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Cannes 2023: “Monster” de Kore-eda é ambicioso na forma mas um passo em falso na filmografia do realizador

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O segundo dia da competição em Cannes começou com uma das grandes estrelas do programa, Hirokazu Kore-eda apresentando o seu muito aguardado novo filme que dividiu o público em Cannes. O filme junta-se à lista dos menos conseguidos do realizador japonês.

Depois de conquistar a Palma de Ouro em 2018 por “Shoplifters”, e de ter apresentado aqui no ano passado, também em competição, o muito irregular “Broker”, o japonês Hirokazu Kore-eda parecia ser uma das grandes apostas para se juntar a Ruben Östlund no grupo dos realizadores que venceram duas vezes a Palma de Ouro. No entanto, ao final de “Monster”, o primeiro filme da competição apresentado na quarta à noite, fica a sensação de que também não será desta vez.

O filme começa contando a história de Saori (Sakura Andō), uma mãe solteira que, após a morte do marido, passa a criar sozinha o filho adolescente Minato (Soya Kurokawa). Mãe dedicada e protetora, ela começa a ficar preocupada com o filho quando ele começa a se comportar de forma estranha, sugerindo que algo possa ter acontecido na escola de Minato. Desconfiada que o filho está sofrendo bullying na escola, a mãe decide confrontar o corpo docente composta pela diretora e outros professores e descobre que o filho pode ter sido agredido fisicamente pelo jovem professor Hori (Eita Nagayama).

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No entanto, nada nem ninguém é confiável na narrativa desenvolvida por Kore-eda para contar essa história de aparências enganosas. Justo quando estamos convencidos, assim como a mãe de Minato, de que estamos na pista certa para desvendar o mistério por trás do comportamento estranho do menino, o diretor muda a perspectiva da história e tudo parece entrar em suspenso.

É admirável, de certa forma, a subversão que o diretor tenta elaborar no seu novo filme, desconstruindo a estrutura de seu conhecido estilo humanista e arriscando-se em uma espécie de experimentação formal que torna “Monster” difícil de se reconhecer ou ainda de se encaixar dentro de um gênero. Faz lembrar o mesmo tipo de experimento que Park Chan-Wook tentou, sem sucesso, com seu “Decision to Leave” também aqui no concurso principal no ano passado. E isso torna o filme bastante sedutor. No entanto, é aquele mesmo caminho desconhecido, de caos desorganizado, que ambos realizadores querem desenvolver, mas para que parece ter saído demasiado fora de controle.

Mas o problema de “Monster” não é apenas estrutural, mas também reside no seu guião truncado, que parece ter se sobrecarregado com os temas de solidão, moral, bullying e companheirismo que ameaçou querer desenvolver.
E ao tentar se utilizar de um único truque narrativo para contar um mesmo incidente por diferentes perspectivas e através de vários personagens, o filme acaba deixando uma desconfortável sensação de que seria necessário muito mais tempo para desenvolver todas essas abordagens de forma mais satisfatória.