombras”, de Jorge Cramez, e “A Pianista”, de Nuno Bernardo, são estreias mundiais e “Crendices – Quando o Medo Vem das Crenças”, do grupo humorístico madeirense 4Litro, é estreia continental.

É também um ano de foco particular nas mulheres: o novíssimo Prémio Noémia Delgado para Mulheres Notáveis no Terror e distingue Gale Anne Hurd, Convidada de Honra, e produtora de êxitos como “Exterminador Implacável”, “Exterminador Implacável 2: O Dia do Julgamento”, “Aliens”, “O Abismo”, “A Relíquia”, “Armaggedon” entre tantos outros filmes que marcaram inegavelmente a nossa consciência coletiva. É ainda fundadora da Valhalla Entertainment, uma das produtoras responsáveis pelo sucesso de audiências “The Walking Dead” e de todos os seus spinoffs.

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Esta distinção surge como com o objetivo de recuperar a memória de mulheres pioneiras na indústria do entretenimento e, ao mesmo tempo, celebrar os novos talentos femininos que estão a redefinir o terror contemporâneo. Noémia Delgado (1933-2016), voz incontornável do terror e Cinema Novo Português, iniciou a sua carreira na montagem de filmes de Manoel de Oliveira e Paulo Rocha. Estreou-se na realização, em 1976, com “Máscaras”, um documentário que se centra nos rituais de inverno transmontanos e que foi feito em colaboração com o então marido, Alexandre O’Neill — nunca estas tradições tinham sido filmadas. Adaptou contos fantásticos de autores como Eça de Queiroz, Júlio Dinis, Mário de Sá-Carneiro, entre outros e teve sempre a ousadia de assumir a montagem e som dos seus filmes, o que só sublinha a sua dimensão de artista no mais amplo sentido do termo.

O ciclo O Baile das Bruxas abre a porta do Quarto Perdido à bruxaria, à figura da feiticeira pagã e mulher insubmissa, aos cultos rurais, místicos e macabros por si erguidos — e, no limite, à especificidade das bruxas em Portugal. A secção centra-se então no folk horror, o subgénero mais representado na nossa filmografia, e mostra “O Crime de Aldeia Velha” (1964), de Manuel de Guimarães, a partir do caso verídico de uma jovem queimada viva nos anos 30 em Marco de Canaveses — conta com argumento de Bernardo Santareno que tinha publicado a peça com o mesmo nome em 1959; e ainda “Alma Viva” (2022), de Cristèle Alves Meira, sobre uma criança que regressa à aldeia nas férias de Verão e um contexto rural onde as velhas bruxas resistem.

O cinema português cimenta-se como um dos grandes eixos de programação também nas longas-metragens em exibição. Jorge Cramez — que conta já com várias passagens no MOTELX no que às curtas-metragens diz respeito — concretiza em “Sombras” a sua estreia na longa de terror, qual sossego do campo, um casal (Victoria Guerra e Pedro Lacerda) fica de tomar conta da filha do vizinho e uma série de bizarras peripécias noturnas fá-los questionar toda a sua existência.

“A Pianista”, de Nuno Bernardo, que também se estreia na longa de terror, é um thriller psicológico entre o luto, a tecnologia e os limites do para sempre: depois de morrer, o marido (Miguel Borges) de Ana (Teresa Tavares) regressa em versão clonada.

Da Madeira, diretamente para a Sala de Culto: “Crendices – Quando o Medo Vem das Crenças”. Esta produção 100% madeirense, dos 4Litro — o colectivo da Calheta que se tem notabilizado pelos seus sketches humorísticos e hits musicais regionalistas — estreia em Portugal Continental um filme com significativas doses de comédia, envolto em misticismo e ultra-superstição. No total, no que ao cinema nacional diz respeito, o festival exibe estas três longas, 22 curtas-metragens e cinco reposições.

Da esfera internacional chegam novidades de várias geografias e registos. “The Ice Tower”, da francesa Lucile Hadžihalilović, que esteve recentemente em competição para o Urso de Ouro na Berlinale, sugere a rodagem de uma adaptação do clássico “A Rainha da Neve” com Marion Cotillard como protagonista. Dos Estados Unidos, “Death of a Unicorn” é a estreia de Alex Scharfman na realização, algures entre o humor cáustico e o camp dos anos 80, com Jenny Ortega num dos papéis principais.

