A Filmin Portugal estreia seis cópias restauradas do cineasta brasileiro Glauber Rocha, “figura central do movimento Cinema Novo que agitou o Brasil nos anos 60 e 70, deixando um legado de filmes ferozmente originais.”
A 2 de novembro chegam ao vasto catálogo da Filmin seis filmes do cinema brasileiro: “Barravento” (1962), “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (1964), “Terra em Transe” (1967), “António das Mortes” (1969), “O Leão de Sete Cabeças” (1970) e a “A Idade da Terra” (1980).
A primeira longa-metragem de Glauber Rocha, “Barravento” (1962), é uma obra poderosa que rompe com o cinema de tradição clássica e aponta para os temas centrais do Cinema Novo. Por meio de uma série de eventos quotidianos na vila de pescadores em Xeréu, Glauber Rocha acentua uma poderosa crítica à exploração social, enquanto expõe o abandono das comunidades marginalizadas. Esta obra é verdadeiramente singular na história do cinema brasileiro. A partir dela, tudo mudou irrevogavelmente, rompendo com o cinema de tradição clássica e apontando para os temas centrais do Cinema Novo.
“Deus e o Diabo na Terra do Sol” (1964), um dos filmes mais importantes de toda a história do cinema brasileiro, recentemente restaurado em 4K e que foi exibido na secção “Cannes Classics” em 2022. Um feito cinematográfico grandioso e universalmente aclamado, digno do título de obra-prima. Estreado num contexto político turbulento, impressionou o Festival de Cannes apesar de não sair com a Palma de Ouro. Assistiram, surpresos, a uma câmara instável que capturava um Brasil profundo, o microcosmo de um sertão que representava um sentimento continental que habitava todos os lugares desta terra sofrida. A epopeia sertaneja de Glauber Rocha é um legado incontornável que captura a vastidão do Brasil e o seu espírito inquebrável.
Entre política e estética, “Terra em Transe” (1967) explora a situação do Brasil e de países latino-americanos sob regimes de ditaduras militares, valendo a Glauber Rocha o reconhecimento internacional.
Em “António das Mortes” (1969), o realizador faz a continuação espiritual do seu filme anterior, “Deus e o Diabo na Terra do Sol”. Rocha continua a explorar temas como a violência, opressão e resistência no contexto histórico do Brasil. Longe da narrativa convencional que defendia o cinema mainstream, as imagens do cinema de Glauber Rocha remetem para uma poética diferente, regida por um simbolismo emaranhado e difícil, na articulação de histórias que transitam constantemente entre a realidade e o estado de sonho. Uma obra-prima do Cinema Novo amplamente reconhecida pela sua contribuição significativa para o cinema brasileiro e mundial, premiado no Festival de Cannes em 1969.
“O Leão de Sete Cabeças” (1970), a primeira produção no exílio de Glauber Rocha co-produzida entre o Brasil, França e Itália, é uma obra notável pela sua abordagem ousada à geopolítica, infundida com uma estética surrealista. Uma crítica contundente à complexa rede de relações políticas e económicas que envolvem o continente Africano e o papel nefasto das nações estrangeiras nessa região. Um exemplo marcante de como o cinema brasileiro, liderado por figuras como Glauber Rocha, pode transcender fronteiras nacionais e explorar questões globais como a colonização.
“A Idade da Terra” (1980), inspirado num poema de Castro Alves, o filme faz um retrato da situação política, cultural e racional do Brasil no final dos anos 70. O filme mostra-nos um Cristo pecador, um Cristo negro, um Cristo que seria um conquistador português e um Cristo guerreiro – os quatro “Cavaleiros do Apocalipse”. A obra assume um tom profético e religioso, e reconta o mito cristão por meio de símbolos e costumes da cultura brasileira.
Fonte: Filmin