25 de Abril

Alice Guy-Blaché (Parte I): A mãe do cinema e o legado ainda quase invisível

Alice Guy-Blaché Alice Guy-Blaché

O impacto de Alice Guy-Blaché no cinema foi verdadeiramente revolucionário. Não só foi pioneira na utilização do cinema como meio para contar histórias, como também introduziu novas técnicas e tecnologias que ainda são utilizadas na produção de filmes modernos. Algumas das suas contribuições mais significativas para a indústria cinematográfica incluem:

Narrativa/ Storytelling
Alice Guy-Blaché foi uma das primeiras cineastas a utilizar o filme como meio para contar histórias. Antes dela, a maioria dos filmes eram simplesmente gravações de eventos diários ou locais cénicos. Mas Guy-Blaché viu o potencial do filme como uma ferramenta narrativa e começou a fazer filmes com enredos e personagens. O seu filme “La Fée aux Choux” é amplamente considerado como o primeiro filme narrativo alguma vez feito.

Efeitos especiais
Guy-Blaché foi também uma das primeiras cineastas a utilizar efeitos especiais nos seus filmes. Experimentou técnicas tais como dupla exposição, ecrã dividido e animação em stop-motion. O seu filme “The Drunken Mattress” (1906) é um bom exemplo da sua utilização de efeitos especiais.

Som Sincronizado
Em 1902, Guy-Blaché introduziu o som sincronizado ao filme. Ela desenvolveu um sistema que lhe permitiu sincronizar um fonógrafo com um projector de filme, tornando possível adicionar efeitos sonoros e música aos seus filmes. O seu filme “Five oClock Tea (1905) foi um dos primeiros filmes a utilizar o som sincronizado.

Coloração
Guy-Blaché foi também uma pioneira na utilização da coloração em filme. Experimentou diferentes cores para criar humor e atmosfera nos seus filmes. O seu filme “Félix Mayol, Questions Indiscrètes (1905) é um exemplo precoce de tingimento a cores.

Recuemos, então, no tempo para conhecer melhor Alice Guy- Blaché. Nasceu em 1873 em França, filha de um livreiro e editor com negócios no Chile. Com a falência e a morte do pai em 1891, emprega-se como estenógrafa e secretária, primeiro numa fábrica de verniz e um pouco depois, em 1894, naquela que viria a ser em 1895 a empresa fotográfica de Leon Gaumont, Gaumont et Cie. É aqui que conhece todas as câmaras e material técnico disponível à época e os engenheiros da recentíssima técnica da imagem em movimento, Georges Demeny e Auguste e Louis Lumière e o próprio Leon Gaumont que em breve dará os seus contributos. Alice esteve presente na demonstração que os irmãos Lumière fizeram aos seus pares do recém inventado cinematógrafo, a 2 de março de 1895, onde exibiram o seu primeiro filme, “A Saída dos Operários da Fábrica Lumière”.   

Filha de um livreiro, amante de livros e narrativas, deslumbrou-se com o que viu e achou logo que a técnica da imagem em movimento muito mais do que fazer apenas um registo do real seria um ótimo instrumento para contar histórias. Na sequência deste deslumbre, pediu autorização a Leon Gaumont para filmar umas cenas e reza a lenda que ele autorizou na condição “do correio não se ressentir”! Estava dado o passo inaugural para uma carreira de cerca de vinte e cinco anos, dividida entre a França e os Estados Unidos da América.

Gradualmente, a contribuição de Alice para a indústria cinematográfica foi apagada. Nos primeiros anos do cinema, o plágio era endêmico e a manutenção de registos errática. Uma história oficial da Gaumont não a mencionou, os críticos de cinema atribuíram erroneamente os seus filmes a outros realizadores e nenhum se interessou pelas suas memórias até bem recentemente. Além do mais, como poucas das primeiras fotos sobreviveram, Alice foi incapaz de corrigir essas injustiças. Apesar das suas muitas contribuições para a indústria cinematográfica, o trabalho de Guy-Blaché foi largamente esquecido nos anos que se seguiram à sua reforma. Só nos anos 70 é que os historiadores de cinema começaram a redescobrir o seu trabalho e a reconhecê-la como uma pioneira no cinema. Hoje, ela é celebrada, ainda de forma parca, como uma das figuras mais importantes da história do cinema, e o seu legado continua e continuará certamente a inspirar cineastas em todo o mundo.

Alice viveu os seus últimos anos tranquilamente com a filha na França e na Suíça e, em 1964, voltou para os EUA, estabelecendo-se em Nova Jersey. Nunca deixou de tentar que a história fosse corrigida, escreveu as suas memórias, concedeu entrevistas e sucessivamente contactou historiadores da sétima arte. Em 1968, aos 94 anos, morreu num lar de repouso.

Alice Guy-Blaché foi uma verdadeira visionária no mundo do cinema. O seu trabalho pioneiro em narração de histórias, efeitos especiais, som sincronizado e colorido ajudou a moldar a indústria cinematográfica no que ela é hoje. O seu legado serve como lembrança das importantes contribuições que as mulheres deram ao cinema, e o seu trabalho continua a inspirar as novas gerações de cineastas.

https://www.youtube.com/watch?v=qS22S5MTHoI

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