Tom Cruise, eterno rosto da acção americana, foi recebido com uma prolongada ovação por algumas das figuras mais influentes de Hollywood, que se reuniram na noite de domingo (16) para lhe conceder um Óscar honorário, a primeira estatueta dourada de um percurso que continua a interrogar o que significa dedicar a vida inteira a uma arte em constante mutação.
“Escrever um discurso de quatro minutos para celebrar os 45 anos de carreira de Tom Cruise é o que se chama nesta cidade de missão impossível”, brincou o realizador mexicano Alejandro González Iñárritu, que dirige o actor em “Judy”, filme cuja estreia está prevista para 2026.
A célebre banda sonora de “Missão Impossível” marcou a entrada de Cruise no palco da Sala Dolby, em Hollywood, para uma recepção calorosa de colegas como Colin Farrell e Emilio Estévez, além do mítico Steven Spielberg, com quem trabalhou em “Relatório Minoritário” e “Guerra dos Mundos”.
Muito emocionado, o astro agradeceu a distinção. Recordou que o seu amor pelo cinema nascera muito cedo e que sempre enxergara a tela da sétima arte como o território que lhe despertara uma fome de aventura e de conhecimento, o desejo de compreender a humanidade, de dar vida a personagens, de contar histórias e de perscrutar o mundo.
Tom Cruise
Com quase meio século de carreira, Tom Cruise consolidou-se como uma das figuras mais icónicas do cinema norte-americano, tornando-se também um dos rostos mais reconhecíveis e influentes da sua geração. O seu primeiro papel de verdadeiro destaque surgiu em “Negócio Arriscado” (1983), de Paul Brickman, um clássico da geração X que não só catapultou a sua carreira, como começou a moldar a imagem de jovem audacioso e irresistivelmente carismático que o acompanharia ao longo das décadas.
O sucesso atingiu um novo patamar em 1986 com o clássico “Top Gun – Ases Indomáveis”, de Tony Scott, no qual interpretou o piloto de caças Pete “Maverick” Mitchell. O filme tornou-se um fenómeno de público e crítica, fixando Cruise como estrela global e dando início a uma relação quase simbiótica com o cinema de ação e papéis heroicos.
Nos anos que se seguiram, Cruise transitou entre a popularidade de bilheteira e o reconhecimento crítico em filmes como “The Color of Money” (1986), de Martin Scorsese, e “Rain Man – Encontro de Irmãos” (1988), de Barry Levinson, mostrando que podia ser muito mais do que um rosto bonito com sorriso irresistível.
Nos anos 1990 e 2000, a sua figura tornou-se inseparável da série “Missão Impossível”, onde encarnou Ethan Hunt e ajudou a transformar a franquia num marco do género.
Mas Cruise não se limitou ao heroísmo de ação. Explorou personagens sombrios e complexos, do vampiro gótico Lestat de Lioncourt em “Entrevista com o Vampiro” (1994), de Neil Jordan, ao guru de autoajuda misógino Frank T.J. Mackey em “Magnólia” (1999), de Paul Thomas Anderson, e ao assassino frio e calculista Vincent em “Collateral” (2004), de Michael Mann, revelando uma versatilidade dramática inesperada e um compromisso quase obsessivo com cada papel.
A sua carreira também é marcada por escolhas ousadas, desde aventuras de ficção científica como “Relatório Minoritário” (2002) e “Guerra dos Mundos” (2005), ambos realizados por Steven Spielberg, até dramas emocionais como “Nascido a 4 de Julho” (1989), de Oliver Stone e “Jerry Maguire – A Grande Virada” (1996), de Cameron Crowe, papéis pelos quais foi nomeado para o Óscar de Melhor Ator.
Recebeu ainda uma nomeação para Melhor Ator Secundário por “Magnólia” (1999) e, mais recentemente, como produtor, para o Óscar de Melhor Filme por “Top Gun: Maverick” (2022), de Joseph Kosinski.
Para além das escolhas de elenco, Cruise construiu uma reputação quase mitológica de disciplina e rigor. Conhecido pelo envolvimento direto em cenas de risco, muitas vezes sem recurso a duplos, e pela atenção obsessiva à performance física e à imagem, transformou-se num símbolo de profissionalismo, ambição e devoção absoluta ao cinema, personificando ao mesmo tempo o glamour e o lado mais extremo de Hollywood.

