Seleção Oficial: a liberdade, para além das barreiras!

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"Six Jours Ce Printemps-Lá", de Joaquim Lafosse

O Festival de San Sebastián abriu com “27 Noches”, do uruguaio Daniel Hendler, numa produção do argentino Santiago Mitre, autor de “Argentina 1985, exibido em Donostia em 2022 e vencedora do Prémio do Público. Em registo de comédia dramática e com a bandeira da Netflix (um dos principais patrocinadores este no mais importante festival de cinema espanhol).

Pela primeira vez a colaborar com a gigante do streaming, Mitre e Hendler adaptam o romance homónimo de Natalia Zito, inspirado em factos verídicos, acompanhando as peripécias de Martha Hoffman (Marilú Marini), uma milionária excêntrica internada numa clínica psiquiátrica pelas próprias filhas e contra sua vontade.

A justificação? Pois bem, as festas luxuosas com que a matriarca adorava presentear os seus convidados. Pelos vistos, o suficiente para a intervenção familiar e o internamento por tanta ousadia. Entra em cena o psiquiatra Dr. Casares (Hendler, o realizador a acumular a função de ator), chamado a opinar sobre a saúde mental da idosa, bem como para avaliar se existira alguma intenção de controlar a sua fortuna. Diz-nos a informação sobre o filme que foram histórias como estas que contribuíram para alterar a lei de saúde mental na Argentina, recebendo hoje apenas internamentos voluntários.

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Infelizmente essa dimensão social não é suficiente para afirmar uma potência que transmita ao filme uma dimensão que ultrapasse um modelo de entretenimento televisivo. Ou seja, “27 Noches” mantém-se sempre ligeiro no entretenimento e adornado, devidamente servido por um eficaz ritmo visual e sonoro, embora mais calhado a um desfrute doméstico. Talvez por isso tenha sido a aposta para a abertura do festival. Sendo que, para o bem ou para o mal, os filmes de abertura raramente arriscam um cinema vigoroso.

Vimos ainda, na secção oficial competitiva, “Six Jours Ce Printemps-là”, de Joachim Fafosse. Trata-se de uma obra luminosa, inspirada numa experiência da própria infância do realizador, como Joachim explicou no encontro com a imprensa após a projeção. Na verdade, um projeto que Lafosse guardava há mais de trinta anos, desde que a sua mãe decidiu levar os filhos de férias, logo após o seu divórcio. A ideia acabaria por se concretizar, na ocupação da casa de férias dos avós paternais. Desfrutando do facto de que os proprietários não estariam por ali.

Curiosa (ou corajosa!) é a opção da africana Eye Haidara, para o papel de mãe. Algo que o cineasta justificou pela decisão arrojada e livre de superar o receio ou o embaraço de pedir o uso dessa casa. Mesmo que tivesse existido no passado um direito real de ali estar. Talvez seja mesmo esse potencial direito a fazer algo, em vez de se esconder, que confere ao filme a sua coerência. E até de o sublinhar por uma escolha diferente da sua mãe (será a raça uma diferença?). É essa homenagem a um desejo de sol e de mar – apesar de tudo – que celebramos neste filme luminoso. E não  apenas pela fotografia maravilhosa de Jean François Hensgens.

“27 Noches”, de Daniel Hendler (filme de abertura – em Competição)
“Six Jours Ce Printemps-Là”, de Joaquim Lafosse (em Competição)

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