Não é uma pausa face ao momento político que vivemos no nosso país, ao contexto pré-eleitoral. Ver no Cine Clube de Viseu o premiado documentário, “No Other land”, acabou por constituir uma espécie de obrigação moral e um dever político que tudo está relacionado com a atual conjuntura política. Foi a humanidade que coube ali inteira naquele ecrã a estilhaçar toda a distância entre o espectador e o “espetáculo”, convertendo-nos à cumplicidade de “testemunhas”, e é a nossa responsabilidade enquanto membros desta humanidade que nos veda a possibilidade de ignorarmos ao que assistimos.
E foi muito mais do que um murro no estômago ou uma granada na cara. Foi simultaneamente também a impotência e a revolta toda. A incredulidade e o nó na garganta. Percebo que muitas vezes não saibamos o que fazer diante da violência que todos os dias, a todas as horas, a todos os minutos, se abate sobre os palestinianos. Meio mundo que nos separa. A experiência de uma dor e de um quotidiano que a maior das empatias não chega sequer a tocar. O paradoxo reside aí. É que, por um lado, a Palestina é em toda a parte, e, por outro lado, nunca saberemos o que é de facto a Palestina sem pertencermos ao povo que a ela pertence. Que reclama o simples direito a existir enquanto a ordem mundial baseada em regras se desfaz naquela parte do mundo sob a batuta do Estados Unidos da América e o braço armado do Estado de Israel. Mais tarde, quando fizermos a genealogia de um mundo onde instituições supranacionais como a ONU ou o Tribunal Penal Internacional serviam de bússola descobriremos no genocídio em Gaza o princípio do seu fim. Mas, mais importante do que isso, descobriremos também o poder infindável da resistência.
Aquilo a que os colonos, a justiça israelita, o seu exército, a sua sociedade civil, o seu poder político, sujeitam os palestinianos desde os primórdios da ocupação é, na sua radicalidade mais violenta, aquilo contra o qual temos de continuar a lutar, que na verdade nunca paramos de lutar. Mesmo nós, com todo o nosso privilégio contingente, relativo e precário. A solidariedade para com os palestinianos é a solidariedade contra o colonialismo, o racismo, o capitalismo e o fascismo. É também o aqui e agora de um combate a que todos somos convocados contra as forças mais reacionárias que nos dias de hoje nos ameaçam. A vergonha do genocídio na nossa era corresponde à cobardia política das elites políticas do status quo submissas aos interesses dos mais poderosos. E se queremos de facto arrepiar caminho do abismo da humanidade não podemos continuar a legitimar politicamente quem é cúmplice da destruição daqueles que deveriam ser os laços mais básicos a entrelaçar-nos ao resto do mundo e suas gentes.
O futuro está do lado da Palestina ainda que o Estado de Israel não o saiba. Do mesmo modo que o futuro está do lado das mulheres e dos homens comuns que no seu mais modesto contributo não cedem espaço ao neofascismo dos Trumps, dos Musks, dos Orbans, dos Putins, dos Venturas desta vida.
De facto, na Palestina cabe o mundo inteiro. De facto, não temos outra terra, o nosso tempo é agora.
 
					 
			 
						 
				 
				 
			 
						
 
						 
					

 
										 
									 
										 
									 
										 
									 
										 
									 
										 
									 
										