O júri, presidido pela realizadora Greta Gerwig, atribuiu a Palma de Ouro da 77.ª edição do Festival de Cannes à comédia melancólica “Anora” do cineasta norte-americano Sean Baker.
Era apontado como um dos favoritos, juntamente com “Bird” de Andrea Arnold e “The Seed of the Sacred Fig” de Mohammad Rasoulof. “Anora” sucede assim ao drama francês “Anatomia de Uma Queda” que venceu a Palma de Ouro no ano passado.
“Anora” conta a história de “uma prostituta interpretada por Mikey Madison que, no espaço de uma semana, vive o sonho americano através de um conto de Cinderela, para logo depois ser esmagada sem piedade por ele; um choque de realidade capitalista que tanto tem de hilário como também de devastador. É o quarto filme do realizador em que trabalhadoras do sexo tomam o protagonismo, desestigmatizando-as no imaginário cultural, e conferindo-lhes uma dignidade que é de uma sensibilidade impressionante, sem jamais retratá-las como vítimas.”
Para o crítico Wellington Almeida, “Anora” explora “a complexidade de uma personagem multifacetada, revelando não apenas suas dificuldades, mas também suas aspirações e sua humanidade, num filme onde o humor e a tragédia colidem-se de forma complexa mas também acessível.”
Payal Kapadia recebeu o Grande Prémio por “All We Imagine as Light”, o primeiro filme indiano selecionado para competição em 30 anos. O Prémio do Júri foi atribuído à produção francesa “Emilia Pérez”, de Jacques Audiard, que recebeu ainda o prémio de Melhor Atriz.
O prémio da crítica internacional da secção competitiva foi para o iraniano “The Seed of the Sacred Fig”, de Mohammad Rasoulof, que venceu ainda o Prémio Especial do Júri.
Cinema português é premiado em Cannes
Apesar de não ter sido consensual pela crítica internacional, o realizador português Miguel Gomes venceu o prémio de Melhor Realização por “Grand Tour”, que combina fotogramas das viagens pela Ásia com cenas de filme filmadas em 16mm, criando um tempo cinematográfico contínuo, passa-se em Rangoon, Birmânia, em 1917. O filme conta a história de Edward, um funcionário público do Império Britânico, que foge da noiva Molly no dia do seu casamento. Durante as suas viagens surge o pânico pela melancolia. Mesmo assim, Molly, decidida a casar-se, divertida com a sua fuga, segue Edward nesta grande viagem pela Ásia.
“Grand Tour” foi o primeiro filme português a concorrer à Palma de Ouro em 18 anos. O realizador de “Tabu” (2012) e da trilogia de “As Mil e Uma Noites” (2015) regressou a Cannes 16 anos depois da sua presença com o filme “Aquele Querido Mês de Agosto” (2008).
Escrito por Miguel Gomes, Mariana Ricardo, Telmo Churro e Maureen Fazendeiro, o filme conta com Gonçalo Waddington e Crista Alfaiate nos principais papéis, num elenco composto ainda por Cláudio da Silva, Lang Khê Tran, Jorge Andrade, João Pedro Vaz, João Pedro Bénard, Teresa Madruga, Joana Bárcia, Diogo Dória, Jani Zhao, Manuela Couto e Américo Silva, entre outros.
O cinema português foi ainda premiado com uma menção especial da competição de curtas-metragens por “Bad For A Moment”, do realizador português Daniel Soares. A curta de 15 minutos foi produzida por O Som e A Fúria e Kid With a Bike, com o apoio do ICA.
Festival de Cannes 2024: Vencedores
Palma de Ouro
Grande Prémio do Júri
All We Imagine as Light, de Payal Kapadia
Prémio do Júri
Emilia Pérez, de Jacques Audiard
Melhor Realização
Miguel Gomes, por Grand Tour
Prémio Especial
The Seed Of The Sacred Fig, de Mohammad Rasoulof
Melhor Ator
Jesse Plemons, em Kinds Of Kindness
Melhor Atriz
Adriana Paz, Zoe Saldaña, Karla Sofía Gascón, Selena Gomez, em Emilia Pérez
Melhor Argumento
Coralie Fargeat, por The Substance
Outros Prémios
Camera d’Or
Armand, de Halfdan Ullmann Tøndel
Menção Especial
Mongrel, de Wei Liang Chiang & You Qiao Yin
Palma de Ouro Curta-Metragem
The Man Who Could Not Remain Silent, de Nebojša Slijepčević
Menção Especial
Bad For A Moment, de Daniel Soares
Prémio Golden Eye Documentary (ex-aequo)
Ernest Cole: Lost and Found
The Brink of Dreams
Queer Palm
Three Kilometers to the End of the World
Palme Dog
Kodi, em Palm Dog
Prémio FIPRESCI (competição)
The Seed of the Sacred Fig, de Mohammad Rasoulof
Prémio FIPRESCI Award (Un Certain Regard)
The Story of Souleymane, de Boris Lojkine
Prémio FIPRESCI Award (Secção Paralela)
Desert of Namibia, de Yoko Yamanaka