Também em estreia na realização está o jornalista norte-americano Mark Anthony Green: “Opus” estreou-se em Sundance e conta com Ayo Edebiri, John Malkovich e Juliette Lewis a abrilhantar o elenco, atira o espectador para o retiro de uma superestrela pop que se configura como um culto sinistro e inescapável. “Enterre Seus Mortos”, do brasileiro Marco Dutra, é uma fantasmagórica viagem por um Brasil rural, assolado pela iminência do apocalipse e a meio caminho entre o western e o terror cósmico — Selton Mello, Marjorie Estiano e Betty Faria na interpretação. “Pig that Survived Foot-and-Mouth Disease”, de Hur Bum-wook; “The Surrender”, de Julia Max (Canadá/EUA); da Tailândia, “A Useful Ghost”, de Ratchapoom Boonbunchachoke, que estreou mundialmente na Semana da Crítica de Cannes, onde conquistou o Grande Prémio; e ainda “Zero”, filme com produção repartida entre os EUA e o Senegal, do congolês Jean Luc Herbulot.

Para o Prémio MOTELX – Melhor Curta de Terror Portuguesa há 12 filmes em competição. “Aqui em Aveiro”, de Joaquim Pavão, “Os Terríveis”, de João Antunes, “Arroio Negro”, de Lucas de Lima Silva, “Alma” de Maurício Valentino Borges, “O Compositor”, de Afonso Lucas e Rodrigo Motty, “O Próximo Passo”, de Pedro Batalha, “Beep”, de Mauricio Valbuena, “Anexado”, de Jonas Costa, “Parúsia”, de Kim Lobo, “Ilhoa”, de Magarida Saramago, “Resut”, de Mafalda Jacob, “Strangers”, de Carolina Afonso, disputam o maior prémio monetário em Portugal para curtas-metragens.

Já no Méliès d’argent – Melhor Curta Europeia, destacam-se, para já, as nove produções portuguesas presentes na competição: “Amarelo Banana”, de Alexandre Sousa, “Antena”, de Duarte Pedroso de Lima, “BeNice”, de Tiago ‘Ramon’ Santos, “Borbulha”, de Fernando Alle, “Dog Alone”, de Marta Reis Andrade, “Gardunha”, de Ana Marques Vilela da Costa, “Light Was a Break”, de Luís Costa, “Sequencial”, de Bruno Caetano e “Yazza”, de Francisco Lacerda.

A 19.ª edição do MOTELX inaugura ainda a nova secção Suite 13, um espaço que pretende aprofundar filmografias de alguma forma desacreditadas no seu tempo e que na atualidade se reciclam sob diferentes perspectivas e sob a lente dos nossos tempos: acelerados, extremados e enigmáticos. No seu primeiro ano, o foco da mesma vai para Herschell Gordon Lewis, cineasta cuja alcunha de Padrinho do Gore logo deixa antever as possíveis metáforas para os Estados Unidos de hoje.

A guardiã do cinema underground, experimental e de vanguarda no MOTELX, a SectionX, apresentou um dos seus destaques uma distopia em forma de trilogia. Do austríaco Norbert Pfaffenbichler, a saga “2551” desdobra-se em “2551.01 — The Kid”, “2551.02 — The Orgy of the Damned” e “2551.03 — The End” e empurra o espectador, sem receios nem licença, para uma cinematografia completamente punk e grotesca. O realizador define o seu género como dystopic slapstick e recorre invariavelmente ao humor negro e à violência depravada.

Regressa o Prémio MOTELX – Melhor Guião de Terror Português, a competição de escrita para cinema mais arrepiante do país. A concurso, nesta terceira edição que volta a premiar o vencedor final com 2000€, estão seis argumentos ainda à procura de produção: “Carneiro de Babel”, de Francisco Barbosa, “Era Uma Vez no Apocalipse”, de Tiago Pimentel e António Miguel Pereira, “O estripador de Lisboa”, de João Ruela Branco e Nuno Martini, “Quem Mata no Camarido? (Seis Betos e Meia)”, de António Xavier Rodrigues, “Tarso”, de Stephane Oliveira e “Um Tipo de Ausência”, de Catarina Araújo.

No campo dos Eventos, o MOTELX 2025 traz mais novidades. O Digital Film Festival dedica-se a conteúdos audiovisuais de formato digital e vai centrar-se em três formatos principais: Short Movies and Mobile, Pilotos de Webséries e Videocasts. Promovido pela Thumb Media, esta primeira edição da iniciativa vai ocupar a Sala 2 do Cinema São Jorge durante os dias 10 e 11 de Setembro. À imagem do que já aconteceu no passado, o MOTELX volta a acolher um festival dentro do festival e a promover e incentivar a produção videográfica independente.