Morreu esta quarta-feira (5 de fevereiro) uma das grandes lendas de Hollywood, o ator Kirk Douglas, aos 103 anos. A comunicação da morte foi feita pelo filho, o ator Michael Douglas: “É com enorme tristeza que eu e os meus irmãos anunciamos que Kirk Douglas nos deixou hoje, aos 103 anos”.
“Para o mundo inteiro ele era um lenda, um ator da era de ouro dos filmes que viveu bem os seus anos dourados, um humanitário cujo compromisso com a justiça e as causas em que acreditava estabeleceram um padrão para todos nós aspirarmos”, escreveu Michael Douglas na sua página de Facebook.
O ator norte-americano nasceu em 1916 e teve uma carreira longa que atravessou sete décadas do cinema, tendo participado em mais de 90 filmes. Kirk foi um dos melhores atores da história do cinema e uma lenda da era de ouro de Hollywood, destacando-se em filmes tão importantes como “Spartacus” (1960) e “Horizontes de Glória” (1957).
Em “Horizontes de Glória”, um dos mais belos filmes antiguerra, marca o início da relação de trabalho entre Kirk Douglas e Stanley Kubrick. O filme dá uma visão muito dura da guerra nas trincheiras durante a 1.ª Guerra Mundial. Conta a história de um pelotão que se recusa a cumprir uma missão suicida, ordenada pelo general francês Mireau. Este dá ordem aos seus oficiais de comando para escolherem três soldados para serem julgados e executados por cobardia. O Coronel Dax (interpretado por Kirk Douglas) é o oficial que os vai defender. “Horizontes de Glória” é uma obra-prima, caracterizada por um grande rigor e seriedade no tratamento de temas complexos. O filme foi proibido em alguns países, como a França. No entanto, o filme teve algum sucesso, tendo revelado Kubrick a Hollywood.
Douglas produziu o clássico “Spartacus”, com argumento escrito por Dalton Trumbo, e contratou Kubrick para realizar, depois de ter despedido Anthony Mann, que realizara já algumas cenas. Kirk produz sozinho este filme no qual é o ator principal. “Spartacus” é um filme colossal a cores e filmado em 70 mm que arrecadou cerca de 12 milhões de dólares, a maior receita de bilheteira de 1960. A boa relação entre Kubrick e Douglas não durou muito tempo, pois este não deixava Kubrick aplicar as suas ideias, tendo sido obrigado a filmar tal como Douglas ordenava.
Na época da “Caça às Bruxas” ou do Macartismo, nos anos 1950, vários atores, realizadores e argumentistas foram perseguidos e obrigados a denunciar nomes de amigos e colegas de trabalho que tivessem posições políticas próximas do comunismo. Foi uma época que destruiu carreiras de muitos profissionais em Hollywood. Kirk Douglas foi um dos heróis ao denunciar a famosa lista negra de Hollywood.
Estreou-se no cinema em 1946 com o film noir “O Estranho Amor de Martha Ivers”, de Lewis Milestone, mas foi na década de 1950 que Douglas se tornou na mais versátil e aventureira estrela da época. Da sua longa carreira destaca-se pela participação em dramas como “O Grande Ídolo” (1949), de Mark Robson, “Cativos do Mal” (1952), de Vincente Minnelli, “A Vida Apaixonada de Van Gogh” (1956), de Vincente Minnelli; em filmes históricos como “Vinte Mil Léguas Submarinas” (1954), de Richard Fleischer, “Os Vikings” (1958), de Richard Fleischer; em filmes noir como “O Grande Carnaval” (1951), de Billy Wilder, “História de um Detective” (1951), de William Wyler; em westerns como “A Caminho da Forca” (1951), de Raoul Walsh, “Homem Sem Rumo” (1955), de King Vidor, “Duelo de Fogo” (1957), de John Sturges, “Fuga Sem Rumo” (1962), de David Miller, “A Caminho do Oregon” (1967), de Andrew V. McLaglen. Personagens iradas, másculas, arrogantes, mas também heróis sensíveis que lutavam pela sua honra. Kirk Douglas demonstrou ser sempre bastante versátil e um dos melhores atores da sua geração.
Kirk, para além de ator e produtor, também realizou dois filmes, os westerns “Scalawag” (1973) e “Cavalgada dos Destemidos” (1975). Trabalhou ao lado de grandes estrelas de Hollywood como Burt Lancaster, John Wayne, Frank Sinatra, Laurence Olivier, Bruce Dern, Carroll O’Connor, George Kennedy, Jean Simmons, Lana Turner, Doris Day, Lauren Bacall, Anthony Quinn, Peter Lorre, Rock Hudson, Joseph Cotten, e Robert Mitchum.
Foi nomeado três vezes para o Óscar de Melhor Ator, mas nunca ganhou. Foi nomeado em 1950 por “O Grande Ídolo”, em 1953 por “Cativos do Mal” e em 1957 por “A Vida Apaixonada de Van Gogh”. Só em 1996 viria a receber o Óscar honorário por ter sido sempre “uma força criativa e moral na comunidade do cinema”.